Exposição curada por Galciani Neves na propõe uma reflexão sobre o tempo

Coletiva apresenta os símbolos da estrela e da serpente para falar de diferentes percepções de tempo e desenhos de futuros possíveis

Procurando a ra, de Heloisa Hariadne
Procurando a ra, de Heloisa Hariadne

“Dos milhões de criaturas que vivem na Terra, os seres humanos são as únicas que querem saber o que existe além de seu ambiente imediato, são as únicas que se preocupam com o que aconteceu antes de nascerem e que especulam sobre o que acontecerá depois que se forem”, ressaltou Géza Szamosi na publicação Tempo e espaço: as dimensões gêmeas.  

Seres humanos também são as únicas criaturas que alteram o tempo de muitos fenômenos que os rodeiam. Desenvolveu uma compreensão de mundo a partir do próprio entendimento de tempo – mas cada cultura da humanidade compreende o tempo de forma diferente. Pensando nisso, a curadora Galciani Neves seleciou obras que propõem distintas reflexões sobre o tempo e o espaço para a exposição coletiva Entre a estrela e a serpente que abre amanhã, dia 21 de maio, na galeria Leme.  

Koubo Mágico, de Aislan Pankararu
Koubo Mágico, de Aislan Pankararu

“Esses tempos narrados aqui são histórias de mundo, são agentes de contextualização que aproximam os trabalhos enquanto simultaneamente também os diferenciam em suas provocações”, revela a curadora que se debruçou em dois elementos simólicos para diferentes culturas quando o assunto é o tempo e o espaço.  De um lado temos a estrela, esferas que emitem luz, calor e outros tipos de radiação em razão dos processos de fusão nuclear que ocorrem em seu interior, liberando grandes quantidades de energia. Do outro temos a serpente, animal recorrente nas representações artísticas de diferentes tempos e localidades  por seus multiplos e poderosos significados. 

A estrela tem aproximadamente 400 milênios e, quando ela morre, deixa de fazer as fusões e entra em colapso. E, no auge da explosão, seu brilho é tão intenso que pode chegar a ser 1 bilhão de vezes maior que sua luz original. Segundo muitos dos povos originários, as passagens na terra que criaram o mundo, os igarapés e os rios nasceram a partir dos rastros das serpentes. “O movimento de ondulação do corpo de Boiúna [ segundo a mitologia amazonica Boiúna  é uma enorme cobra escura capaz de virar as embarcações] rasgou e modificou paisagens e alterou o curso de rios. O rastro de uma serpente é uma escritura de tempo no mundo em grãos de terra, umidades, matérias orgânicas e sedimentos”, ressalta Neves. 

Rosa dos ventos, Tiago Sant'Ana
Rosa dos ventos, Tiago Sant’Ana

Quando o assunto é a História da Arte e o gêneros da pintura, a natureza-morta revela-se a represetanção pictórica mais conectada com o tempo: a fugacidade da vida, a futilidade das vaidades, a inevitabilidade da morte, as frutas que apodrecem, a ampulheta instaurando a passagem e a implacabilidade do tempo, a anatomia de bichos mortos, a vida silenciosa e em pausa da matéria inanimada – tudo aqui é sobre um tempo e sobre a tensão entre suspendê-lo ou deixa-lo correr. 

É interessante pensar, aqui, nesse tempo que parece suspenso, na pintura, mas que segue seu curso com um rio, como o rastro de uma estrela ou do caminho de uma serpente, deixando marcas. Se existe algo que aprendemos a repensar e relativizar nos últimos anos foi o tempo: parece que nada aconteceu mas, ao mesmo tempo, nossos corpos carregam marcas ( fisicas ou psicológicas) que sugerem a passagem de pesados anos de inseguraça, violência e medo. 

Não à to a curadora questiona:  “Há horizonte para os humanos? Ou somos um breve capítulo na história do planeta, muito próximo de suas últimas páginas? Quantas vezes você já se pegou tentando situar certos acontecimentos? Antes ou depois da pandemia? 2020 é um ano que se arrasta até agora?” Parece que a resposta está nos gestos dos 23 artistas que compõem a mostra. A reposta virá em forma de explosão de estreças e ranhuras de serpentes. 

Entre a estrela e a serpente

Local: Galeria Leme

Endereço: Av. Valdemar Ferreira, 130,Butantã – São Paulo

Data: De 21 de maio até 16 de julho

Funcionamento:  De terça a sexta-feira, das 10h às 19h; Sábado das 10h às 17h

Ingresso: grátis

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