Coletiva na Bergamin & Gomide parte de têxteis feitos na por culturas andinas

A mostra tem textos críticos de Paul Hughes e Tiago Mesquita; galeria apresenta também, na Casa Flávio de Carvalho, uma individual com obras recentes da artista Maria Lira Marques

Madalena dos Santos Reinbolt, Sem título [Untitled], Décadas de 1960-1970

Uma nova exposição na Galeria Bergamin & Gomide, em São Paulo, busca reunir peças têxteis produzidas por povos da região dos Andes (Inca, Huari e Nazca), colocando-as em diálogo com obras de artistas contemporâneos da América Latina e com artistas que experimentaram formas geométricas das vanguardas do século XX. Sob o título Nosso Norte é o Sul, a exposição estará aberta ao público até o dia 30 de outubro e traz textos críticos do pesquisador e colecionador da produção têxtil pré-colombiana Paul Hughes e do crítico de arte e professor Tiago Mesquita.

Os têxteis andinos pela sala de exposição estão relacionando-se com trabalhos de cerca de 30 artistas, sendo eles, em ordem alfabética Afonso Tostes, Alfredo Volpi, Angelo Venosa, Aluísio Carvão, Amilcar de Castro, Antonio Dias, Celso Renato, Delba Marcolini, Emanoel Araújo, Fátima Neves, Franz Weissmann, Gabriel Orozco, Héctor Zamora, Hélio Oiticica, Ivan Serpa, Jandyra Waters, Joaquín Torres García, Jorge dos Anjos, Judith Lauand, Lygia Clark, Lygia Pape, Madalena dos Santos Reinbolt, Magdalena Jitrik, María Freire, Marioly Rosas Figueroa, Milton Dacosta, Mira Schendel, Montez Magno, Pedro Reyes, Rubem Valentim, Sergio Camargo, Sheroanawe Hakihiiwe, Vicente do Rego Monteiro e Willys de Castro.

Esta exposição é um projeto que está sendo pensado há dois anos pela galeria brasileira junto a Mesquita e à galeria de Hughes, localizada em Londres. Segundo a Bergamin & Gomide, a intenção desta mostra é “promover a arte do nosso continente, destacando a produção local e latino-americana para um público amplo e plural”.

Um catálogo bilingue especial feito para acompanhar a exposição traz imagens das obras, algumas que se expandem ao serem desdobradas, e os textos críticos. Em seus escritos, Hughes dá um panorama dessa produção andina e faz uma aproximação com o antigo e moderno, destrinchando um por um dos fazeres desses povos ao longo do texto. “Aficionados, artistas e espectadores novatos dessas tapeçarias misteriosas são coletivamente inspirados a levantar o véu que esconde esses antigos trabalhos, que nos remetem às nossas origens. As sociedades andinas usavam as vestes como um meio funcional de expressão fundamentalmente voltado a ofertas cerimoniais aos deuses, aos seus ancestrais e aos mortos, assim como eram valiosos presentes para os vivos”, ele destaca logo na introdução.

Enquanto isso, o texto de Mesquita acerca as peças andinas dos trabalhos de outros artistas que estão na mostra, como Mira Schendel e Lygia Clark, estabelecendo ligações e trocas entre eles. “Nosso Norte é o Sul pretende colocar a riqueza dessa produção ao lado de outras formas de pensar o espaço concebidas por diferentes criadores da América Latina. Assim, artistas de tradições andinas são unidos a artistas modernistas e outros a fim de se apresentar diferentes usos de formas simples, geometrizadas, para pensar a relação entre espaço, tempo e projeto, por exemplo”, pontua.

Maria Lira Marques na Casa Flávio de Carvalho

Artista da região do Vale do Jequitinhonha, onde nasce e vive até hoje, Maria Lira Marques (ou Lira Marques, como é conhecida) tem sua primeira exposição individual na capital paulista em mostra organizada pela Bergamin & Gomide em seu novo espaço, a Casa Flávio de Carvalho. Intitulada Maria Lira Marques: Obras Recentes, tem trabalhos nos quais a artista utiliza o barro, criando texturas em uma paleta de cores muito única característica de sua região. A exposição é acompanhada por um texto crítico assinado pelo curador-chefe do El Museo del Barrio, Rodrigo Moura.

No texto Eu sigo lutando…, o curador traça a trajetória da artista desde sua infância e como ela se relaciona com seu território, apontando que “poéticas como as de Lira não podem mais ser enquadradas como casos isolados ou dentro de uma divisão esquemática ente artistas populares e eruditos. Elas pertencem a uma compreensão mais alargada do nosso processo moderno, na qual os chamados “artistas populares” respondem a uma série de anseios diferentes daqueles dos artistas dos grandes centros. Há uma saudável descentralização, em que o artista não é exclusivamente produto das elites metropolitanas. Uma característica dominante nessa revisão da figura do artista acarreta entender a conexão entre diversas esferas da vida entrelaçadas com a arte, para além do seu circuito estrito — e aqui não se deve omitir a militância política de Lira, seu trabalho como educadora e líder comunitária”.

Nosso Norte é o Sul
Data: até 30 de outubro
Local: Bergamin & Gomide (Rua Oscar Freire, 379)

Maria Lira Marques: obras recentes
Data: até 1 de outubro
Local: Casa Flávio de Carvalho (Alameda Ministro Rocha Azevedo, 1052)



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