Rosana Paulino apresenta primeira individual na Europa

Em exposição inédita, Rosana Paulino leva suas obras carregadas pela memória da história afro-brasileira e pela luta antirracista à Europa

Instalação O Tempo das Coisas, 2022, Rosana Paulino.

Sem dúvida, uma das piores heranças culturais deixadas no Brasil pela colonização europeia foi a hierarquização de culturas que, no lugar de coexistirem, se dispõe de formas desiguais fazendo com que uma se sobreponha à outra. O ensaio Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira, de Lélia Gonzalez, funciona como um fio condutor para a exposição de Rosana Paulino intitulada O tempo das coisas, além de dialogar com as obras da artista. Gonzalez discute neste trabalho a ideia de recalcamento e repressão das culturas subalterizadas, “um dos processos de recalcamento a que a autora se refere é a noção de que existe uma cultura brasileira, herdeira europeia, que permitiu a influência de certos elementos culturais indígenas e negro-africanos na sua formação”, coloca Lorraine Mendes. 

Sempre com você… ou na mira, 2008, Rosana Paulino.

Inaugurada ontem, dia 8 de junho, na galeria Mendes Wood DM de Bruxelas, a exposição é a primeira individual de Paulino na Europa e é, certamente, um marco importante e ambíguo em sua carreira. Ambíguo no sentido de levar a sua arte marcada pela luta antirracista, antisexista e contra hegemonica justamente ao berço da cultura brancocêntrica, justamente ao lugar de onde parte a dicotomia cultural instaurada e imposta em nosso país. O evento é, entretanto, não só importante, mas interessante, já que se torna em uma oportunidade singular de fazer viver uma memória que não pode ser esquecida e trazer à tona questões que não podem ser apagadas. 

Aliás, toda a produção de Paulino dialoga com esta ideia, com a necessidade de memorar constantemente não só a forma como a nossa história se desenrolou como também do que é, de fato, feita a nossa cultura, a cultura brasileira. “A obra de Rosana Paulino desestabiliza modelos representacionais dominantes através de imagens desestabilizadoras. Enuncia e dá ênfase ao que mais se procura omitir”, analisa Mendes, “ao pensar a diáspora a artista produz obras a partir do que incomoda e oferece, àquele que caminha por entre suas peças, o espelho para que se perceba também como parte de uma rede delicadamente entrelaçada: a Europa se beneficiou por inteiro com o tráfico atlântico”, conclui.

Senhora das plantas, Espada de Iansã, 2022, Rosana Paulino

A obra de Paulino fala sobre a cultura afro-brasileira e sobre a mulher negra de um lugar de propriedade e com a linguagem e a experiência pessoal adequadas para relatar a história narrada em sua obras o que contribui para extinguir o lugar-comum de um branco explicando sobre a “alteridade”. Em cartaz até dia 30 de julho, as obras de Paulino não falham ao levar uma história omitida e subjugada para o velho continente o que permite que um novo olhar seja lançado e narrativas futuras sejam escritas.

Serviço: 
O tempo das coisas

Local: Mendes Wood DM Bruxelas 

Endereço: 13 Rue des Sablons, Bruxelas – Bélgica

Data: De 9 de junho a 30 de julho de 2022.

Funcionamento: De terça a sábado, das 11h às 19h.

Ingresso: Grátis

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support