Arte Que AconteceArte Que Acontece
Uma figura importante no modernismo egípcio e no cânone da arte contemporânea, o pintor, poeta e crítico Ahmed Morsi começou a ser reconhecido recentemente no Ocidente. Ahmed Morsi in New York: Elegy of the Sea reúne várias pinturas de 1983 a 2012 que o artista fez em Nova York, onde ele ainda reside. Morsi amadureceu na década de 1940 e fez parte da Escola de Alexandria, um movimento cultural fundamental que colocou a cidade egípcia no mapa como uma metrópole emergente no Mediterrâneo no pós-guerra. Quando Morsi chegou a Nova York em 1974, suas pinturas se transformaram, adotando uma paisagem lírica azul e solene que evocava sua terra natal à beira-mar, a cidade portuária de Alexandria.
Neste corpo distintivo de trabalho, Morsi cria paisagens surreais e fantásticas habitadas por figuras recorrentes, reais e imaginárias: peixes fora d’água, sujeitos andróginos, cavalos mitológicos, relógios do tamanho humano e imagens dentro de imagens. Este vocabulário surrealista emerge da experiência de deslocamento de Morsi, das memórias da cidade e do mar em Alexandria, e da experiência simultânea de aglomeração e solidão ao viver na diáspora.
As cenas marítimas universais de Morsi representam mares múltiplos, bem como sentimentos de falta de lugar, repetição e perda. Seu corpo estético reflete uma prática surrealista única egípcia que une o visual e o textual, onde pintura e poesia estão intimamente conectadas. Elas também refletem concretamente a perda de uma Alexandria que já existiu, as histórias e memórias que o artista carrega, e as condições políticas que moldam a vida moderna e contemporânea. O mar de Morsi é um portal para sonhos e um modo de vislumbrar o mundo: elegíaco, mitológico e sobrenatural. Entrar em contato com Morsi em Nova York é encontrar a influência do mar sobre o material da cidade, ou, como Morsi reflete em sua poesia: “O mar secou? / Uma pergunta voltava para mim repetidamente / enquanto eu arrastava meu navio derrotado sobre pedras de asfalto.”
