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Semana passada comemoramos o Dia da Mulher Negra latino-americana e caribenha, mas a forma como as mulheres negras são retratadas (ou não) na arte é um assunto inesgotável. Um dos homens mais conhecidos por representá-las é o artista jamaicano Barrington Watson. Adepto ao realismo social, ele “feminizou” as massas e descreveu as falhas e vitalidades da Jamaica pós-independência.
O artista nasceu no dia 9 de janeiro de 1931. Aos 27 anos, foi para Londres estudar sobre arte européia e voltou para seu país em 1961 – um ano antes do país conquistar independência dos ingleses. Com a independência iminente, havia um otimismo geral no ar e, como Watson lembra, “a ilha literalmente enlouqueceu” e ele próprio estava determinado a contribuir para o desenvolvimento de seu país de origem. No contexto desses sentimentos nacionalistas, Watson expandiu o escopo de seus retratos populares e pinturas de gênero para as históricas.
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Pinturas como Morant Bay Rebellion e The Hanging of George William Gordon, por exemplo, capturam o sendo do momento. As pinturas históricas de Watson, portanto, devem ser vistas no contexto do processo pós-independência de criação de novos símbolos de identidade nacional que incluíam um hino nacional, um brasão de armas, etc. Além disso, a Jamaica criou um panteão de heróis nacionais: Marcus Garvey, Paul Bogle, George William Gordon, Alexander Bustamante, Norman Manley, Sam Sharpe – todos eles tiveram um papel importante liderando a Jamaica escravocrata e colonial ao movimento nacionalista e à independência. E todos ele aparecem nas cenas históricas ou retratos criados por Watson.
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Mas Watson não pintava apenas heróis masculinos. Muito pelo contrário: ele sempre deu atenção especial às mulheres jamaicans ao elaborar suas telas, onde elas expressam o trabalho doméstico. Em muitos momentos estas mulheres ( sem nomes!) são representadas em momentos íntimos ou de silêncios, no breve descanso da labuta. É o caso de Conversas que esteve presente na mostra História Afro-Atlânticas. Estas figuras, durante muito tempo, foram símbolo do cânone pós-colonial do Caribe.
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A figura dessas mulheres, no entanto, contrasta fortemente com os retratos do artista de figuras individuais, negras e masculinas da história de luta jamaicana. Tiana Reid alerta que o culto à heroína da massa atrapalha uma luta maior. Em texto escrito para a Frieze Magazine, contesta: “Entre esses dois nós diferentes da prática de Watson, surge uma tentativa pública internacional de conter as mulheres do país, conter as massas e transformá-las em membros de uma sociedade democrática liberal – que nunca se materializou”. E completa “Não importa o quão belamente Watson retrate essas mulheres jamaicanas – não importa quanta gratidão lhes seja dada por seus trabalhos em projetos de construção da nação pós-independência, em forjar relações sociais de apoio, em promover os ‘valores’ da revolução – a libertação e a insurgência não contraria totalmente a violência de gênero”.
A intelectual ressalta que as mulheres negras carregam o fardo da racialização, sexualização e nacionalização por serem efetivamente e teoricamente excluídas dessas categorias (negras, mulheres, cidadãs). “Revisitando Mother and Child de Watson, eu me preocupo com as promessas do lar e da família, enquanto vivo suas falhas e tento recusá-las”. Vivemos em tempo de revisão da história.
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