“If you se something, say something” de Alexandre Mazza na Casa Gabriel

Já no século XIX os impressionistas, em pinceladas rápidas, buscavam captar o movimento, o instante fugidio do mundo. O advento da fotografia mudou a maneira de se ver e compreender o mundo e, a partir dela, novos suportes serviram para variadas expressões da criatividade artística. No século passado os artistas cinéticos provocaram a contemplação tradicional incorporando o movimento como elemento tradicional de suas obras.

Alexandre Mazza se apropria da expressão, If you se something, say something, criada inicialmente pela municipalidade novaiorquina para denúncia de terrorismo, ampliando esse terreno para um olhar mais amplo e assumindo o papel do artista como vigilante e defensor da beleza muitas vezes destratada pela ação do homem. O artista elabora imagens poderosas, variadas paisagens da Terra ameaçadas pela ganância do poder e nos revela estranhas belezas que provocam a razão e a sensibilidade.

O artista dialoga com a tradição modernista cinética e com o minimalismo; Palatnik, Soto, Le Parc, Dan Flavin e Donald Judd são algumas fontes nas quais o artista define seu campo criativo. A partir delas ele cria objetos híbridos onde a objetividade cartesiana dialoga com um certo espírito barroco, de dobras e imagens multifacetadas provocadas por elementos translúcidos sobre a superfície luminosa e bidimensional.

Grandes problemas do mundo contemporâneo se fazem presentes nas contundentes imagens criadas pelo artista em especial sobre a iminente crise climática causada por queimadas florestais, crescimento urbano desordenado, sistemática destruição dos recursos naturais do planeta. Esse compromisso é filtrado e desenvolvido por estratégias intelectuais sofisticadas que recusam a obviedade das mensagens publicitárias.

Os objetos de Alexandre Mazza são agentes artísticos que incorporam deliberadamente a beleza como instrumento de encantamento e provocação. Elas atuam nas frestas, nas interseções entre saberes variados de acordo com os postulados da criação contemporânea. Assim, elas dialogam com a artesania popular e com o design, com a tradição modernista e com as inquietações da sociedade distópica dos dias de hoje. Por isso a série de obras aqui apresentadas por Alexandre Mazza aporta essa estranha beleza, essa luz que se revela e se fragmenta, sensível metáfora de um mundo estilhaçado. Diante delas o espectador se depara com a força e a potência transformadora que somente a arte pode apresentar como alavanca da redenção humana.