14 artistas negras latino-americanas e caribenhas que você precisa conhecer

Com ajuda do curador Pablo León de la Barra, selecionamos artistas de diferentes gerações mas todas conscientes de suas heranças ancestrais

Tempo de leitura estimado: 13 minutos

Para comemorar o dia Dia da Mulher Negra Latino-americana, fizemos uma lista de 14 artistas negras de diferentes gerações e poéticas. Todas, no entanto, têm algo em comum: a consciência da riqueza das culturas latinas e caribenhas e do quanto elas podem se empoderar com o mulheres negras! Respeitam e valorizam as tradições de seus ancestrais que chegaram por aqui escravizados e procuram eliminar estereótipos impregnados na cultura e pensamento contemporâneo que, ainda hoje, segue baseado numa lógica de patriarcado etnocêntrico. 

Belkis Ayón Manso
Belkis Ayón Manso

1.Belkis Ayón Manso, Cuba

A tradição das sociedades secretas Ekpe y Ngbe do Sul da Nigéria e dos Camarões foi transportada para Cuba com o tráfico de escravos e foi lá foi preservada de forma singular pela sociedade secreta  Abakuá – composto por homens afro-cubanos, esse grupo adotou o leopardo como um símbolo de coragem masculina em guerra e autoridade política. 

Uma das versões do “mito da origem” da cosmologia Abakuá refere-se a uma princesa chamada Sikán que uma manhã foi ao Rio Oddán para pegar água em uma vasilha e apanhou inadvertidamente um peixe misterioso, que, segundo a tradição, traria paz e prosperidade a quem o tivesse e que produzia um estranho som que representava a voz de um ancestral divinizado, o rei Obón Tanse.

Quando colocou a vasilha com o peixe em sua cabeça, Sikán escutou a voz sobrenatural e, dessa forma, foi a primeira a conhecer o grande segredo.  Ela foi, entretanto, confinada por Nasakó, o bruxo do grupo, em um lugar oculto no bosque, para evitar que divulgasse o segredo entre as nações vizinhas, também interessadas em se apropriar do mesmo. Mas Sikán comentou o segredo com seu amante, o príncipe guerreiro Mokongo, e foi condenada à morte. 

Belkis Ayón Manso passou a incorporar Sikán e outros personagens da cosmologia afro-cubana politeísta com o objetivo de revisitar e revirar as histórias do avesso.  

O mundo fechado, esotérico e misógino da Sociedade Abakuá terminou recebendo-a, agradecendo-lhe por sua obra e transformando-a na melhor mensageira ou embaixadora da beleza mítica e simbólica dessa comunidade. Mas infelizmente a artista cometeu suicídio aos 32 anos. Nas palavras de Orlando Hernandez: “Belkis Ayón devolve o  mito à realidade. Um mito que ainda permanece vivo e ativo. Um mito que resiste a ser uma peça no  museu, ou uma atração exótica para turistas. (…) Sua ação gira em torno da maquinaria mítica,  poderosa e  incompreensível da sociedade secreta Abakuá. E então o inesperado acontece, mas talvez também o inevitável: Uyo recomeça.  Mas desta vez sem cumprir os rigores da teimosa liturgia teimosa. Movendo-se livremente de novo. Tanze como peixe na Oddán. Quando ninguém era o proprietário do segredo. Quando o segredo era de todos. De homens. De mulheres. Ou melhor ainda, quando não havia nem mesmo o próprio segredo… Nem tampouco seria necessário o  sacrifício da  Sikan. Porque ainda não existia sua culpa nem sua traição.”

Belkis Ayón Manso
Belkis Ayón Manso

Belkis compunha suas cenas a partir de centenas de pedaços de papel macio, lixa e até cascas de vegetais, encaixando-os todos em uma folha de papelão, como elementos de um quebra-cabeça. Em seguida, ela pintava a folha e passava-a por uma impressora de manivela. O resultado impressiona pela escala dos trabalhos, mas também pela complexidade das texturas e relevos. 

Firelei Baez
Firelei Baez
Firelei Baez
Firelei Baez

2. Firelei Baez, República Dominicana

Já conhecida por explorar humor e fantasia envolvidos a partir de pesquisas sobre sociedades diaspóricas e suas culturas, que têm a capacidade de conviver com ambiguidades e usá-las para construir defesas psicológicas e até metafísicas contra invasões culturais, Firelei Baez é hoje um dos nomes mais promissores da nova geração da República Dominicana. Ela cria retratos a partir de imagens de arquivos com cores intensas ou mix de estampas e texturas expondo personagens femininas reais ou fictícias, de ascendência afro-americana como resultado de árduas pesquisas históricas. Essas mulheres são representadas ou apresentadas junto a simbolismos e elementos das culturas afro-americanas ou afro-latinas.

Firelei Baez
Firelei Baez

A artista busca criar identificação com o observador para resgatar, ou reintroduzir, relatos não contados na chamada “história oficial”. É possível identificar, então, com frequência, narrativas sobre os processos de escravidão, abuso e resistência da mulher afrodescendente. Em How to Slip Out of Your Body Quietly  a artista desenha pernas humanas que se projetam sob sementes de palmeiras germinadas. Este trabalho faz parte de uma belíssima série criada a partir do interesse de Baez pela forma como a cultura e a identidade são moldadas por histórias herdadas.

Liliana Angulo
Liliana Angulo Cortés
Liliana Angulo Cortés
Liliana Angulo Cortés

3. Liliana Angulo Cortés, Colômbia

Liliana Angulo explora, entre outros temas, a identidade racial e a cultura afro-colombiana.Na vídeo-instalação Négritude, por exemplo, ela indaga o conceito anti-colonialista apresentado por Aimé Césaire. Explora as contradições entre as ideias sobre a afirmação dos valores das culturas negras, as representações e discursos sobre a masculinidade dos homens negros que circulam nas canções de música popular do Caribe. O vídeo registra um bailarino de salsa dançando em espaços urbanos de Bogotá, usando um afro volumoso que faz lembrar as reivindicações do “Black is Beautiful” e do “Black Power”. Já no projeto ¡Quieto Pelo! investiga histórias de resistência na tradição dos penteados nas comunidades afrodescendentes. 

Myrlande Constant
Myrlande Constant
Myrlande Constant
Myrlande Constant
Myrlande Constant
Myrlande Constant

4. Myrlande Constant, Haiti

Conhecida por suas hipnotizantes bandeiras de Vodu enfeitadas miçangas coloridas e brilhantes, Myrlande Constant aprendeu a bordar com a mãe e foi muito influenciada pelo pai, um padre Vodou e Cristão, e por Milo Rigaud, autor do livro Veve e Secrets of Voodoo. Desenhos simbólicos de espíritos feitos no chão do templo de Vodou se misturam a cenas que descrevem versões alternativas dos mitos da religião haitiana que envolvem comida, unidade e solidariedade. Seu trabalho deriva de uma profunda crença em Deus – um Criador Supremo- e suas narrativas evoluem em torno dos relacionamentos dos seres humanos com os loás , que são espíritos representantes de Deus no mundo físico de Vodou, cada um com características, gostos e atributos semelhantes aos humanos. Ela é pioneira em uma prática dominada por homens, bem como uma revolucionária que trouxe cores dinâmicas e temas contemporâneos para bandeiras. Rasanbleman soupe tout eskòt yo, exposta no Hotel Faena de Miami desde o ano passado, há um equilíbrio de seu mundo espiritual com uma visão de mundo contemporânea, na qual figuras de diferentes cores, religiões e nacionalidades coexistem em uma cena de festa ou morte. “Figuras complexas que se envolvem em rituais mundanos, como dançar ou comer, encobrindo as referências religiosas da artista com a alegria da vida cotidiana e o charme de cores brilhantes”, como definiu Osman Can Yerebakan em matéria no Artnet News. Em 2021, Constant  terá uma individual no Fowler Museum. 

Karina Aguilera Skvirsky
Karina Aguilera Skvirsky
Karina Aguilera Skvirsky
Karina Aguilera Skvirsky

5. Karina Aguilera Skvirsky, Equador

O contraste entre minhas memórias e experiências no Equador e sua vida nos EUA tem sido central da prática de Karina Aguilera Skvirsky, que usa narrativas pessoais como porta de entrada para explorar questões mais amplas de lugar, identidade e nacionalidade. No filme The Perilous Journey of María Rosa Palacios, a artista equatoriana refaz o caminho que sua bisavó seguiu de sua aldeia para trabalhar como empregada doméstica em Guayaquil, enquanto busca suas próprias raízes negras.

Doris Salcedo
Doris Salcedo
Doris Salcedo
Doris Salcedo

6. Doris Salcedo, Colômbia 

Uma das mais bem sucedidas artista colombianas, Doris Salcedo cria esculturas e instalações a partir da memória da violência política de seu país. Ela usa objetos comuns – como têxteis a móveis de madeira – e se apropria de suas histórias incorporadas para dar forma aos traumas e à dor da perda criando espaços para luto individual e coletivo. Na famosa instalação Noviembre 6 y 7, por exemplo, a artista propõe uma “comemoração” do trágico massacre que aconteceu no Palácio da Justiça de Bogotá, em 6 e 7 de novembro de 1985. Ao longo de 53 horas (a duração do cerco original), cadeiras de madeira foram lentamente rebaixadas contra a fachada do novo edifício do Palácio da Justiça a partir de diferentes pontos do telhado. A artista criou, assim,  ‘um ato de memória ‘, a fim de re-habitar este espaço de esquecimento.”

Doris Salcedo
Doris Salcedo

Em Shibboleth,  a artista “rasgou”o piso da Turbine Hall, na ocuar a Tate Modern, e dentro da rachadura ela inseriu um molde de uma rocha colombiana desafiando o espectador a definir onde está o limite do real e o falso, do inglês e o colombiano. Nas palavras da artista: representa fronteiras, a experiência dos imigrantes, a experiência da segregação, a experiência do ódio racial. É a experiência de uma pessoa do Terceiro Mundo chegando ao coração da Europa. Por exemplo, o espaço que os imigrantes ilegais ocupam é um espaço negativo. E então esta peça é um espaço negativo”. Os temas dos trabalhos, portanto, podem relacionar-se à sua história pessoal, já que ela própria sofre com a violência colombiana e membros de sua família estavam entre os muitos desaparecidos no conflito colombiano, mas a discussão é mais ampla e universal. 

Awilda Sterling-Duprey
Awilda Sterling-Duprey

7.Awilda Sterling, Porto Rico 
A artista e coreógrafa porto riquenha Awilda Sterling-Duprey cria performances que combinam movimentos de dança afro-caribenha, jazz e experimental moderno.”Percebi uma conexão incrível entre o que se dança no oeste da África com o que eu conhecia da dança caribenha.  A ideia é transformar estas tradições de minha maneira. Também passei a estudar improvisação com John Coltrane e, assim, comecei a fazer conexões com o jazz que eu escutava desde pequena por causa do meu pai”, explica a artista que acredita na vida cotidiana como uma espécie de performance de longa duração. “A cultura nos ensina a estabelecer padrões de conduta e a arte/performance nos ajuda a estudar e entender nosso próprio comportamento cotidiano”, contínua artista consagrada por compartilhar a beleza da dança orixá na tradição afro-cubana. Recentemente ela passou a investigar, por meio de movimentos e percussões tradicionais, o impacto das forças destrutivas do Furacão Maria, um ciclone tropical que atingiu o Caribe em 2017,  nos corpos, mentes, emoções e no ambiente físico.

Elizabeth Catlett
Elizabeth Catlett
Elizabeth Catlett
Elizabeth Catlett

8. Elizabeth Catlett, México

A artista mexicano-americana ficou conhecida entre membros do Movimento dos direitos civis dos negros por suas esculturas e gravuras expressionistas,produzidas durante os anos de 1960 e 1970, que representavam a mulher negra e a segregação da época. Catlett  expressava as injustiças e lutas coerentes com seu tempo sob influência estética das esculturas pré-colombiana, dos nus sensuais de Henry Moore e dos murais políticos de Diego Rivera.

Elizabeth Catlett
Elizabeth Catlett

Seus trabalhos mais conhecidos retratam as mulheres negras como figuras maternas fortes. Em uma das primeiras esculturas, por exemplo, Madre e Hijo, de 1939, uma jovem mulher com cabelos curtos e feições parecidas com uma máscara do Gabão apoia uma criança contra seu ombro. Enquanto as esculturas ela moldava o barro, a madeira e a pedra com suavidade, os traços no papel eram bastante vigorosos.  Seus pôsteres de Harriet Tubman, Angela Davis, Malcolm X e outras figuras foram amplamente distribuídos.

June Beer
June Beer
June Beer
June Beer

9. June Beer, Nicarágua

A artista afro-nicaragüense ganhou reconhecimento nacional e internacional por seus trabalhos que retratavam temas africanos e feministas. Ela começou a pintar como hobby, representando as pessoas ao seu redor, homens trabalhando nos campos ou nas docas, mulheres limpando, cozinhando ou lavando roupas. Com o tempo as cenas foram ganhando cunho político,  refletindo questões da Nicarágua revolucionária – Beer era anti-Somoza apoiando os rebeldes. Suas  atividades resultaram na prisão pela Guarda Nacional de Somoza em 1970 e novamente em 1971. Ela foi criticada porque seu trabalho não era do estilo de artistas primitivos populares, que criavam paisagens detalhadas, nem era do estilo da maioria dos pintores de Manágua, cujas obras eram amplamente abstratas. Hoje, quatro de suas pinturas são patrimônio nacional e tirá-las do país é ilegal. 

Valerie Brathwaite
Valerie Brathwaite

10. Valerie Brathwaite, Venezuela

Reconhecida no cenário artístico venezuelano desde a década de 1970, Valerie Brathwaite se destacou pela sensualidade de seus volumes abstratos bastante distintos da racionalidade da geometria e do cientificismo em voga na época. “Abandonando os recursos da escultura convencional e vertical, a jovem artista preferiu continuar investigando suas formas livres, como crescimentos espontâneos do que flui e se expande na natureza”, refletiu o crítico de arte Roberto Guevara quando ela despontou no mercado. Brathwaite trabalhou com cerâmica, bronze, cimento, madeira, gesso, serigrafia e, recentemente, têxtil. Em todos os formatos, grandes ou pequenos, planos ou tridimensionais, suas formas adotam a mesma qualidade telúrica, expansiva e feminina.

“Não pretendo ter nenhuma filosofia direta para explicar meus desenhos e esculturas, nem estou comprometida com nenhum movimento artístico específico. Mas há reminiscências orgânicas e sensuais em meus trabalhos, que imagino se originam do meu fascínio pela beleza avassaladora de montanhas, rochas, pedras, plantas exóticas, seios e pernas de mulheres, torsos masculinos, pores do sol e corpos maravilhosos. dos animais “, revelou a artista em artigo para o site Tráfico Visual. Não à toa, suas esculturas lembram muito as formas orgânicas da brasileira Maria Martins que se inspirou nos contos e seres da Amazônia para criar seus trabalhos. 

Susana Pilar
Susana Pilar
Susana Pilar
Susana Pilar

11.Susana Pilar, Cuba

Jovem expoente do mercado cubano que já ganhou reconhecimento internacional, a cubana Susana Pilar propõe instalações e performances que refletem sobre o corpo negro e possibilidades da ressurreição. Na Bienal de Veneza de 2017, por exemplo, ela arrastou um pequeno barco amarrada à sua cintura por uma corda por uma das milhares de praças da cidade. “Fiz essa performance como uma maneira de refletir sobre meus ancestrais chineses e africanos que foram trazidos a Cuba sob falsas promessas ou contra sua vontade. Eu me vejo como resultado dessas viagens e carrego essa herança comigo. Estava rebocando a história da minha família, a viagem marítima dos meus antepassados, as histórias de africanos que atravessam o mar e minha própria experiência como mulher negra”, explica a artista em entrevista para a Frieze. O trabalho não é, então, sobre  todos os migrantes que se afogaram no mar, bem como aqueles que chegaram a terras sólidas para transformar Cuba no país que é hoje. Vale lembrar também que é pelo mar que muitos, desde a Revolução, também tentam deixar a ilha. No ano anterior, na performance Re-territorialization, a artista já lidava com a ideia de deslocamento e identidade ao cortar e trançar pêlos pubianos na cabeça e de pêlos na cabeça no púbis. “Por que as pessoas que foram colonizadas migram para os países que as subjugaram? A troca de pêlos de um território corporal para outro era uma maneira de explorar esse tipo de posicionamento, deslocamento e substituição”, revela. Na mostra Body Present, montada ano passado no KIOSK, na Bélgica, a artista questionou a não presença de corpos negros na História e História da Imagem e expôs facetas e heranças da colonização Belga na República do Congo.   

Joiri Minaya
Joiri Minaya
Joiri Minaya
Joiri Minaya

12. Joiri Minaya, República Dominicana
A artista dominicana-americana Joiri Minaya ascendeu na cena artsy nova iorquina ao criar instalações que buscam uma reafirmação do Eu como exercício de desaprender, descolonizar e exorcizar histórias, culturas e idéias impostas pelos padrões e histórias oficiais. “Trata-se de conciliar a experiência de ter crescido na República Dominicana com a vida e a navegação no norte dos EUA usando lacunas, desconexões e más interpretações como terreno fértil para a criatividade”, explica em seu site a artista que percebeu as expectativas geradas sobre si mesma e as transforma não cumprindo-as, mas sabotando-as e ganhando poder. Ela explora com frequência a performatividade da identidade tropical como produto – já cobriu a estátua de Cristóvão de Colombo com um tecido florido e se apropriou de imagens estereotipadas de seu país ( incluindo as  estampas que ela usou para cobrir o explorador)  para criar a instalação #dominicanwomengooglesearch

https://www.youtube.com/watch?v=49-wQtOj7iI

13. Victoria Santa Cruz, Peru

Considerada “a mãe da dança e do teatro afro-peruanos”, Victoria Santa Cruz foi uma coreógrafo, poeta e ativista. Sua obra mais conhecida é uma performance visceral na qual ela declama o poema Me Gritaron Negra. No poema, ela fala sobre sua própria experiência quando tinha 7 anos e sofreu um episódio de racismo que a marcou para toda a vida: estava na rua brincando quando gritaram que ela era negra. A artista afirma que até então não tinha consciência de o significado e poder de ser uma pessoa negra no Peru. No poema musicado com tambores ao fundo e dançado por ela e outros amigos negros, ela afirma que, na ocasião, gritou de volta, empoderada e orgulhosa de suas origens, que era sim negra rejeitando o ataque preconceituoso, rejeitando os padrões de beleza eurocêntricos, brancos. Desde então a artista trabalha com as possibilidades e significados de ser uma mulher negra. 

Tessa Mars
Tessa Mars

14. Tessa Mars, Haiti

“Estou sempre tentando encontrar maneiras de expressar minha identidade como uma mulher que habita esse corpo em particular, como uma mulher do Caribe. Renovei o interesse pela história haitiana e procuro entender como isso influenciou toda a região caribenha”, explicou a artista haitiana Tessa Mars para o site africanah. Em suas pinturas e desenhos, portanto, Tessa relaciona a vulnerabilidade e a resistência femininas envolvendo-se num processo radical de recuperação do que lhe foi retirado, fraturado e mal concebido. 

Tessa Mars
Tessa Mars

Durante uma residência em 2015, a artista desenvolveu um alter ego: o nome Tessalines é uma fusão do nome de Mars e Dessalines, o líder revolucionário haitiano. É uma imagem heróica, orgulhosa e autodeterminada e sorridente que ressurge em alguns trabalhos: bonita, ousada, desafiadora e travessa. “Tessalines é a parte de mim que é descarada e sem vergonha. Ela também é uma mistura de minhas crenças espirituais e minha identidade nacional.Uma mistura estranha, mas funciona. Tessaline também é estar confortável com essa mistura estranha, com todas as partes de mim que ainda são um mistério”, revela a artista. A história nacional e a identidade que Mars decide evocar em suas pinturas, portanto, não são recontagens típicas do heroísmo masculino. Pelo contrário, ela feminiza o passado para falar sobre os vínculos com as preocupações da sociedade contemporânea: como o passado continua a influenciar e assombrar o presente? Como heroína da Revolução Haitiana, Tessalines reescreve essa história de silêncios e enfatiza corpos femininos e negros de resistência.

Que o Dia da Mulher Negra Latino-americana seja todos os dias!

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