“Vira-casaca” de Fefa Lins na Verve Galeria

A galeria Verve apresenta Vira-Casaca, exposição individual de Fefa Lins (Recife/PE, 1991), com texto crítico e acompanhamento curatorial de Ariana Nuala. O artista, que já conta com obras em relevantes coleções públicas, como o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo e o Museu da Diversidade Sexual, inaugura sua primeira individual na cidade. Com uma série inédita, a produção de Lins vai de encontro às suas memórias, desde sua infância como criança queer, passando por seu processo de transição e a relação com seu corpo e com sua família. A exposição também tem caráter histórico, por se tratar da primeira mostra individual de um artista transmasculino em uma galeria comercial na cidade.

Por entender a pintura como um dispositivo de gênero, o artista inclui na mostra objetos de seu ateliê e de seu cotidiano, entre eles o binder, utilizado para hackear o corpo não mastectomizado, em diá com o tecido que usa para limpar seus pincéis, promovendo um diálogo entre sangue, suor e tinta. “Este rito, muitas vezes praticado pelo artista, é a sua primeira profecia, seu primeiro gesto químico, que mesmo sem alterar os elementos em sua composição, transforma na relação a agência de cada ponto. Professando transições, que muitas vezes não são visíveis a um primeiro olhar, mas que quebram condutas e estruturas”, comenta Ariana Nuala no texto que assina para a mostra.

As obras ressaltam também a relevância de olhar para as crianças desobedientes de gênero, cujo direito de falar e agir é muitas vezes suprimido. No processo de construção da exposição, o artista revisita cadernos de poesia e de desenho, assim como fotos de sua infância, ao mesmo tempo em que revela como os desenhos que fazia eram como profecias do que viveria hoje.

“A presença dos sátiros e das crianças nos propõem uma desobediência, participação ativa no mundo, onde o perigo da vida é tão iminente quanto o da morte, o desconhecido não é o outro mundo, mas sim uma possibilidade de existir. Nos convidam corajosamente a enfraquecer a soberania”, completa a curadora