Povos originários e mulheres dão o tom do calendário artístico 2023 em São Paulo

Pautas identitárias seguem fortes, com foco também em mulheres; artistas portenhos e 50 anos do hip hop são temas colaterais

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Daiara Tukano, que estreia no circuito comercial com individual na Millan (divulgação)

Em 2023, a arte produzida pelos povos originários dá o tom da programação de exposições na cidade de São Paulo. Foi com a reverberação de uma tendência internacional pela 34ª Bienal de São Paulo – Faz Escuro, mas Eu Canto (entre setembro e dezembro de 2021) que a arte indígena ganhou protagonismo na cena paulistana. 

De lá para cá, passando por Moquém_Surarî (MAM SP, 2021-22), Véxoa: Nós Sabemos (Pinacoteca, 2020-21) e Xingu: Contatos (IMS), em cartaz até próximo abril, a produção das diversas etnias originárias do Brasil segue em destaque na capital paulista neste ano, com exposições reflexivas e abrangentes, ampliando a pesquisa para etnias de outros países e estendendo para o campo artístico a denominação da Assembleia da ONU de 2019 de que 2022-2032 é a Década Internacional das Línguas Indígenas.

Se a Pinacoteca tem instalação de Denilson Baniwa no Octógono entre março e julho e a Millan tem a primeira individual em circuito comercial de Daiara Tukano em fevereiro, estreando a representação da artista, O MASP dedica praticamente toda sua programação do ano à arte indígena. 

Os destaques do calendário 2023 do museu da Avenida Paulista são a revisão crítica do “exotismo” pintado por Paul Gauguin quando viveu no Taiti e a tão aguardada Histórias Indígenas, que propõe revisão e mapeamento abrangentes da arte produzida por povos originários não só do Brasil, mas de outras regiões do globo. A mostra havia sido postergada por causa da pandemia.

No segundo semestre, o Instituto Tomie Ohtake apresenta uma exposição de pesquisa extensa inspirada no projeto “Museu das Origens”, de Mário Pedrosa, a ser realizada e exibida em parceria com o Itaú Cultural e, entre agosto e novembro, a individual do fotógrafo japonês Hiromi Nagakura, que durante os anos 1990 percorreu diversas comunidades indígenas do Amazonas acompanhado de Ailton Krenak, que imprime sua visão ao conjunto de 80 imagens exibidas na mostra.

Com ligação não tão explícita, mas apostando no tema do meio-ambiente, o MAM SP traz entre junho e agosto a exposição Elementar: fazer com, ocupando os 1 mil m² da Sala Milú Villela com obras do acervo e do Educativo do museu que partem dos quatro elementos naturais para debater as relações entre arte e natureza e os impactos da mão do homem no planeta.

E mesmo não abordando a questão indígena diretamente em sua proposta curatorial para 2023, a 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível promete incluir essas e muitas outras produções não-hegemônicas em sua busca por explorar as danças sensoriais e disruptivas da noção do tempo-espaço da autoproclamada “civilização ocidental” que só a arte é capaz de constituir. A megaexposição acontece no tradicional período de setembro a dezembro.

Mas as pautas identitárias não param por aí. As mulheres também estão presentes com força no calendário, sejam elas pioneiras clássicas, como Maria Leontina na Pinacoteca; consagradas vistas por novos recortes, como Iole de Freitas no IMS e Carmela Gross no IAC; contemporâneas em sua primeira grande retrospectiva, caso de Vânia Mignone no Instituto Tomie Ohtake; ou artistas internacionais estreando em SP, como Sarah Crowner simultaneamente no espaço Auroras e na Casa de Vidro. 

Duas argentinas representam as mulheres sul-americanas na temporada SP 2023: Marta Minujín na Pinacoteca e Yente (Eugenia Crenovich, Buenos Aires, 1905–1990) no Instituto Tomie Ohtake, que exibe pela primeira vez sua produção em paralelo com a produção de seu marido, Juan del Prete (Vasto, Itália, 1897 – Buenos Aires, 1987). A sul-coreana Haegue Yang inaugura a Pinacoteca Contemporânea, novo espaço da instituição dedicado à novíssima produção artística, prometido para 4 de março. 

Os 50 anos do hip-hop, celebrados em novembro deste ano, inspiram uma grande exposição de grafitti no Itaú Cultural entre maio e julho, resgatando a história da vertente pictórica da cultura de rua desde seu surgimento em Nova York nos anos 1970 até sua difusão ao redor do mundo, com atenção especial para a produção brasileira.

Entre todas as tendências que as visuais apontam para 2023, escolhemos as 15 exposições imperdíveis na cidade de São Paulo. Confira abaixo, anote na agenda e não perca!

Retrato dos curadores da 35a Bienal de São Paulo.
Retrato dos curadores da 35a Bienal de São Paulo: Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel

BIENAL

35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível

Setembro – dezembro 

Curadoria: Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel

A curadoria coletiva e internacional explica em seu texto: “Como corpos em movimento são capazes de coreografar o possível, dentro do impossível? A proposta para a 35ª Bienal de São Paulo surge como um projeto comum, ao redor de múltiplas possibilidades de coreografar o impossível. Como o título sugere, trata-se de um convite às imaginações radicais a respeito do desconhecido, ou mesmo do que se figura no marco das im/possibilidades”.

Obra de Sarah Crowner que integra exposição do auroras (divulgação)

AURORAS

Sarah Crowner: Blues in Greens/ Greens in Blues 

28/1 até 11/3 

Auroras e Casa de Vidro (simultaneamente)

Primeira individual da artista estadunidense no Brasil, realizada  simultaneamente no auroras e na icônica Casa de Vidro de Lina Bo Bardi. A obra de Crowner  articula um vocabulário de formas geométricas em cores vibrantes, em uma fatura moderna que dialoga com as arquiteturas desses espaços expositivos.

Obra da série Carimbos, de Carmela Gross (divulgação)

IAC

Carmela Gross – Carimbos 

4/2 a 6/5

Curadoria: Ricardo Resende

Os Carimbos de Carmela Gross, que vão desde sua mão impressa com tinta no papel a obras ilustradas por esse utensílio e sua impressão, além de pinturas mais gestuais, ganham mostra com seleção do acervo de mais de 300 documentos da artista, que em breve serão doados ao instituto para conservação e pesquisa.

Paulo Bruscky

Abre em junho

Curadoria: Jacopo Crivelli Visconti

Símbolo da arte de vanguarda dos anos 1960-70, o pernambucano Paulo Bruscky ganha exposição mesclando trabalhos de diversas épocas, paralelamente à mostra dedicada a sua produção na Galeria Nara Roesler.

IMS PAULISTA

Individual de Iole de Freitas 

Maio – Setembro 

Curadoria: Sônia Salzstein; assistência, Leonardo Nones 

A exposição reúne uma série de trabalhos que a artista produziu na década de 1970, pouco vistos pelo público brasileiro ou inéditos. São fotos, filmes Super 8 e 16 mm e instalações dos tempos em que ela viveu em Milão e NY. 

Imagem da série Corpoflor – a anatomia da água, de Castiel Vitorino para a Bolsa Zum 2021 (divulgação)

Exposição em celebração aos 10 anos da Bolsa ZUM

Abril – julho 

Pivô (Copan – SP)

Curadoria: Thyago Nogueira, Daniele Queiroz e Ângelo Manjabosco

A coletiva celebra 10 anos da Bolsa ZUM e 10 anos do Pivô, espaço independente do Centro de SP, com obras inéditas em foto, vídeo e outros suportes e temas como história da escravidão, racismo, papéis sociais e de gênero, limites da loucura, etc, por nomes como Aline Motta, Castiel Vitorino, Célia Tupinambá, Coletivo Garapa e outros. Desde 2013, a Bolsa ZUM premia dois projetos artísticos por ano, que passam a integrar a coleção do IMS. 

Casal ítalo-argentino Yente (Eugenia Crenovich, 1905-1990) e Juan Del Prete (1897-1987)

INSTITUTO TOMIE OHTAKE

Yente/DelPrete: Vida Venturosa

Dezembro 2023 a fevereiro 2024

Itinerância da mostra de 2022 no Malba, dedicada à obra do casal ítalo-argentino Yente (Eugenia Crenovich, 1905-1990) e Juan Del Prete (1897-1987), que por mais de 50 anos compartilhou vidas e ideias sobre a produção artística. A exposição reúne-os pela primeira vez em mais de 150 obras, entre pinturas, esculturas, tapeçarias, desenhos e livros de artista, abrangendo dos anos 1930 aos 1980.

ITAÚ CULTURAL

Muros que Falam (Exposição de Graffiti Internacional)

6/5 a 30/7

Exposição de arte de rua, apresentando suas origens, sua história e seus protagonistas. A mostra artística consiste em um recorte da cultura, passando pelos guetos de NY, suas ramificações pelo mundo e como esse manifesto se desenvolveu em São Paulo, espalhando-se por todo Brasil em diferentes estilos e conceitos característicos de nossas regiões. 

MAM SP 

Elementar: fazer com

15/6 a 13/8

Curadoria: Cauê Alves, Mirela Estelles e Valquíria Prates

Exposição com obras emblemáticas do acervo do Museu e do Educativo, propõe uma reflexão a partir da arte sobre os elementos básicos e primários que compõem o planeta: ar, terra, água e fogo. A exposição irá discutir a relação entre arte e natureza, os impactos da ação humana sobre o planeta e as possibilidades de construirmos juntos um mundo melhor.

Pobre Pescador (1896), obra de Gauguin pertencente ao acervo do Masp e integrante da expo revisionista dedicada ao artista

MASP

Paul Gauguin: o outro e eu 

28/4 a 6/8

Curadoria: Adriano Pedrosa, Fernando Oliva, Laura Cosendey

Primeira exposição a problematizar a relação de Gauguin com a ideia de alteridade e da exotização do “outro”. De maneira crítica, aborda problemáticas centrais em sua obra e tem como foco dois temas emblemáticos: seus autorretratos e seus trabalhos produzidos no Taiti (Polinésia Francesa).

Histórias indígenas 

20/10 a 25/2/2024

Em colaboração com o Kode Bergen Art Museum, Noruega

Curadoria: Edson Kayapó, Kassia Borges Karajá, e Renata Tupinambá

Curadoria convidada: Abraham Cruzvillegas (México), Irene Snarby (Sámi, Noruega), Nigel Borell (Maori, Nova Zelândia) e Sandra Gamarra (Peru), entre outros

A grande exposição coletiva apresenta diferentes relatos de histórias indígenas do mundo, por meio da arte e das culturas visuais, reunindo obras de múltiplas mídias, tipologias, origens e períodos em oito núcleos: sete dedicados a diferentes regiões do mundo e um temático, em torno de ativismos indígenas. 

MILLAN

Daiara Tukano 

4/2 a 11/3

Estreando a representação da artista e curadora pela galeria, a primeira individual  de Daiara Tukano no circuito comercial exibe trabalhos de produção recente, desde 2020 até hoje, alguns deles criados especialmente para a mostra.

NARA ROESLER

Paulo Bruscky 

20/5 a julho

Símbolo da arte de vanguarda dos anos 1960-70, o pernambucano Paulo Bruscky ganha exposição mesclando trabalhos de diversas épocas, paralelamente à mostra dedicada a sua produção no IAC.

Marta Minujín
A artista portenha Marta Minujín, que ganha retrospectiva pela Pinacoteca Luz (divulgação)

PINACOTECA 

Marta Minujín 

1/7 a 28/1/2024 – Pina Luz

Curadoria: Ana Maria Maia 

A exposição traça um panorama da obra da artista argentina conceitual de 79 anos, que em seus trabalhos faz uma crítica social bem-humorada, irreverente e de contornos pop. Perpassando diferentes momentos da carreira da artista, os projetos imersivos exibidos tornam corpórea, sinestésica e lúdica a experiência política da arte ao articularem cor, som e movimento.

Antonio Obá

24/6 a 18/2/2024 – Pina Contemporânea

Curadoria: Ana Maria Maia 

No novo espaço da Pinacoteca de São Paulo, o artista exibe uma seleção de suas obras, que criticam a noção de identidade brasileira hegemônica a partir de uma iconografia por vezes religiosa, privilegiando a cultura e a figura da pessoa negra.

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