Artistas brasileiros que misturam arte e moda

Tempo de leitura estimado: 4 minutos

Arte e moda sempre estiveram entrelaçadas e conectadas. As duas áreas se influenciam de maneira mais palpável desde o advento dos movimentos modernos. Na década de 1920, por exemplo, Coco Chanel colaborou com Pablo Picasso – juntos, trabalharam em figurinos e cenários para o Ballet Russe, de Sergei Diaghilev. Mas nem sempre as colaboração são do artista que vai para a moda, emprestando estampas ou dividindo criações. Muitas vezes os próprios artistas criam moda como arte, inaugurando um campo de atuação muito singular. Nessa pesquisa, o ARTEQUEACONTECE preparou uma lista de artistas brasileiros que misturaram a moda com a arte, e a arte com a moda.

 

 

Flávio de Carvalho

Flavio de Carvalho foi um dos mais complexos artistas da história recente do país. Engenheiro, arquiteto, pintor, jornalista e até figurinista, Flávio criava desenhos de força incomparável, criava móveis e cerâmicas decorativas, realizava projetos – chegou a concorrer com um projeto para a sede do governo do Estado de São Paulo e foi responsável pela sede da Fazenda Capuava, edificação ousada e vanguardista – circulava textos em jornais e livros e até elaborava cenografias e figurinos para balés e peças teatrais. Entre seus projetos que flertavam com a moda podemos citar os figurinos para o bailado “A Cangaceira”, que seria encenado na celebração do IV centenário de São Paulo, e a “performance” intitulada “Experiência no. 3”, de 1956, na qual propôs a invenção de um novo um traje tropical para homens que vivem na realidade tropical brasileira. Este último trabalho foi o auge de uma longa reflexão sobre os significados da moda e da roupa como forma de enquadrar a sociedade em determinados tipos de atitudes. Flávio vestiu a roupa que criou e caminhou pelas ruas da cidade, causando muita polêmica por usar saia, um blusão aberto nas mangas, meia arrastão e sandália. 

 

 

Laura Lima

Várias de suas obras já integravam a categoria “de vestir”, mas um dos projetos mais recentes de Laura Lima estava inteiramente integrado com a moda: no Octógono da Pinacoteca de São Paulo, a artista mineira radicada no Rio de Janeiro montou a instalação “Alfaiataria”, na qual trazia profissionais da costura para o espaço para realiza um trabalho diário de interpretar seus desenhos em peças têxteis. “Temos uma mulher alfaiate fazendo parte, também há um boliviano que está no projeto. É preciso ter uma delicadeza social, observar o contexto onde a obra está inserida”, disse a artista à época em entrevista para o ARTEQUEACONTECE. Outro de seus projetos que também flertava com a moda foi “Novos Costumes”, no qual criou conjuntos de vestimentas de materiais inusuais como vinil e plástico. Os modelos também eram completamente desfuncionais – ora atrapalhavam quem vestisse e quisesse andar, ora possuíam elementos absurdos como rabos, ora geravam interligações com outras pessoas também vestindo as peças. Os Novos Costumes se concretizavam como esculturas vestíveis, e questionavam todo o estatuto da moda em relação ao corpo, ao uso, ao comércio, etc.

 

 

Iran do Espírito Santo

Um dos mais reconhecidos artistas conceituais das gerações contemporâneas basileiras, Iran do Espírito Santo estava envolvido em um projeto sobre e arte e moda quando, frustrado pelas amarras institucionais e limitações criativas, resolveu avançar sobre o campo da moda sozinho. Junto de sua irmã Marta Espírito Santo, passou a aplicar seu pensamento plástico-escultórico às modelagens de roupas, sem perder as referências estéticas que marcam sua carreira e seu corpo de trabalho. Criou, assim, uma coleção de roupas que são verdadeiras esculturas vestíveis – as cores, em sua maioria neutras, refletem seu uso do preto, branco e cinza em suas obras; as estampas partiriam de trabalhos seus, das pinturas degradê às esculturas e instalações. No instagram é possível ver as peças criadas por Iran e materializadas por Marta, que formam não uma coleção, mas um conjunto atemporal de obras de vestir.

 

 

 

Monica Nador / JAMAC

Mônica Nador se destacou como pintora nos anos 80 e a partir do final dos anos 90, passou a produzir grandes murais em comunidades periféricas, uma ação intitulada “Paredes Pinturas”. Participou de exposições importantes no circuito nacional e internacional e é considerada uma das grandes artistas mulheres de sua geração no Brasil. Desde 1999 Nador vem trabalhando com a comunidade do Jardim Miriam na criação de obras têxteis, estampas, stêncils e gravuras. Em 2005 fundou no bairro o JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube, associação que vem desde então expandindo e promovendo processos artísticos e criativos para grupos que frequentemente se encontram distantes – geográfica e socialmente – do circuito tradicional da arte contemporânea. O projeto funciona de maneira continuada com ações pontuais em exposições e eventos artísticos, sempre propondo uma integração entre a comunidade, as oficinas, o público e o contexto expositivo. Depois da realização de oficinas de estamparias, o grupo e a artista organizaram um desfile na abertura de uma exposição do projeto, exibindo roupas criadas com as estampas resultantes dos workshops.

 

 

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support