Mostra com cerca de 180 obras é destaque na reabertura do Museu da Língua Portuguesa

Não apenas reconstruído mas também repaginado, o museu em São Paulo tem em sua mostra temporária um diálogo marcante da nossa língua com as artes visuais

Obra de Rivane Neuenschwander. FOTO: Ciete Silvério/ Museu da Língua Portuguesa

O incêndio que atingiu o Museu da Língua Portuguesa em dezembro de 2015 foi um episódio marcante para a história da nossa cultura. O acontecimento desolador fez com que a instituição, localizada na Estação da Luz, em São Paulo, ficasse fechada por mais de cinco anos para ser reconstruída. Esse processo de retomada do museu foi uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, tendo como parceira a Fundação Roberto Marinho. No últim sábado, 31 de julho, ocorreu a reabertura do museu, um dos eventos culturais mais esperados do ano!

A instituição tem três andares de exposições, sendo uma mostra de longa duração, com curadoria de Isa Grinspum Ferraz (curadora responsável pelo museu) e Hugo Barreto, e uma mostra temporária. Nesta mostra, estão inclusive algumas instalações já bastante conhecidas do público, que fizeram bastante sucesso anteriormente e que agora voltam trazendo novas tecnologias adicionadas e propondo novas formas de interação. É o caso, por exemplo, de Palavras Cruzadas e Praça da Língua.

O conteúdo, que foi revisto e ampliado, teve colaboração em seu desenvolvimento de vários profissionais de diversos países de língua portuguesa, como os escritores José Eduardo Agualusa e Mia Couto, o documentarista Carlos Nader e a slammer Roberta Estrela D’Alva. Na expografia, estão presentes trabalhos de artistas como Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Laerte e Guto Lacaz.

Já a exposição temporária, que foi intitulada Língua Solta e vai até o dia 3 de outubro, tem curadoria de Moacir dos Anjos e Fabiana Moraes! Os curadores fizeram a reunião de 180 trabalhos de artistas importantes do cenário da arte contemporânea para discutir “a língua portuguesa em seus amplos e diversos desdobramentos na arte e no cotidiano por meio de um conjunto de artefatos que ancoram seus significados no uso das palavras, como objetos da arte popular e da arte contemporânea, apresentados de maneira diversificada”.

São pinturas, placas, letreiros, bordados, ex-votos, fotografias, memes, instalações e tantas outras mídias que compõem esta exposição. A diversidade não está apenas nos materiais e nos suportes, mas também nos temas que as obras emanam. Desta forma, entre estandartes de maracatu rural, pinturas, fotografias, a mostra acaba por borrar o questionamento sobre o que seria arte o que seria uma não-arte.

Vista da exposição. FOTO: Ciete Silvério/ Museu da Língua Portuguesa


Dentre as obras, estão trabalhos de artistas bastante conhecidos no cenário da arte contemporânea atualmente, mas também obras que carregam um caráter mais popular. Desenhos de Leonilson e Mira Schendel, cartazes de Sérgio Ruiz, bordados de Randolpho Lamonier, placas de Paulo Bruscky, poemas de Miró da Muribeca e panos de prato com inscrições religiosas são algumas das peças que podem ser encontradas em Língua Solta.

Uma das primeiras obras assim que o público entra na sala expositiva é um manto de Arthur Bispo do Rosário. Moacir conta que esta peça mostra bastante sobre a porosidade dos campos da arte popular e da arte contemporânea. “É um artista que após décadas começou a ser lido pelo sistema da arte como arte contemporânea, embora não tenha tido nenhuma formação nesse campo e não tivesse nenhuma trajetória nesse campo enquanto vivo. Mas ele é incorporado a esse campo e desafia essas divisões”, explica Moacir.

O curador ainda pontua que a obra de Bispo nos coloca diante de uma necessidade de pensar que essas divisões são arbitrárias e podem ser mudadas. “Podemos ir a essa exposição sem necessariamente dizer o que é arte contemporânea e o que não é, mas nos deixar afetar por esse universo que é tão variado, de obras que possuem a palavra como elemento estruturador e ativador”.



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