Maria Thereza Alves e Hudinilson Jr. & Barbara Hammer na Jaqueline Martins

A Galeria Jaqueline Martins apresenta duas exposições paralelas: Conselho de seres, individual de Maria Thereza Alves, e Hudinilson Jr & Barbara Hammer, em parceria com a galeria berlinense Kow. Em Conselho de seres, Maria Thereza expande o senso de comunidade humano ao propor um conselho local que incluiria todos os habitantes de um determinado bairro, incluindo os seres mais que humanos. Fazer parte de um sistema de votação é reconhecer que somos agentes ativos no processo de moldar o futuro de nossa sociedade ou de nossas vidas individuais. Este processo tem sido uma longa e lenta luta pela inclusão de todos os membros de uma sociedade para além dos homens de elite. A mudança climática, no entanto, revela que o sistema democrático de eleições, como vem se desenvolvendo em vários países, dá prioridade aos interesses dos seres humanos sobre os interesses da Terra e dos seres mais que humanos. Ao criar habitações potenciais para estes seres, o trabalho chama a atenção para organismos paralelos que habitam o entorno humano, lembrando que esses seres têm os mesmos direitos que os seres humanos no processo compartilhado de tomada de decisões. Alves pretende lembrar as pessoas de que a maturidade está além do envelhecimento. Trata-se de consciência. Em um mundo onde a catástrofe ecológica é o futuro, expandir o senso de coletividade é um passo essencial para reivindicar o direito de voto. Simultaneamente na galeria KOW (Berlim) e no espaço paulistano da Galeria Jaqueline Martins, dois pioneiros da emancipação sexual, Barbara Hammer (1939-2019) e Hudinilson Jr. (1957-2013) ganham pela primeira vez uma exposição em que seus trabalhos são exibidos lado a lado. Barbara Hammer nasceu em Hollywood em 1939. Seus documentários e filmes experimentais estão entre as primeiras e mais abrangentes representações da identidade lésbica, amor e sexualidade. Por mais de cinco décadas, Hammer foi uma voz cada vez mais influente do feminismo queer e uma cronista do autoempoderamento das mulheres nos Estados Unidos e em muitos outros lugares ao redor do mundo. Após retrospectivas de filmes no MoMA em 2010, Tate Modern em 2012, e suas primeiras exposições individuais no KOW começando em 2011, o mundo da arte começou a se interessar pelo agora histórico corpo de trabalho de Hammer, que inclui performances, instalações e trabalhos em papel. Hudinilson Jr. foi um dos artistas mais emblemáticos de sua geração, influenciando toda a cena artística brasileira, não apenas por meio de sua produção individual entre as décadas de 1970 e 2000, mas, principalmente, como personalidade catalisadora de coletivos e exposições experimentais. A xerografia, que se tornou sua técnica preferida ao longo dos anos – tanto por questões práticas quanto conceituais – despertou o interesse de Hudinilson em 1976, quando o artista aprendeu a operar a máquina até o limite, explorando todas as possibilidades gráficas. Ele ampliou detalhes, cortou-os, ampliou novamente, distorcendo as imagens de seu corpo a ponto de se tornarem pura textura abstrata. Dizia que esse exercício era um perder-se no ver, um “exercício de ver-me”, expressão que intitula muitas das suas séries.