“Gervane de Paula: como é bom viver em Mato Grosso” na Pinacoteca Luz
23 março - 10:00 - 1 setembro - 18:00
As problemáticas socioambientais e sociopolíticas do Centro-Oeste brasileiro ocupam as três salas do segundo andar da Pinacoteca Luz, com a mostra Como é bom viver em Mato Grosso do cuiabano Gervane de Paula. Sob a curadoria de Thierry Freitas, 58 obras pontuam os mais de 40 anos da carreira desse artista ativista e multifacetado. São fotografias, pinturas, esculturas e instalações que traduzem a potência de um criador em constante ebulição. A mostra segue em cartaz até 1 de setembro.
Suas primeiras telas, realizadas entre os anos de 1976 a 1980, parte delas exibidas nessa individual, fixam imagens de um Mato Grosso recém-dividido. Thierry observa: “O artista nos apresenta sensíveis interpretações da paisagem cuiabana: o Bairro do Araés – local onde o artista nasceu e reside ainda hoje -, com suas ladeiras ensolaradas e sua população multiétnica, está representado em cenas de convívio e festa. Há diversas cenas com mangueiras e cajueiros, árvores muito comuns nessas ruas naquela época. Não escapa, também, o registro social da economia local. São frequentes as cenas de pesca e de mineração, mas, principalmente, as cenas nas quais o gado aparece em profusão, já evidenciando a potência motriz que o agronegócio viria a tomar nos anos seguintes.”
Em uma clara demonstração das imbricadas relações entre humanos e bichos na região, destaca-se As filhas do fazendeiro, uma tela em que dois jacarés figuram sobre a cama e, ao fundo, duas moças observam atordoadas. Como é bom viver em Mato Grosso reflete o aspecto crítico e o humor corrosivo de Gervane que, inspirado no artista canadense-americano Philip Guston (Montreal, CA, 1913 – Nova York, EUA, 1980) cujas obras teve contato na 16ª Bienal de São Paulo, em 1981, usa, em algumas de suas criações, as figuras supremacistas da Ku Klux Klan, colocando-as num passeio de carro ao Pantanal mato-grossense.
O artista destaca a relevância da mostra. “Essa exposição é uma das mais importantes da minha trajetória artística, talvez a mais importante até o momento. Porque é uma mostra individual abrigada em uma das instituições culturais mais importantes do Brasil, a Pinacoteca de São Paulo. Segundo, porque a mostra reúne obras de períodos diversos, algumas inéditas, jamais exibidas ao público, compreendendo desde o início da minha carreira artística até a atualidade. Um momento especial, que permite um breve balanço de quatro décadas de intenso trabalho dedicado à arte.”