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“Melissa Cody: Céus tramados” no MASP

20 outubro, 2023 @ 10:00 21 janeiro, 2024 @ 18:00

O MASP apresenta a mostra Melissa Cody: Céus tramados, que ocupa a galeria localizada no 1o subsolo do museu. Com curadoria de Isabella Rjeille, curadora, MASP, e Ruba Katrib, curadora e diretora de assuntos curatoriais, MoMA PS1, a exposição reúne 26 obras têxteis da artista diné/navajo* produzidas a partir de um tradicional tear navajo. Em suas obras, Cody mescla símbolos e padrões históricos da tapeçaria navajo, com referências que vão das paisagens de seu território de origem no estado do Arizona, Estados Unidos, ao universo pop do videogame e da música. Em uma vitrine, também serão exibidas ferramentas utilizadas pela artista na confecção de seus trabalhos têxteis, assim como registros de seu processo, ampliando, assim, o conhecimento acerca dessa prática milenar e seus significados dentro da cosmovisão diné. Organizada pelo MASP e MoMA PS1, a exposição será exibida no MoMA PS1, entre 4 de abril e 2 de setembro de 2024. A mostra tem apoio da Terra Foundation for American Art.

Melissa Cody (No Water Mesa, Nação Navajo, Arizona, Estados Unidos, 1983) cresceu entre a reserva indígena Nação Navajo, no estado do Arizona, e o sul da Califórnia, onde vive atualmente. A artista se define como uma “criança dos anos 1980”, tendo crescido tanto sob a influência da cultura navajo quanto do universo pixelado dos primeiros videogames e computadores. Na cosmovisão diné/navajo, a tecelagem é uma tecnologia transmitida às mulheres pela figura sagrada de Na’ashjéii Asdzáá, a Mulher-Aranha, o que as torna centrais para a manutenção de suas comunidades. Herdeira deste conhecimento ancestral, Cody faz parte da quarta geração de artistas de sua família.

Ao longo da história, a tecelagem navajo teve seus símbolos, cores, materiais e técnicas atravessados pelos efeitos das trocas culturais e explorações comerciais, assim como por processos de migrações forçadas. Pelo uso de padrões e cores vibrantes, os trabalhos de Cody são comumente associados ao movimento “Germantown Revival”, que nasceu após o trágico episódio conhecido como a “Longa Caminhada” (1863–1866). Com intuito de expulsar os navajo de seu território, militares queimaram suas casas e destruíram rebanhos, forçando-os a migrar do Arizona ao Novo México, para que fossem aprisionados no campo militar de Bosque Redondo, em Fort Sumner, atual Novo México, e obrigados a assimilar à cultura estadunidense. Durante esse processo de migração forçada, as tecelãs criaram estratégias para continuar trabalhando, desfiando cobertores oferecidos por oficiais e incorporando seus fios nas tecelagens. 

A incorporação desse tipo de lã comercial, produzida em Germantown, Pensilvânia, com cores vibrantes obtidas através do tingimento por anilina, abriu novos horizontes de experimentação em meio a uma situação de confinamento. Nesse sentido, essa prática tornou-se fundamental para a sobrevivência e resistência cultural diné/navajo. “A inclusão desse novo elemento foi crucial para a continuidade e inovação de uma tecnologia ancestral, colocando em questão a ficção colonial que insiste em fixar culturas indígenas a uma ideia imutável de ‘tradição’ associada a um passado idílico”, elucida a curadora Isabella Rjeille. 

Na tapeçaria navajo, a cor, os padrões, os símbolos e materiais carregam significados com os quais Cody trabalha para tecer novas narrativas diante do tear. Como indica a tradição, cada tapeçaria é concebida diretamente no tear, sem nenhum desenho prévio. Por meio de um habilidoso uso das cores, formas e combinações, Cody cria obras de pequenas, médias e grandes dimensões, desafiando a própria mídia e criando ilusões óticas de tridimensionalidade. Como afirma a curadora Ruba Katrib, “a enorme habilidade necessária para conferir simetria e variação à peça finalizada não pode ser subestimada. A confiança na memória e nas combinações matemáticas é fundamental para essa prática, destacando o fato de que a tecelagem é uma tecnologia que também levou à criação de nossa era digital à qual Cody reage nos temas de sua obra”. 

Cody também é conhecida por suas tecelagens de grandes proporções, como a monumental The Three Rivers [Os três rios] (2021), produzida durante a pandemia da Covid-19 e dividida em quatro partes. Nessa obra, a artista traduz a experiência vivida por ela durante esse episódio de nossa história recente. Já na obra Into the Depths, She Rappels [Para dentro das profundezas, ela faz rapel] (2023), Cody traz uma referência à história da Mulher-Aranha, com vibrantes cores que remetem ao arco-íris.

O título da exposição Céus tramados se inspira no trabalho intitulado Under Cover of Webbed Skies [Sob o manto de céus tramados] (2021), uma obra que conjuga a relação entre a história da tecelagem, seu território ancestral e a transmissão dos conhecimentos da Mulher-Aranha entre gerações. A obra pode ser dividida em dois planos, como uma paisagem: o céu, representado pelos tons de azul e verde na parte superior, e a terra, representada pelas formas triangulares em roxo, rosa e laranja, que se assemelham a uma montanha. No centro da obra, há um quadrado com três formas que lembram ampulhetas, símbolo que representa a Mulher-Aranha e que, ao ser reproduzido como um padrão geométrico, remete à trama acinzentada de uma teia que enreda o céu nessa obra. As três ampulhetas no centro fazem referência a Cody e à geração de tecelãs que virão depois dela, como suas filhas ou filhos e possíveis netas e netos. A artista posiciona as ampulhetas no topo das formas triangulares, que, por sua vez, simbolizam uma das montanhas sagradas do território ancestral de Cody. A Mulher-Aranha habita o cume dessa montanha, reforçando o vínculo entre a prática artística e o território, bem como a importância de reconhecê-lo e respeitá-lo como terra indígena.

Céus tramados foi o título escolhido, portanto, para a primeira exposição de Cody na América Latina, pois o céu é um elemento comum a todos os territórios, que ultrapassa fronteiras geográficas e políticas. Como um grande manto azul que paira sobre todos os seres que vivem abaixo dele, os céus tramados de Cody se estenderiam para além de Dinetáh, a terra ancestral do povo diné/navajo, conectando em sua trama diferentes possibilidades de narrativas e modos de viver, entrelaçando cosmologias, territórios e sujeitos na criação, preservação e reivindicação de memórias e histórias, fazeres e saberes”, pontua Isabella Rjeille. 

Em diálogo com a missão de ser um museu diverso, inclusivo e plural, a mostra é acompanhada de ações de acessibilidade. São elas: um caderno de textos e legendas com fonte ampliada e cinco faixas de conteúdo audiovisual acessível, em desenho universal – audiodescrição, interpretação em libras e legendagem. O conteúdo pode ser acessado através de QR Code, estando a faixa introdutória também disponível na exposição, em tela e fone de ouvido fixados ao lado do texto de parede.

Melissa Cody: Céus tramados integra a programação anual do MASP dedicada às Histórias indígenas. Este ano a programação também inclui mostras de Carmézia Emiliano, MAHKU, Paul Gauguin, Sheroanawe Hakihiiwe, além do comodato MASP Landmann de cerâmicas e metais pré-colombianos e a grande coletiva Histórias indígenas.

Melissa Cody: Céus tramados é organizada pelo MASP e pelo MoMA PS1. A exposição tem curadoria de Isabella Rjeille, curadora, MASP e Ruba Katrib, curadora e diretora de assuntos curatoriais, MoMA PS1

MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand

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