Entre a fantasia e a realidade com Cao Fei

Em suas obras, a artista observa o descontentamento e a desilusão de toda uma geração de jovens na China

Não só de vídeo e fotografia vive a artista chinesa Cao Fei! Por mais que os formatos mais evidentes em seus trabalhos sejam esses, ela é conhecida por sua arte que tem a internet como espaço principal, por seus trabalhos que acontecem em um mundo online, em uma plataforma conhecida como Second Life. Parece que estamos falando de algum joguinho de internet para adolescentes que funciona como um simulacro da vida real, não é? Pois é isso mesmo, a diferença é que não é necessariamente um joguinho e nem voltado essencialmente a um público adolescente, é caracterizado por seus usuários como um “ambiente virtual”.

O espaço funciona como um “playground” para artista, que vai fazendo combinações inusitadas permitidas pela “ferramenta”, como unir em um só lugar estátuas de Mao Tsé Tung e shoppings aéreos, como na série RMB City. Nesse sentido, ela mistura um tipo de estética pop à tecnologia digital em seus projetos multimídia para refletir sobre as rápidas mudanças que estão ocorrendo na sociedade chinesa contemporânea. Orientada em torno da busca da utopia ou do estado de felicidade, as obras da artista expressam a solidão e a impotência de sua geração.

Frame de obra da série RMB City, baseada na virtualidade do Second Life.

Os trabalhos de Fei caminham para revelar uma discrepância entre realidade e fantasia, abordando nisso uma crítica social que é construída a partir de observações sobre o descontentamento e a desilusão da geração de jovens na China. Aliás, seus projetos têm muito de envolvimento político. Em uma entrevista, ela chegou a explicar que o seu famoso trabalho no Second Life é um “reconhecimento da crença e da prática da democracia”. Segundo ela, é um trabalho de levaria a um experimento de práticas utópicas.

Assim, nada ali é trivial! Sua obra se funda em uma abordagem sociológica (e por que não antropologicamente virtual), pensando sobre como as mudanças rápidas e caóticas que ocorreram nos últimos anos na sociedade chinesa afetaram não só a vida como o imaginário de sua população, os sonhos perdidos dos jovens e as estratégias para se escapar da realidade

Nascida em 1978, na cidade de Guangzhou, hoje ela é das artistas chinesas que mais tem despontado no cenário artístico internacional. Sua formação educacional esteve sempre muito perto das artes visuais, tendo estudado desde o ensino médio na escola que era afiliada à Academia de Belas Artes de Guangzhou, onde veio a estudar depois, concluindo um bacharelado na área. Era de se esperar que seu caminho pendesse justamente para as artes, tendo em vista que seu pai é um famoso escultor e sua mãe uma gravurista, ambos com bastante prestígio.

Não à toa, sua trajetória conta com diversos prêmios e muitas exposições individuais em galerias e instituições importantes por todo o mundo, como no Centre Pompidou, em Paris; no MoMA PS1, em Nova York, e, neste ano, na Serpentine Gallery, em Londres. Seus trabalhos também já compuseram exposições na Bienal de Berlim e na Bienal de Veneza.

Em 2017, ela foi a artista mais jovem a fazer uma criação para o projeto BMW Art Car, que já teve Andy Warhol e Frank Stella como artistas. Ela acabou desenvolvendo um trabalho que falava sobre o futuro da mobilidade, tendo como ponto de reflexão como a tecnologia transforma tudo com tanta rapidez.

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