Conheça OSGEMEOS: os grafiteiros aclamados dentro do museu

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Década de 1950. O lituano Albino Kanciukaitis desembarca no Brasil cheio de memórias, coragem, criatividade…e sem papas na língua. Ele é o avô de Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como OSGEMEOS, e foi um dos grandes incentivadores de uma família inteira de artistas! “Meu avô não tinha dinheiro, precisava fazer tudo com o que tinha na mão. Foi com ele que meu irmão mais velho, o Arnaldo Pandolfo, aprendeu a fazer os próprios brinquedos. E ele fazia para a gente também…fomos aprendendo a transformar, por exemplo, uma caixa de sapatos em um boneco. E tudo foi acontecendo naturalmente, ficávamos pirando em casa”. Os tais “brinquedos” são hoje concorridas esculturas entre grandes colecionadores de arte. Mas como uma brincadeira de criança virou arte?

Apesar da história de Gustavo e Otávio começar em casa o turning point de suas carreiras aconteceu na rua, mais especificamente no metrô São Bento. Garotos apaixonados por rap, hip hop, break e grafitti se reuniam regularmente para trocar referências e ideias. “Não tinha internet ainda, ne? Às vezes um conseguia uma revista, outro trazia um filme. A gente queria estudar, aprender. Mas o movimento do hip hop chegou com cerca de uma década de atraso no Brasil”, explica Gustavo. Os irmãos chegaram a dançar e cantar em um mesmo festival que os Racionais MCs, em 1988, na avenida Paulista. Mas logo entenderam que o grafite seria sua maior forma de expressão. “O grafite foi uma forma de fugir daquele mundo que era muito duro. Se você não tomar a rua, ela vai tomar você!”, conta Gustavo.

Uma vez decididos, começaram a estudar todo tipo de técnica e traço para encontrar o estilo próprio até chegarem nos já famosos bonecos amarelos que hoje ocupam paredes do mundo inteiro: Londres, Paris, Milão, Tóquio, Los Angeles, Nova York, Berlim, Havana, Hong Kong, Atenas e até Kaunas. “Dentro desse mundo do graffiti, DJ, MC, B-boy…você precisa ser MUITO bom. Senão eles mandam você parar e observar quieto. Quando você entra na roda na Estação São Bento, vc tem que saber dançar!”, explica Gustavo. ” A gente percebeu que era importante ter um estilo próprio. O Speto, por exemplo, tinha um traço só dele. Estudamos muito para encontrar o nosso”, completa Otávio.

“Na verdade eu fui pintar lá no Cambuci ( bairro onde OSGEMEOS nasceram, cresceram e montaram o ateliê onde trabalham até hoje) e eles foram atrás de mim para tirar satisfação porque eu estava invadindo a área deles. Quando eles chegaram e viram o que eu estava fazendo, gostaram e começaram a perguntar como eu fazia, ficamos amigos desde então”, explica Speto!

O clima bucólico do bairro Cambuci, aliás, é um fator importante da biografia dos meninos. “Ficava todo mundo na rua, de portas abertas. O clima é bem de interior…todo mundo conhecia a gente, sabiam que éramos filhos da minha mãe. Era bem mais tranquilo do que hoje e ninguém achou ruim quando começamos a pintar os muros.”, conta Otávio. As do bairro tiveram o privilégio, muitos anos antes de os irmãos nascerem, de serem pintadas por outro grande pintor brasileiro: Alfredo Volpi morou lá até morrer em 1988, pintava paredes e murais sob encomenda no começo da carreira e também retratou o bairro em sua obra. Os pais da dupla, Walter e Margarida Pandolfo, contam que lembram de Volpi caminhando pelo bairro e chegaram a levar os filhos ao encontro do pintor em uma festa, no começo da década de 80.

E o reconhecimento no mundo das artes? Ele veio primeiro lá fora, depois no Brasil. Mas chegou! O marchand Jeffrey Deitch, da galeria Deitch Projects, em Nova York, que representa, entre outros, Basquiat, Keith Haring e Barry Macgee, foi o primeiro a levar o trabalho dos meninos para uma galeria. Em 2006, Márcia Fortes, da galeria Fortes Vilaça percebeu o talento da dupla e passou a representá-los no Brasil. Eles transformaram a galeria em uma de suas famosas cabeças amarelas e ocuparam a galeria inteira criando uma exposição imersiva que deu fila na porta! Em 2009 o ápice internacional: pintaram a parede da Tate Modern e, pouco depois, estavam na Fondation Cartier. No próximo mês, ganham a primeira retrospectiva em uma instituição brasileira. A Pinacoteca de São Paulo receberá cerca de 60 trabalhos, sendo a maioria inéditos no Brasil. Uma bela oportunidade para mergulhar na história, processo criativo e universo lúdico dos irmãos. “Às vezes a gente esquece de acreditar no sonho, sonho de viver outra coisa. Nessa correria de SP a gente se preocupa com tantas coisas, que esquece de pensar em você com você mesmo”, ressalta Otávio. Vai perder?

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