A importância da cidade e do urbano na obra de Carmela Gross

Artista desenvolve obras que interagem com o espaço e com o público/transeunte; ela apresenta individual na Galeria Vermelho e em setembro terá instalação no MAM-Rio e quatro obras na Bienal de SP

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Carne, 2006.

Nascida Maria do Carmo Costa Gross, em São Paulo, na metade do fevereiro de 1946, Carmela Gross se destaca como uma das artistas mais importantes no cenário brasileiro contemporâneo. Formada em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), na turma de 1965 e 1969, ela desenvolveu ao longo de sua trajetória trabalhos que realiza em linguagens múltiplas, tendo hoje suas instalações em neon como alguns de seus trabalhos mais conhecidos, mas também atuando fortemente com desenho, pinturas, litografia, carimbos, xerox e videoarte, dentre outros.

Se vende, 2008.



Para além das mídias que utiliza em sua criação, o conceito que mais tem trabalhado ao longo desses anos é algo bastante singular no reconhecimento de sua produção, especialmente ao trabalhar obras em escalas maiores realizadas para comporem o espaço urbano, sempre trazendo um tom crítico que se desenrola a partir de ideias sobre a arquitetura e a história urbana do local onde se inserem. Em conversa com Douglas de Freitas em junho de 2017, a artista comenta “A cidade é o material que perpassa e atravessa o meu trabalho. É o seu material e também sua razão crítica” e também “As pessoas são parte do teatro urbano. A cidade é um canteiro de obras. Cada sujeito que trabalha sabe as operações que tem que fazer. O material bruto vira construção e constituição desse corpo social. Assim, também, a minha produção vai se constituindo desses elementos, desde os mais simples, os mais banais da nossa vida na cidade e também… dos imigrantes, passantes, figurantes, das Dolores, Darlenes, Olivias e Auroras… O meu trabalho é mais um entre tantos outros trabalhos”.

Nuvens, 1967

No início de sua produção, a artista experimentou um momento onde estavam em alta discussões acerca de novos meios, sobre a aproximação da arte com a vida e sobre apropriação visual de elementos da cultura de massa. Em 1967, durante seu ciclo como estudante universitária, ela vai tomando conhecimento dessas questões, e realiza a escultura Nuvens, um trabalho feito de seis peças de madeira esmaltadas em tinta azul e estruturadas em dimensões variáveis.

Durante esse momento, ela também vai recortando e trazendo para suas criações pontos que rodeiam arte pop e novas vanguardas. A obra Nuvens, que lembra desenhos em quadrinhos acende lembranças, um característica no trabalho da artista que Ana Maria de Moraes Belluzzo pontua no livro ARTISTAS brasileiros na 20a. Bienal Internacional de São Paulo: “A familiaridade que descobrimos em relação com os rabiscos da Carmela procede seguramente da fluência dos gestos curvos e da afetividade da forma, não provém do terreno das idéias. Carmela provoca lembranças ancestrais”.

LUZ DEL FUEGO II, 2018

Hoje, a artista tem em sua produção o conceito de “trabalhar-na-cidade”, no qual pensa todo um conjunto de operações que começa na concepção do trabalho, atravessa o processo de produção e chega na montagem no lugar de exibição. Todo esse conjunto enfatiza “a relação dialética entre a obra e o espaço, entre a obra e o público/transeunte”, como já citado anteriormente. Essas interações estarão bastante presentes na exposição fendas, fagulhas, que está em cartaz a partir de 11 de agosto na Galeria Vermelho, em São Paulo, onde a artista apresenta uma seleção de trabalhos que foram criados a partir de “observações, convívio, e interação de Carmela Gross com a cidade, com a arquitetura e o ambiente urbano”.

A exposição irá ocupar todos os espaços da galeria, as duas salas principais e também a fachada, sendo composta por quatro obras, das quais três são inéditas: X, Fonte Luminosa e Cabeças, produzidas em 2021. Já o vídeo Luz del Fuego II, de 2018, também estará na exposição. Este trabalho conta com imagens de incêndios ocorridos em instituições culturais nos últimos anos em diálogo com imagens de guerras e conflitos.

Cabeças, 2021
Fonte luminosa, 2021.

Ao longo do período desta individual, que se encerra em 18 de setembro, a artista também irá apresentar uma instalação inédita que será inaugurada no dia 4 de setembro no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio). A obra em grandes dimensões será montada na parede externa do museu carioca. Gross também terá uma participação marcante no decorrer das atividades da 34ª Bienal de São Paulo que se inicia no mesmo dia, sendo outra instalação inédita, intitulada Boca do Inferno, e outras três obras que apresentou na 10ª Bienal de São Paulo, de 1969.


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