Marcela Tiboni

por Julia Lima

Tempo de leitura estimado: 2 minutos

Marcela Tiboni é uma artista que sobrepõe em seu trabalho camadas de humor, violência, poder e precariedade, criando artefatos improvisados que operam dentro da lógica do do it yourself (faça você mesmo). Esses objetos-armas de papelão e madeira são simulacros utilitários e funcionais de armamentos e dispositivos de repressão reais, usados tanto pelo poder de polícia quanto pela criminalidade. A aparência de brinquedo de alguns trabalhos também contrasta com o teor “adulto” do tema, uma vez que criança e arma configura-se como uma combinação absolutamente insólita e incompatível. Essa dualidade emerge também em obras como “Biblioteca” (2015), em que livros que tratam de segurança, medo, delitos e são cortados em formato de pistola – a crença comum é de que a educação seria o caminho para evitar o ou sair do crime; no entanto, podem igualmente os livros (e o conhecimento) serem usados como armas de controle e manipulação.

Tiboni também realiza performances nas quais veste, emprega, empunha e ativa os objetos que monta e remenda, colocando seu próprio corpo como agente da ação e possível sujeito da violência, em risco pelas consequências imprevistas do (mal) funcionamento dessas ferramentas-cópias-baratas. É em obras como “Contra-Ataque” que há um convite à manipulação das armas, colocando o público como potencial algoz perpetrador da agressão. A série de objetos propositivos produzidos por ela são terreno fértil para pensar nas duas forças de um conflito – afinal, nós podemos nos encontrar no lado errado do confronto.

A artista ainda se arrisca em pinturas, desenhando e colorindo bandeiras que de imediato evocam as flâmulas e insígnias de grupos terroristas, guerrilhas e milícias. A série Arsenal, inclusive, faz referência à militarização e ao armamento utilizado pela PM no país, com peças que vão desde pequenas facas a esculturas que emulam metralhadoras, bazucas e canhões. Equipados com pólvora, esses trabalhos poderiam ser usados para de fato atirar, mas o que interessa a artista realmente é como lidamos com esse potencial da violência.

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