Obra de Clarice Lispector é colocada em diálogo com outras artista no IMS

Diálogo entre a obra de Clarice Lispector e a de outras artistas de sua época é tema da exposição Constelação Clarice apresentada pelo IMS Rio

Onírico, 1950, Djanira. (Propriedade: Coleção Particular)

“Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo” – Clarice Lispector era conhecida pela profundidade psíquica de suas personagens, pela intensa dose de sentimentos que transbordavam pelas linhas por ela escrita e, também, por ser uma mulher artista quase indissociável de suas obras. Ela era o que expressava e sentia o que colocava em seus textos, seus pensamentos, suas reflexões quase mágicas como, por exemplo, em seu famoso conto O Ovo e a Galinha. 

Em celebração à sua vida e à sua obra, O Instituto Moreira Salles apresenta uma mostra que insere as obras de Clarice em um diálogo com a obra de outras artistas de sua época como Maria Martins, Mira Schendel, Fayga Ostrower, Lygia Clark, Letícia Parente, Djanira e Celeida Tostes, entre outras. Reunindo aproximadamente 300 itens que incluem manuscritos, fotografias, cartas, discos e matérias de imprensa, entre outros documentos do acervo pessoal da autora, a mostra convida o visitante a passear pela história e pela produção da artista. 

Retorno, 1967, Wilma Martins. (Propriedade: Coleção Wilma Martins)

Para criar essa interlocução entre a obra de Clarice a das outras artistas, a curadoria da mostra, que ficou a cargo de do poeta Eucanaã Ferraz, consultor de literatura do IMS, e da escritora e crítica de arte Veronica Stigger, adotou o conceito de “constelação” apresentado no título da mostra. Em 11 núcleos, são apresentados trabalhos em diversos suportes, como escultura, pintura, desenho, fotografia e vídeo. As obras das artistas estão sempre em diálogo com trechos de textos de Clarice, formando uma teia de novos significados, como apontam Ferraz e Stigger: “Por meio da aproximação propiciada por Clarice, ganha lugar uma compreensão renovada e mais complexa daquele momento da arte brasileira. Por outro lado, a partir dessa constelação entre os trabalhos plásticos e a escrita, também a literatura de Clarice aparece sob nova óptica.” 

Na entrada da mostra, o público encontrará a escultura Calendário da eternidade, da artista Maria Martins, que também participa da exposição com outros trabalhos. De formato circular, a obra remete à ideia de continuidade, tema presente na produção de Clarice. Em seguida, são exibidas 18 pinturas de autoria da própria escritora, produzidas entre 1975 e 1976, sem pretensão profissional. Nos quadros, é possível identificar algumas recorrências, como o tratamento gestual e a predileção também pela circularidade.

Da série Ninhos, s.d. Obra de Celeida Tostes. (Propriedade: Acervo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro/Doação Esther Chamma de Carlos.

Outro destaque é a seção “Tudo no mundo começou com um sim”, frase proveniente do romance A hora da estrela (1977). O núcleo aborda o tema da origem, que é recorrente na obra da autora, evocado por imagens como a do ovo e da caverna. No livro Água viva (1973), por exemplo, a narradora questiona: “Por que é que as coisas um instante antes de acontecerem parecem já ter acontecido?”. Neste eixo, há obras de Maria Polo, Anna Maria Maiolino, Celeida Tostes e Wega Nery, entre outras. 

Já o núcleo “Eu não cabia” investiga o cenário da casa. Em muitos romances de Clarice, a banalidade do ambiente doméstico é interrompida por momentos de estranhamento e desconcerto. Esse questionamento do espaço do lar, transitando entre a segurança e o sufocamento, aparece também em obras como Caixa de fósforos, de Lygia Clark, no vídeo Eu armário de mim, de Letícia Parente, ou ainda nas pinturas coloridas de Wanda Pimentel e Eleonore Koch, que apresentam uma casa estranhamente vazia, por vezes vista pelas frestas. 

A exposição se estende ainda pelos núcleos restantes, demonstrando a riqueza do acervo e o cuidado minucioso da curadoria na construção deste diálogo-constelação que une variadas vozes em um mesmo discurso. 

Serviço:

Constelação Clarice

Local: IMS Rio 

Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 476 – Gávea, Rio de Janeiro/RJ

Data: De 21 de maio a 9 de outubro de 2022. 

Funcionamento: Terça a sexta, das 12h às 18h. Sábado, domingo e feriados das 10h às 18h.

Ingresso: Grátis

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