Claes Gabriel usa a arte para denunciar a violência racial nas Américas

Em suas telas, o artista aborda a Revolução Haitiana, a crescente crise de migração global e brutalidade policial nos EUA

The Ouroboros de Claes Gabriel
The Ouroboros

Na obra The Ouroboros o artista haitiano Claes Gabriel  representa um negro de traje listrado (típico de algumas prisões) amarrado a um policial branco. A dupla está emoldurada por um horizonte urbano e chamas vermelhas. A cena te lembra alguma coisa? No meio dos protestos que toma conta dos EUA por causa do assassinato de George Floyd, vale lembrar de algumas histórias diferentes, como a da Revolução Haitiana, onde a supremacia branca não venceu e não conseguiu construir uma sociedade na qual pessoas racistas ditam as regras e, protegidos pelo Estado, cometem crimes indefensáveis. 

Como a única nação nas Américas fundada por ex-escravos que lutaram com sucesso por sua liberdade e derrubaram seus opressores e captores, o Haiti existe como um ponto fora da curva do poder colonial. Os líderes brancos da época pensavam que a Revolução Haitiana tinha tanto potencial para inspirar movimentos semelhantes de auto-emancipação que as nações coloniais tentaram censurar sua própria existência – os EUA, por exemplo, se recusaram a reconhecer a nação haitiana até depois da Guerra Civil. E é essa história inspiradora o ponto de partida para as pesquisas do artista Claes Gabriel.

The Haitian Revolution, de  Claes Gabriel
Haitian Revolution

A pintura Haitian Revolution, por exemplo, é inspirada no livro An Historical Account of the Black Empire of Hayti que continha os primeiros retratos do líder revolucionário haitiano Toussaint L’Ouverture divulgado entre os europeus. O autor e artista da publicação foi Marcus Rainsford, um soldado irlandês do exército britânico que visitou o Haiti no final do século 18. Muito diferente da imagem que temos do resto das Américas, a tela de Gabriel apresenta a derrubada da liderança branca com alegria e naturalidade.

Boat People
Boat People

Boat People tem um título que faz referência ao termo pejorativo, usado para descrever refugiados haitianos e outros requerentes de asilo em todo o mundo. Na cena, o artista coloca vários corpos negros com olhos de diferentes cores. A ideia? Evocar a universalidade da própria imigração – servindo não apenas para conectar o passado e o presente, mas também para lembrar o espectador da profundidade da história por trás de cada cultura.

Gabriel vive na Filadélfia pintou The Ouroboros para falar sobre a violência racial presente desde sempre na História das Américas. No entanto, nela os perseguidos estão em pé de igualdade com o seu perseguidor – como na Revolução Haitiana. O artista coloca os braços dos personagens entrelaçados formando um sinal do infinito, ou um ouroboros, o antigo símbolo de uma serpente comendo o próprio rabo. Eles estão presos em um sistema destrutivo. Ainda assim, o homem negro da pintura sorri para o policial, enquanto o policial branco franze a testa – com seu distintivo orgulhoso, ele não vê o conhecimento secreto do outro de que seu poder não é eterno nem absoluto. 

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