5 Residências Artísticas para produzir em vivo contato com a natureza

Na contramão do caos da cidade, as residências artísticas rurais e florestais podem proporcionar experiências regeneradoras

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Lab Verde
Intervención Fusion, de Bianca Lee Vasquez, realziada na Residência Artística Lab Verde

Com a vida na cidade voltando ao seu ritmo frenético, a produção artística muitas vezes precisa de outro tempo para criação. Pensando nisso, selecionamos 5 residências artísticas multidisciplinares ideais para quem quer trabalhar com o corpo presente na natureza. São residências artísticas que se organizam de forma independente e em diálogo com os territórios em que se encontram.

Localizadas no sudeste, nordeste e norte do Brasil, cada proposta de residência artística é única e apresenta particularidades específicas que variam de acordo com o bioma em que se encontra. E diferente de muitos projetos que são voltados apenas para artistas, elas também recebem curadores, produtores culturais e agentes da arte, além de profissionais de outras áreas conforme a proposta da residência. O contato com a floresta, montanha, praia e cachoeira são alguns de seus atrativos primordiais, bem como as relações humanas que elas proporcionam entre os próprios residentes.

Casero Residência
Expedição Agulhas Negras, Casero Residência
Casero Residência
Osiel Magalhães na Casero Residência

Casero Residência é uma iniciativa que propõe projetos e vivências no campo da arte, da paisagem e da natureza. Suas residências artísticas acontecem no Parque Nacional de Itatiaia e na região da Serra da Mantiqueira, na tríplice fronteira entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Trabalhando muitas vezes em parceria com artistas regionais, as imersões e vivências buscam estreitar as relações entre o imaginário cultural local e toda sua biodiversidade.

Idealizada em 2017 pela artista fluminense Patrcia Stagi, a Casero Residência tem como principal objetivo mediar os processos de criação que acontecem em diálogo direto com a natureza. Em suas palavras, “As residências são voltadas para a integração do artista, do biólogo, do curador, do fotógrafo e outros com a paisagem local. E para isso a gente propõem algumas dinâmicas que estimulam a contemplação, a inspiração e a troca entre os residentes. O programa todo é voltado para a relação do corpo com a natureza”.

Com dois formatos de residência artística florestal, as imersões acontecem em grupo, ao longo de uma semana e de acordo o calendário das estações do ano, ou de forma individual, conforme as necessidades do projeto do artista residente. Ambos os formatos partem do ócio e da criação espontânea, tendo como eixo três conceitos primordiais: contemplar, refletir e criar. As inscrições para as imersões individuais, nomeadas de Intervalo, estão sempre abertas e acontecem em uma casa modernista localizada dentro do Parque Nacional de Itatiaia.

Além das residências artísticas, a Casero Residência também atua na produção de projetos de arte na região, promovendo o patrimônio material e imaterial da Serra da Mantiqueira e das cidades do pé da serra. Como por exemplo, o Circuito Resende Cultural e o Projeto Manta, que visa a articulação de artistas regionais com processos criativos mediados pela paisagem local.

Terra Afefé
Terra Afefé
Terra Afefé
Rafa Black durante a imersão Apaziá em Terra Afefé

Terra Afefé é um projeto de arte e bioconstrução que recebe periodicamente imersões artísticas em Ibicoara, na Chapada Diamantina, Bahia. Idealizado em 2018 pela artista baiana Rose Afefé, a proposta parte da ideai da construção de uma microcidade inspirada em sua infância, que recebe pessoas de passagem e cria relações entre aquelas que vem de fora e as que vivem no local. Nas palavras de Rose Afefé “A intenção é criar uma possibilidade mais afetuosa e amorosa de existência, para além daquilo que é romântico”.

Partindo do afeto, as imersões de Terra Afefé têm como objetivo movimentar corpos dissidentes para que estes ocupem espaços até então reservados para corpos hegemônicos, bem como afirmar um território de arte contemporânea à margem das metrópoles e dos grandes centros econômicos. É também priorizada a presença de artistas negros, pessoas com deficiência, lgbtqia+, indígenas e com poucos recursos financeiros.

A partir de convocatórias abertas e convites, as imersões acontecem periodicamente e têm mediação de Rose Afefé, muitas vezes acompanhada por diferentes profissionais da arte em seu sentido amplo e transdisciplinar. Em todas as imersões é comum que haja atividades com o barro, convidando os residentes a trabalharem juntos em algum projeto de bioconstrução, a fim de deixar uma contribuição não poluente para a cidade.

Atualmente Terra Afefé está com três chamadas abertas: 1) Paredão é uma imersão artística que acontecerá na virada do ano e será realizada em parceria com o multiartista Paulilio Paredão, tendo como eixo a música e a dança; 2) Reconstruir é uma proposta de imersão artística mediada por Rose Afefé que acontece em janeiro e fevereiro de 2022 e visa resgatar o fazer construtivo a partir de práticas artísticas sem julgamentos entre o certo e o errado; 3) Coexistir é uma imersão artística que acontecerá na segunda quinzena de janeiro de 2022 e será realizada em parceria com a pesquisadora Nathalia Grilo, a fim de estimular os fazeres intuitivos e genuínos em convivência com a natureza, a comunidade, o corpo e a ancestralidade.

Lab Verde
Trabalho de Renata Padovan, Lab Verde
Lab Verde
Torre de observação, Lab Verde

Lab Verde é uma plataforma de produção de linguagem sobre o meio ambiente, que apresenta desde 2013 um programa de residência artística na Floresta Amazônica, em Manaus. Em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, o programa oferece imersões dentro da floresta para grupos de 15 artistas (locais, nacionais e internacionais) trabalharem em campo nas bases científicas das reservas ambientais. Além da produção artística, o projeto também fomenta a formação e capacitação dos residentes na área de ecologia, contando com a interlocução de pesquisadores do INPA, acadêmicos da Universidade Federal da Amazônia e intelectuais indígenas.

A residência artística é voltada para artistas em seu sentido amplo e transdisciplinar, recebendo cientistas, antropólogos e outros. Nas palavras de Lilian Fraiji, curadora e idealizadora do projeto, “Nós oferecemos uma série de mediações das áreas de história natural, antropologia, biologia, física, arte, arte-ecologia e ativismo. É uma residência bem diferenciada, pois o artista não vem só para criar, ele vem para estudar e ter acesso às últimas pesquisas de ponta que estão sendo desenvolvidas aqui na Amazônia”.

Lab Verde tem como foco pensar o que é a Amazônia, as ecologias do mundo e as questões que perpassam o antropoceno. Partindo sempre de propostas interdisciplinares, as residências artísticas apresentam durações e locais que variam conforme a programação em curso. Importante mencionar que ademais das imersões, a plataforma também realiza eventos, publicações, exposições e festivais. Para o ano que vem, além das residências artísticas realizadas na floresta amazônica com interlocução do INPA, o Lab Verde fará uma imersão na Patagônia e uma parceria com o Se Rasgum, festival de música amazônica.

Residência São João
Residência São João
Residência São João
Somsocosmos, Residência São João

Residência São João é um projeto voltado para experiências em arte dentro de uma fazenda agroecológica, localizada na região serrana do Rio de Janeiro. Trabalhando com alguns formatos, as imersões acontecem por meio de convites e chamadas abertas, em grupo ou de forma autônoma. Os programas são multidisciplinares e algumas residências são temáticas, como a Somsocosmos, que é voltada para músicos e artistas cujos trabalhos são permeados pelo som.

Idealizado pelo artista Antonio Sobral em 2012, a Residência São João tem como objetivo de estreitar os laços entre agroecologia, arte, música, comunidade local e produção editorial. Em suas palavras, “Temos também a Deep Editora, que trabalha com a residência publicando patrimônio imaterial deste território. São publicados desde obras ficcionais, que em seu relato tem haver com o contexto local, até herbários de plantas medicinais, que falam sobre os conhecimentos das plantas. São projetos que nascem durante as residências e que posteriormente são publicados”.

Todas as imersões são guiadas por um calendário colaborativo construído pelos próprios residentes, onde é compartilhado o que cada um quer aprender e ensinar. De acordo com o calendário, as atividades são elencadas, a fim se ser o mais horizontal possível. Outra característica da Residência São João é a presença de terapeutas ou pessoas que trabalham com o corpo nos grupos, a fim de aproximar as pessoas e criar um ambiente mais afetuoso. Vale ainda mencionar que este é um projeto idealizado e realizado por artistas, em conexão com as políticas locais e a participação cidadã na produção cultural do território. Agroecologia, preservação ambiental, cultura e educação são os pilares fundamentais do projeto, bem como a experimentação e o processo artístico.

Sobre as inscrições, estão abertas as chamadas para quarta edição da Somsocosmos, que acontecerá em abril de 2022, e para a Casa Figueira, o novo espaço da Residência São João, que recebe a partir de fevereiro de 2022 residentes que podem ficar de um a três meses trabalhando e convivendo  na fazenda.

Kaaysá
Kaaysá
Kaaysá
Vista do ateliê coletivo, Kaaysá

KAAYSÁ é uma residência artística que fica alocada em uma pousada inativa na praia de Boiçucanga, no litoral sul São Paulo. Localizada numa região de mata Atlântica, o espaço fica a poucos metros da praia e da cachoeira, a três horas de carro de São Paulo e a trinta minutos de uma aldeia indígena do povo Guarani. Com capacidade para receber até 30 residentes, as imersões acontecem com uma média de 15 artistas por imersão.

Idealizada em 2017 pela escritora Lucila Manto e pela galerista Lourdina Jean Rabieh, o projeto já recebeu mais de 400 residentes, entre artistas, escritores, músicos e curadores. Como menciona Lourdina, “A residência é multidisciplinar e temos espaço para atender quase todas as disciplina. Temos marcenaria, um formo de cerâmica, um estúdio de gravação de música, cozinhas coletiva, ateliês coletivos e vários outros espaços que podem ser usados como ateliês livres”.

As residências acontecem com acompanhamento de curadores e recebem tanto artistas locais, como nacionais e estrangeiros. Dentro do projeto, existem várias modalidades de residência. A residência mais comum do KAAYSÁ tem duração média de um mês e é acompanha por um curador, além de receber durante o período convidados especiais como galeristas, outros curadores, colecionadores e artistas. Existe também a possibilidade do artista escolher o período de sua própria residência e desenvolver de forma autônoma seu projeto, variando de uma semana até três meses. O projeto também recebe grupos de residência que já vem formado, seja por meio de coletivos de artistas ou de grupos de estudo, variando de uma a duas semana.

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