Quatro pequenas histórias sobre Donald Judd

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Formado em filosofia e desenvolvendo pesquisas em história da arte, Donald Judd trabalhava como crítico para revistas especializadas para se sustentar, desenvolvendo pensamentos teóricos sobre a produção típica dos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 70. Contudo, em paralelo, sempre produziu como artista: sua carreira teve início na pintura nos anos 40, como muitos de seus pares; logo, passou a explorar a gravura, suporte cuja materialidade lhe interessava, e abandonando a figuração por completo; em seguida, passou para a lógica da tridimensionalidade, explorando as possibilidades de volumes no espaço por meio de acúmulos, empilhamentos, espelhamentos e seriações. Em 1962, criou seu primeiro trabalho tridimensional, de madeira, masonita e um tubo de asfalto. A partir de 1963 passou a empregar materiais específicos que marcaram o restante de sua trajetória, como o aço inox, o acrílico e o concreto – todos industriais.

To Susan Buckwalter, 1964

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Em 1965, escreveu o ensaio-manifesto que pode ser considerado inaugural para o Minimalismo no país, intitulado “Specific Objects”. O título vem da expressão que o artista usava para descrever seus próprios trabalhos, já que desafiavam as categorias e definições existentes. No texto, Judd aponta para as tendências daquele momento na arte, em que o melhor da produção visual não se encontrava nos meios tradicionais da pintura e da escultura. No entanto, ainda não antecipava que o minimalismo se constituiria como um movimento, já que os trabalhos que analisava não inspiravam a ideia de haver um denominador comum para definir-se um estilo ou uma escola. O ponto comum residia, de acordo com o artista, na tridimensionalidade – toda tridimensionalidade que não fosse escultura. Essa conceituação meio frouxa, muito ampla, contribuiu para que o minimalismo se espalhasse e tomasse muitas formas, muitos corpos. Esse ensaio também vem no ensejo de suas obras seminais, os primeiros empilhamentos de caixas afixadas na parede.

Untitled, 1967

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Em 1968, Judd comprou um edifício construído de ferro fundido na área sul de Manhattan, em Nova York. O arquiteto Nicolas Whyte ergueu o projeto em 1870, e suas outras obras feitas do mesmo material existem apenas aqui no Brasil, coincidentemente. Originalmente o local devia ter abrigado alguma indústria ou fábrica com loja, mas o distrito na década de 1960 já estava bastante degradado, e o valor de compra foi irrisório para Judd. Ali se consolidou um centro de gravidade para o artista, onde ele estabeleceu seu ateliê, instalou obras de amigos, reformou e alugou estúdios para outros criativos, abrigou sua própria coleção, etc. Este é considerado o lugar onde ele desenvolveu o conceito de instalação permanente, a partir da ideia de que o contexto da obra é tão central para sua compreensão quanto o trabalho em si. E uma curiosidade: Yayoi Kusama foi vizinha de Judd – a japonesa, logo depois de chegar em Nova York, alugou um ateliê neste edifício por alguns anos!

Judd Foundation, 101 Spring Street, NY

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Já em 1971, Judd começou seu ambicioso projeto na pequena e remota cidade de Marfa, no Texas, onde viria a desenvolver um grande centro cultural para abrigar suas instalações permanentes – e onde passou também a reformar e construir pavilhões para receber obras de outros artistas. Judd havia servido no exército americano por alguns anos, e sua ligação com o lugar vinha desse período, inclusive marcada em um telegrama enviado à sua mãe em 1946. Em 71 alugou uma casa e depois um galpão para guardar obras grandes. Em 72, passou o verão na cidade com a família e logo em 73 comprou definitivamente os hangares de aviões da Primeira Guerra Mundial que haviam sido construídos nos limites da cidade e transferidos para o centro nos anos 1930 – os galpões chegaram a ser parcialmente usados como prisão para os alemães capturados na Guerra. Por fim, em 1974, Judd arrematou o restante do complexo, dando início a importantes reformas para viabilizar sua visão. Judd instalou trabalhos dentro e fora dos hangares, incluindo peças gigantescas no meio do deserto. Desde então, o local virou uma espécie de Meca para apaixonados por arte, um dos destinos mais cobiçados por artistas, colecionadores e curadores de todo o mundo!


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