O aparecimento de Vera Chaves Barcellos

Um pouco da trajetória da célebre artista gaúcha, que queria ser pianista, e se tornou um dos mais importantes nomes da arte conceitual no Brasil

Vera Chaves Barcellos, O Estranho Desaparecimento de Vera Chaves Barcellos, 1976/2013

O aparecimento de Vera Chaves Barcellos começa com uma janela fechada na cara. Em uma cena um tanto cômica que a artista relatou em uma entrevista em 2014 ao projeto Mulheres na Arte Contemporânea, ela conta que seus pais se conheceram em um hotel em Porto Alegre. Os dois viviam em cidades na fronteira com o Uruguai. Ele acenou para ela da janela do hotel e ela fechou “a janela na cara dele”. Anos depois, em 1938, Vera nascia como fruto desse relacionamento. Depois de passar sua infância quase inteira em uma fazenda no interior do estado, ela foi com a família para a capital, para estudar, aos 9 anos.

Apesar de ter sido influenciada pelos seus pais a se aproximar da arte desde pequena, ela só foi descobrir que queria isso profissionalmente na adolescência, aos 16 anos. Foi a música que encantou Vera, que já tinha algumas aulas desde os 7 anos de idade. Ela quis largar os estudos numa escola católica para se dedicar essencialmente a aprender piano, queria ser pianista e fazer recitais. Os pais não se colocaram contra a ideia e lá foi ela para o Instituto de Belas Artes.

A então estudante de música chegou a fazer um recital, mas quando completou 20 anos percebeu que as artes visuais também sempre a acompanharam, como um tipo de atividade extra que realizava. A partir desse momento, a jovem que pintava e desenhava paralelamente teria suas práticas e pesquisas em torno das artes visuais expandidas e se tornaria um dos mais importantes nomes das artes no Brasil, especialmente no âmbito da arte conceitual. Neste momento, uma de suas séries mais emblemáticas, Epidermic Scapes, está em exibição em uma coletiva na Galeria Superfície, em São Paulo.

Depois de estudar dois anos na mesma instituição que estudou música, Vera consumou seu primeiro casamento com um arquiteto que partilhava de seus interesses artísticos (hoje ela é casada com o escultor chileno Patrício Farias). Eles foram morar na Europa, onde ela acabou estudando em instituições em diversos países. Aprendeu técnicas de gravura, como a litografia, em Londres, na Central School of Arts and Crafts e na St. Martin’s School ; depois estudou desenho, pintura e gravura na Academie van Beeldende Kunsten, em Roterdã; e, por fim, pintura na Académie de la Grande Chaumière, em Paris.

Vera Chaves Barcellos, Epidermic Scapes, 1977

Quando encerrou seus estudos por terras europeias, voltou ao Brasil e aprofundou seus conhecimentos e técnicas de pintura com Iberê Camargo, e também de litografia, com Marcelo Grassman. Mas é a gravura que toma mais o seu fazer.

Na entrada dos anos 70, suas práticas foram se tornando cada vez mais sólidas e a fotografia começou a intriga-la cada vez mais. Vera realiza experimentações que a colocam como uma das pioneiras da arte conceitual brasileira. Suas obras integram exposições importantíssimas, como mostras históricas que foram realizadas por Walter Zanini no Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP) e logo, em 1976, fez parte também da representação do Brasil na Bienal de Veneza de 1976, da qual participou com obra da série Testarte, que já produzia há dois anos. A mesma seleção foi apresentada também na na Bienal de São Paulo em 1977. Era a primeira das quatro que fez parte até hoje.

Nervo Óptico, Sem título (Grupo do Sarampo), 1977. Carlos Pasquetti, Vera Chaves Barcellos e Mara Alvares (à frente); Carlos Asp, Clóvis Dariano e Telmo Lanes (atrás). FOTO: Divulgação/Galeria Superfície

Naquele mesmo ano, a artista se uniu aos colegas Carlos Asp, Carlos Pasquetti, Clóvis Dariano, Mara Álvares e Telmo Lanes, fundando o grupo Nervo Óptico, que teve atuação em Porto Alegre entre os anos de 1977 e 1978. Não foi apenas um coletivo de artistas de vanguarda que dividiam os mesmos interesses, mas um movimento que fazia uso majoritariamente de experimentações com a fotografia para produzir críticas à ideia do mercado atuar como condutor de políticas culturais.

Vera Chaves Barcellos, série On Ice, 1978

Além de desenho, pintura, gravura, fotografia, serigrafia, vídeo, instalação e performance, outra produção de Vera que merece bastante destaque são os livros de artista, que ela começou a produzir nos anos 70. Nessa época, aprendeu técnicas de encadernação em Londres, quando passou seis meses estudando com uma bolsa que ganhou do British Council. Essa produção de livros por Vera documentou vários momentos de sua trajetória, catalogando detalhes indispensáveis de sua biografia e sua carreira.

Hoje a artista continua produzindo obras incansavelmente, aos 83 anos. Ela vive e trabalha na cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, mas mantém, desde 1986, um estúdio em Barcelona. Ao mesmo tempo, ela se encarrega também da gestão da Fundação Vera Chaves Barcellos, que se dedica não só a preservação de seu acervo, mas também à divulgação e desenvolvimento da arte contemporânea no geral.

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