Tarsila do Amaral ganha retrospectiva no MoMA

Figura onipresente no imaginário latino-americano e essencial para o Modernismo no Brasil, Tarsila do Amaral (1886-1973) recebe agora sua primeira exposição monográfica no MoMA, organizada por Stephanie D’Alessandro e Luis Pérez- Oramas (conhecido no Brasil por sua curadoria da 30ª Bienal de São Paulo, em 2012). “Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil” [Inventando a Arte Moderna no Brasil] concentra-se na producão da artista a partir da década de 1920 e inclui cerca de 120 obras em diversas mídias, como pinturas, desenhos, cadernos de esboços e fotografias, provenientes de acervos nos EUA, América Latina e Europa.

A exposição passa em revista a carreira de Tarsila, desde as primeiras obras parisienses até as pinturas modernistas emblemáticas que produziu após seu retorno ao Brasil, culminando nas suas obras de grande formato, com cunho social, do início da década de 1930. No cerne da exposição destaca-se o reencontro de três obras marcantes – A negra (1923), Abaporu (1928) e Antropofagia (1929) –, as quais não haviam sido expostas juntas na América do Norte desde 1993, quando fizeram parte da exposição “Artistas Latino-Americanos do Século XX”, no MoMA.

Formação e Obras de Juventude

Nascida em 1886 no município rural de Capivari, no interior do Estado de São Paulo, Tarsila cresceu em meio à burguesia fazendeira. Ela estudou piano, escultura e desenho antes de mudar-se para Paris em 1920, para frequentar a Académie Julian. Voltou ao Brasil em junho de 1922, quando foi apresentada por Anita Malfatti ao núcleo do movimento modernista: os poetas Mário de Andrade, Paulo Menotti del Picchia e Oswald de Andrade (com quem foi casada entre 1926 e 1929). Juntos formaram o Grupo dos Cinco, uma roda que discutia poesia e o estado das artes no Brasil. No fim do ano, Tarsila retornou a Paris.

Durante o ano de 1923, Tarsila estudou nos ateliês de mestres cubistas franceses como André Lhote, Albert Gleizes e Fernand Léger, o que a levou à conclusão de que “o cubismo é o exercício militar do artista. Todo artista, para ser forte, deve passar por ele.” Integrando os seus novos conhecimentos, começou a formular o que viria a ser o seu estilo característico de pintura, empregando linhas sintéticas, volumes sensuais e uma suntuosa paleta de cores para retratar paisagens e cenas do cotidiano. Em uma carta à sua família nesse ano, Tarsila relatou: “Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora de minha terra. … Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo”. De volta ao Brasil em 1923, Tarsila buscou inspiração na terra, paisagens e povo do seu país, mesclando as inovações da vanguarda europeia e a sensibilidade do vernáculo brasileiro para produzir um conjunto distinto de obras tão pessoais quanto originais.

Da Antropofagia ao Marxismo

Uma das obras centrais da exposição é Abaporu, que Tarsila pintou em 1928 para Oswald, mostrando uma figura alongada com um cacto. O título combina duas palavras do idioma dos índios tupi-guarani: aba (homem) e poru (“que come carne humana”). Essa tela inspirou Oswald a escrever o Manifesto Antropófago. Reproduzida em maio do mesmo ano na primeira edição da Revista de Antropofagia, a pintura de Tarsila rapidamente se tornou o estandarte de um movimento artístico transformativo que imaginou uma cultura brasileira emergindo da digestão simbólica – ou do “canibalismo” artístico – de influências externas.

À medida que o Brasil afundava na ditadura nacionalista de Getúlio Vargas, Tarsila, fascinada pelo que ocorria na União Soviética, passou a identificar-se politicamente com o Marxismo, chegando a ser presa por um mês por suas convicções esquerdistas, em 1930. Depois desse episódio, a artista abandonou a representação imaginativa da natureza e adotou uma forma de expressão com temática social. Um exemplo icônico desta fase é a tela Operários (1933), incluída na mostra, um retrato em grupo de operários com as chaminés de uma fábrica como fundo, salientando a diversidade da sociedade brasileira.

“Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil”
Abertura: 11 de fevereiro de 2018
Visitação: até 03 de junho de 2018; sábado a quinta, 10h30 – 17h30; sexta, 10h30 – 20h
MoMA: 11 W 53 Street, Nova York. Ingresso: US$ 25,00. Grátis às sextas, a partir das 16h

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