Arte Que AconteceArte Que Acontece
Repartição, de Edu de Barros e Raoni Azevedo, chega a São Paulo em uma parceria entre a Sé e a Galeria Jaqueline Martins, que cede um de seus espaços para a exibição do projeto. A abertura acontece no sábado, 19 de agosto, das 12h às 17h. A exposição é a etapa mais recente da série Afrescos em drywall, resultado da parceria entre Edu de Barros e Raoni Azevedo. Nos últimos anos, os artistas realizaram as instalações Altar (2021) e Capela (2022), respectivamente no pátio do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Casa Bicho, compostas por pinturas sobre estruturas arquitetônicas de drywall. Planejadas para esse fim, as instalações foram desmanteladas, transformando-se em uma série de obras autônomas que originaram Repartição, apresentada pela primeira vez na Galeria Refresco, no Rio de Janeiro, em 2022, com curadoria de Clarissa Diniz.
As obras de perfis metálicos e chapas de gesso acartonado, usados comumente na construção rápida de edifícios comerciais, mimetizam portais, arcos, quinas e nichos, saídos do interior de museus e catedrais. As superfícies são cobertas pela vigorosa imagética da pintura de Barros. O artista retrata cenas de um apocalipse mundano, onde elementos e personagens da vida cotidiana brasileira são vistos em ângulos e composições que dialogam com a tradição de mitologias e sacralidades narradas nas parede e tetos de templos. O título da exposição alude a um paradoxo técnico, um tensionamento entre os tempos dos afrescos antigos – trabalhosos, técnicos, milenares, únicos – e a contemporaneidade do drywall – rápido, modular, frágil, prático.
A curadora Clarissa Diniz comenta: “Realizados pela parceria de Raoni e Edu, as instalações surgiram a partir de convites e/ou oportunidades, se implicaram e responderam (do ponto de vista físico, histórico e simbólico) a espaços e institucionalidades específicas, assim como possuíram intenções e metas claras: criar, em lugares de culto da arte, fricções com o repertório artístico das religiosidades. Ao se despedaçarem, Capela e Altar também profanam a arte: afrontam sua intocável excepcionalidade com facas afiadas, serras, tesouras, martelos e pregos capazes de cortar e recombinar as instalativas pinturas.”
Amigos de longa data, trabalharam juntos primeira individual de Barros na Sé, Cropped, em 2020, quando, em isolamento durante a pandemia, realizaram os primeiros afrescos nas superfícies da galeria. A criação do trabalho, que posteriormente também foi repartido e comercializado, foi transmitida em tempo real pela internet. Ambos são também integrantes de uma congregação de artistas e fiéis, A Noiva – Igreja do Reino da Arte, fundada inicialmente por eles e por Maxwell Alexandre, em 2017, no Rio de Janeiro. A Igreja atua promovendo cultos, rituais e entregas em nome da Altíssima Arte.
