roda pé é um projeto de interdisciplinar que parte da paixão pelas palavras. Com curadoria de Paula Borghi, este conta com a participação de 20 artistas distintes em área de atuação, gênero, geração, raça, classe social e naturalidade, a fim de potencializar a arte e a vida em seu entendimento político e diverso.
Transitando pelo formato de videoclipe e gifs idealizados para o ambiente digital, roda pé tem como eixo 4 palavras-poesias que refletem e problematizam o momento distópico que assombra o Brasil em sua atualidade. Palavras-poesias que foram musicadas, interpretadas e produzidas por artistas comissionades.
As palavras-poesias são idealizadas pela artista Natalie Salazar e tem como objetivo provocar o sentido genérico de suas expressões, ampliar seu léxico e inaugurar outras possibilidades de percebê-las: jeSUS, Engadação, chapa-ADÃO e Marias. Cada uma delas foi transformada em um música de estilo variado, com suas letras escritas por Natalie Salazar e Paula Borghi.
Trata-se de uma orquestração da linguagem, que retira o “rodapé” do lugar de prestador de esclarecimento e de considerações complementares e o traz como protagonista.
Marias é uma poesia no estilo
MPB que fala um pouco daquilo
muito que é ser mulher,
homenageando as inúmeras
Marias que fazem parte de
nossa história.
Imagem Gráfica: Maira Marques
Música: Felipe Botelho
Vocal: Carina Iglecias
Direção de Vídeo e Câmera: Igor Marotti
Coreógrafa e Intérprete: Júlia Brandão
Chapa-ADÃO é uma poesia no
estilo funk que se rebela perante a
violência do patriarcado e seus
comportamentos criminosos,
como o estupro culposo, a violência contra a mulher e a transfobia.
Imagem Gráfica: CHRUA
Música e Vocal: Mc Tchelinho e Larinhx
Vocal: Carina Iglecias
Vídeo: Mavi Veloso
ENGADAÇÃO é uma poesia no
estilo sertanejo que denuncia a
barbárie alastrada floresta
adentro com o fogo, com o
permanente genocídio dos
povos originários e com a
ganância do homem branco que come pasto, planta gado e respira dinheiro.
Imagem Gráfica: Órion Lalli
Música e Vocal: Livia la Gatto
e Renata Maciel
Vídeo: biarritzzz
Intérpretes: A Desencantada e Laís Senna
jeSUS é uma poesia no estilo RAP
que problematiza o sucateamento
do sistema único de saúde, o
descaso à vida, a negação de
um estado laico e da ciência,
a ruína da democracia, a
ascensão do autoritarismo
e a negligência ao próximo.
Imagem Gráfica: Dani Spadotto
Música: Jonás Sá e Thiago Nassifi
Vocal: Jonas Sá e Gabriela Riley
Vídeo: Pedro Gallego
Contar histórias é algo inerente à nossa natureza, bem como contá-las de acordo com um interesse específico. Entretanto, a imposição de uma história hegemônica vem violentando seu enredo há séculos; no Brasil, mais especificamente, há cinco séculos e vinte e um anos. O silenciamento de narrativas é mais uma forma de abuso, agressão e opressão, essencial à lógica e à prática da dominação de todes aquiles que foram constituídes como “outres”, cuja a tarefa de espelhar o “eu” dominante.
A História do Brasil, com H maiúsculo e como comumente é ensinada nas escolas, foi escrita por valores judaico-cristãos e leva em seu rodapé o sangue das histórias de genocídio dos povos originários e de africanes escravizades. O protagonismo de quem a narra é essencial para a manutenção da “matriz colonial de poder”, que controla a economia, a autoridade, o conhecimento e a subjetividade, como bem coloca o sociólogo peruano Aníbal Quijano.
A arte, por sua vez, em sua compreensão ampla e interdisciplinar, é uma ferramenta capaz de escrever e dar voz às narrativas subalternas. Partindo dessa consciência, ao encontro de confrontar o genocídio em curso no país, o projeto roda-pé retira o “rodapé” do lugar de considerações complementares para transformá-lo em protagonista.
Atuando de forma micropolítica, o processo artístico partiu de quatro palavras-poemas escritas pela artista Natalie Salazar, a fim de problematizar a distopia do momento presente intrínseca aos espectros. São palavras-poemas que provocam o sentido genérico de suas expressões, ampliam seu léxico e inauguram outras possibilidades de percebê-las: jeSUS, Engadação, chapa-ADÃO e Marias.
A partir de então, cada palavra-poema foi reelaborada por 18 artistas comissionades distintes em gênero, geração, raça, classe social e naturalidade, bem como trabalhando com diversas áreas de saberes, tais como: artes visuais, dança, artes cênicas, design, música, cinema e design. Para tornar a experiência o mais polissêmica possível, os trabalhos exploram suportes e estilos de música variados, tomando a forma de gifs e vídeos.
A respeito dos trabalhos, cada um aborda uma ou mais capilaridades das histórias do Brasil, com h minúsculo e no plural; pois assim como a grafia de roda-pé é escrita em caixa baixa, compreende-se que não é no berro que estas histórias se farão ouvir, mas sim união de vozes em coletivo.
Curadoria: Paula Borghi
Identidade visual: Dora Reis