Arte e ativismo na ‘Semana de Arte Mundana’

Mundano chama atenção para questões socioambientais utilizando lama tóxica, cinzas de incêndios e óleo em suas obras

Lama tóxica, cinzas de queimadas florestais, óleo derramado nas praias do nordeste. Essas são as matérias-primas do artista Mundano nas obras apresentadas em “Semana de Arte Mundana”, mostra em cartaz na galeria Kogan Amaro até 26 de março.

Mundano define-se como um artivista e engloba resíduos de crimes ambientais em seus trabalhos como forma de provocar reflexões sobre questões socioambientais e a função da arte. 

O nome Semana de Arte Mundana é uma referência explícita à Semana de Arte Moderna e, para isso, o artista apresenta uma releitura do cartaz de 1922 de Di Cavalcanti. Na nova versão, a imagem do broto transforma-se numa árvore cortada ao meio, o tronco machucado com o formato do mapa do Brasil. Na exposição, há outras releituras de obras famosas, como O filho do homem (1964), de René Magritte. 

Semana de Arte Mundana
Semana de Arte Mundana.
O filho da moda, Mundano
O filho da moda, de Mundano.

A curadoria é de Enivo e Denilson Baniwa. O ambiente expositivo foi transformado em um “curral” para receber telas, instalações e esculturas; cerca de 50 obras são apresentadas. A poeta Mel Duarte fez a seleção das poesias sonoras que os visitantes ouvem enquanto passeiam pela mostra.

Somos a natureza, Mundano
Somos a natureza, de Mundano.
Consumo, Mundano
Consumo, de Mundano.

“O que proponho nessa exposição artivista, no ano em que comemoramos os 200 anos da independência do Brasil, num contexto de retrocesso socioambiental, de negacionismos descomunais, de absurdos diários que evidenciam nosso racismo estrutural, e tantos outros inumeráveis desafios… é uma ruptura. Uma ruptura desse modernismo contemporâneo totalmente descolado da realidade e dos reais desafios do Brasil e do mundo”, reflete Mundano. “Se quisermos continuar a sobreviver nesse planeta, vamos precisar de todas as ferramentas para uma grande mudança sistêmica. E a arte, em suas diversas linguagens, sem dúvida, é uma das mais importantes delas. Basta de modernismo e viva o artivismo!”, conclui.

Sobre o artista

Há mais de 15 anos, o grafiteiro paulistano Mundano utiliza a arte para marcar seu posicionamento social, ambiental e político. Em 2012, fundou a ONG Pimp My Carroça e o aplicativo Cataki, ambos voltados para a conexão entre geradores de resíduos e os catadores de material reciclável. Com o sucesso, realizou murais, exposições, grafites e palestras em mais de 20 países. 

Realismo, Mundano
Realismo, de Mundano.
Obra de Mundano, com mais de 1.000 m2, homenageia os brigadistas das florestas que apagam incêndios criminosos em uma releitura de 'O Lavrador de Café', de Candido Portinari.
Mural de Mundano em São Paulo, com mais de 1.000 m2, homenageia os brigadistas das florestas que apagam incêndios criminosos em uma releitura de O Lavrador de Café, de Candido Portinari.

Nos últimos anos, Mundano desenvolve pesquisa de materiais, coletando resíduos dos maiores crimes ambientais do país e cria insumos a partir desses dejetos: lama da tragédia de Brumadinho, cinzas de queimadas no cerrado, na Amazônia, na Mata Atlântica e no Pantanal e óleo que atingiu as praias do nordeste. Sua última obra, com mais de 1.000 m2, homenageia os brigadistas das florestas que apagam incêndios criminosos em uma releitura de O Lavrador de Café, de Candido Portinari. 

Semana de Arte Mundana

Data: até 26 de março

Local: galeria Kogan Amaro

Endereço: Alameda Franca, 1.054, Jardim Paulista

Funcionamento: segunda à sexta, das 11h às 19h; aos sábados, das 11h às 15h

Ingresso: grátis (reservas aqui)

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