Duas exposições para conferir na Galeria Raquel Arnaud: Shirley Paes Leme e Nuno Sousa Vieira

“Suspiro em vão” de Shirley Paes Leme exibe obras poéticas que relacionam o tempo, o ar e o caos da cidade grande, enquanto “Um entre nós” de Nuno Sousa Vieira tensiona as hierarquias ento espaço e o espectador

Shirley Paes Leme
O ar tem cor de infinito, da serie Ar da cidades do mundo, 2020 – Shirley Paes Leme

Ao visitar a Galeria Raquel Arnaud, primeiramente, você se depara com as obras de Shirley Paes Leme que compõem a mostra Suspiro em vão. Reunindo mais cerca de 20 obras, a curadoria tem como eixo-central duas séries bastante conhecidas da artista, que têm sido trabalhadas há anos consideráveis. A primeira consiste em composições geométricas feitas a partir de filtros de ar-condicionado de automóveis. Estes, tingidos com a poluição da cidade, são meticulosamente trabalhados através da extração de resíduos, adquirindo múltiplos tons de cinza e fazendo alusão aos arranha-céus das grandes metrópoles. Já na segunda, frases como “O invisível mais longe”, “Respiração”, “O ar uma miragem”, “Tempo” e “O pó habita” são extraídas de seu caderno de poemas e anotações, materializando-se em relevos de bronze e pátina preta feitos a partir de sua própria caligrafia. Todas as frases em forma de obra também foram incluídas num belíssimo texto crítico de Paula Borghi que amarra todo pensamento apresentado.

A cidade, o tempo, os resíduos, a fumaça, o pó, o ar, a respiração. São todos temas recorrentes na produção de Shirley Paes Leme e o ponto de encontro entre as duas séries da exposição. São obras que nascem de experiências e reflexões da artista a partir das coisas mais simples, e ao mesmo tempo complexas, da vida. 

Nuno Sousa Vieria
Nuno Sousa Vieria – Divulgação

Subindo para o primeiro andar da Galeria, você encontra a individual Um entre nós de Nuno Sousa Vieira, que conta com texto crítico de Jacopo Crivelli Visconti. Com uma série de desenhos, uma pintura e uma escultura, montada no jardim, que se conecta de forma intrínseca com as obras do espaço expositivo interno, esta exposição reforça a relação entre o dentro e o fora, a frente e o verso. 

Nuno propõe uma “desierarquização” entre as obras em si, mas também entre a obra e o público que, como diz o artista, também assume o seu lugar, visto que é parte da sua condição não apenas justificar a existência da obra, como também lhe conferir posteridade. O artista comenta: “No meu trabalho, as obras são o resultado de uma ação politicamente igualitária na qual as hierarquias, por um lado, se dissipam, mas, por outro, são questionadas; e o raso está em pé de igualdade com o que se encontra numa conta mais elevada; o interior está empatado com o exterior; a frente e o verso são simultaneamente a mesma face de um mesmo plano, até porque nenhum dos demais pode existir sem o outro”.

Serviço

Suspiro em vão
Um entre nósLocal: Galeria Raquel Arnaud
Endereço: Rua Fidalga, 125 – Vila Madalena – São Paulo, SP
Data: Até 05 de novembro de 2022
Funcionamento: De segunda à sexta das 11h às 19h. Aos sábados das 11h às 15h.
Ingresso: grátis

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