Dos artistas para o público: uma nova ordem no mercado

Com galerias independentes, ateliês compartilhados e abertos, além de exposições, novas práticas demonstram como os artistas estão se reinventando em São Paulo

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Espaço Bananal

Falta de estrutura ou incentivo, ou por vontade de fazer algo novo, de uma forma diferente, ou para unir propósitos semelhantes ou, ainda, por falta de identificação com galerias e espaços já existentes – os motivos podem ser diversos e extensos, mas o fato é que novos endereços artsy não param de surgir em São Paulo, concentrando-se principalmente na região da Barra Funda, Santa Cecília e Centro. Os formatos são tão variados quanto as motivações que levaram esses artistas a fundar os espaços, que vão de ateliês compartilhados a galerias independentes. Veja aqui seis endereços que valem a pena conhecer!

Ateliê 62 –  Rafaela Foz, Alice Lara, Jade Marra, Raphael Escobar, Marina Borges e Mariano Barone

Alice Lara, Rafaela Foz, Mariano Barone, Marina Borges, Jade Marra e Raphael Escobar (da esq. à dir.) no Ateliê 62.
Alice Lara, Rafaela Foz, Mariano Barone, Marina Borges, Jade Marra e Raphael Escobar (da esq. à dir.) no Ateliê 62.

A artista multimídia Rafaela Foz já havia fundado anteriormente um espaço artístico chamado Breu, onde diversas atividades aconteciam, mas com a pandemia e com o fechamento do antigo espaço surgiu uma necessidade e uma vontade de (re)inventar alguma coisa. Daí nasceu o Ateliê 62, um espaço compartilhado por seis artistas no sexto andar, sala 62, de um prédio em pleno centro de São Paulo. 

Lá, Rafaela Foz, Alice Lara, Jade Marra, Raphael Escobar, Marina Borges e Mariano Barone produzem suas obras, trocam vivências e aprendem uns com os outros. O ateliê compartilhado, além de livrá-los da “solidão artística” também permite que eles se estabeleçam no centro da cidade, algo que seria financeiramente inviável individualmente. Neste último sábado, dia 28 de maio, os artistas fizeram um “ateliê aberto” e receberam o público em seu espaço, permitindo que a troca se estenda ainda além do que o contato artista-artista, mas chegue ao público em geral, que tem uma oportunidade gostosa de conhecer o espaço criativo deles. Estas aberturas são frequentes, fique de olho nas mídias sociais do grupo para ficar por dentro da agenda.

Gruta – Athos Santiago, Camilla Bologna e Iran Costa

“A Gruta resultado de uma vivência intensa em diversos movimentos de expressão artística. É um espaço que nasce para difundir a arte dentro de todas as entranhas e formas de expressão”, afirma Iran Costa, que forma o trio de artistas fundadores do espaço ao lado de Athos Santiago, Camilla Bologna.

O objetivo principal era promover um espaço democrático, onde artistas em início de carreira podem expor ao lado de outros já bem estabelecidos. O espaço, localizado na Barra Funda, é composto por salas para exposições e cursos, acervo e um espaço para uma editora independente de gravuras de baixa tiragem e fanzines nacionais e internacionais assinados pelos artistas. 

Inaugurado em 2021, a Gruta já recebeu três exposições, sendo uma coletiva  e duas individuais. A cada exposição, os artistas produzem um tipo de gravura que fica à venda por preços bem acessíveis, o que ajuda a difundir e democratizar a arte, além de contribuir para a manutenção financeira do espaço. 

GDA (Galeria de Artistas) – Bruno Baptistelli, Carolina Cordeiro, Frederico Filippi e Maíra Dietrich 

Maíra Dietrich, Bruno Bapstistelli, Carolina Cordeiro e Frederico Filippi (da esq. à dir.).
Maíra Dietrich, Bruno Bapstistelli, Carolina Cordeiro e Frederico Filippi (da esq. à dir.).

Bruno Baptistelli, Carolina Cordeiro, Frederico Filippi e Maíra Dietrich são os quatro integrantes da Galeria de Artistas, que como o próprio nome já diz, foi fundada por artistas e para artistas. Idealizado por Baptistelli, que logo foi apoiado pelos outros membros, o projeto nasceu de uma necessidade de encontrar um espaço e uma identidade em um setor que muitas vezes é rígido demais para os artistas, que não conseguem produzir de forma livre e precisam “adequar” seus processos criativos a suportes específicos ou, até mesmo, a um estilo específico. “No nosso caso a gente percebeu que não existia muito espaço para o tipo de trabalho que a gente faz, precisamos criar um lugar com o qual nos identificássemos. Tínhamos a necessidade de ter esse lugar, até para fazer o trabalho girar. ”, explica Carolina Cordeiro. 

Os artistas trabalham em um galpão na Barra Funda, onde eles formaram um ateliê compartilhado não só por eles, mas também por outros artistas. O espaço expositivo da GDA hoje é nômade e depende de cada projeto e exposição. Segundo Baptistelli, além das próximas exposições que estão no radar, eles esperam fazer “ateliês-abertos” e convidar o público para conhecer de perto sua inovadora produção. 

Massapê Projetos – Mano Penalva 

Espaço do Massapê em montagem de exposição. (Crédito: Marina Rodrigues)

O Massapê Projetos é uma “plataforma de diálogo e produção de arte contemporânea”, segundo Mano Penalva, artista que idealizou o projeto em 2018. Localizado no bairro da Santa Cecília, o espaço funciona como uma galeria gerida pelos próprios artistas e também como um ateliê compartilhado, onde trabalham os artistas Mano Penalva, Marcelo Pacheco, Marina Rodrigues, Fabiana Preti e Tchelo. 

Desde a inauguração, o espaço já recebeu 23 exposições entre coletivas e individuais dos mais variados tipos de artistas, desde os já estabelecidos no mercado até outros em início de carreira. “Alguns artistas expuseram pela primeira vez no Massapê e logo depois já foram para outras galerias”, diz Penalva, que acredita que o solo fértil da plataforma não está só no nome que remete ao histórico solo da Zona da Mata do nordeste brasileiro. 

Além da produção e da exposição de arte, no Massapê há também eventos voltados para palestras e rodas de conversas, o que cria um ambiente onde a arte não só acontece como também é alvo de reflexões. Penalva também cita as dificuldades do setor e pensa no espaço como um ambiente “encorajador”, um lugar onde a troca entre os artistas acontece e onde o diálogo sobre arte está presente.

Bananal Arte e Cultura

Fundado em dezembro de 2021 pela curadora Clarissa Ximenes e a produtora Isabela Ximenes, o espaço funciona em uma antiga oficina de mecânica de dois andares que foi reformada para abrigar, no andar de cima, um ateliê compartilhado dos artistas Bruna Amaro, Bruna Ximenes, Carmen Garcia, Gabriel Urasaki, Julia Contreiras, Juliana dos Santos, Leonardo Matsuhei, Luis Filipe Porto, Monica Chan e Paulo Delgado, que participam ativamente do espaço. Já no andar debaixo funciona o espaço expositivo que, apesar das reformas, mantém a “memória arquitetônica” da antiga oficina, o que inspirou a primeira exposição do espaço, intitulada Escapamentos.

Para Clarissa, o motivo da criação do espaço é, de fato, a falta de infraestrutura do setor, que prejudica os artistas e faz com eles se unam e criem espaços independentes. No espaço funciona também um bar, que além de integrar os artistas e as exposições com o público, contribui para os custos do espaço.

Olhão – Cléo Döbberthin

Espaço Olhão durante a exposição mais recente, intitulada SUPER-NATURAL.

Fundado e gerido pela artista Cléo Döbberthin, o Olhão é um espaço independente localizado na Barra Funda que funciona como um “território experimental que procura refletir e atuar sobre práticas contemporâneas do campo das artes”. Além disso, o espaço também promove encontros tanto entre quem pertence à comunidade artística como entre o público em geral. 

O espaço foi aberto em 2018, com uma exposição coletiva  intitulada Unidos da Barra Funda,  da qual participaram mais de 20 artistas que exploraram a relação entre si e com o espaço expositivo, que ainda não havia sido reformado. De lá para cá já aconteceram mais 7 exposições que receberam artistas como Ana Mazzei, Yuli Yamagata e Paulo Whitaker. 

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