15 pavilhões imperdíveis na Bienal de Veneza 2024

Confira a nossa seleção com alguns dos pavilhões internacionais mais aguardados

Tempo de leitura estimado: 10 minutos

A partir de hoje, dia 17 de abril, o mundo da arte se reúne na Itália para a 60ª Bienal de Veneza, a maior e mais estimada exposição de arte recorrente do mundo. Intitulada “Stranieri Ovunque – Foreigners Everywhere” [Estrangeiros em Todos os Lugares], a exposição principal será curada pelo brasileiro Adriano Pedrosa, tornando-se o primeiro latino-americano a ocupar essa posição. Neste contexto, o conceito de “estrangeiro” abrange tanto a atual crise de refugiados quanto as heranças da diáspora e inclui também aqueles que são marginalizados em seus próprios territórios.

Além da exposição principal, muitos visitantes também se interessam pelos pavilhões nacionais, que ocorrem simultaneamente ao evento artístico. Este ano, a Bienal contará com a estreia de países como Etiópia, com um projeto do pintor Tesfaye Urgessa; República do Benin, com uma exposição coletiva sobre a restituição dos tesouros reais do país; e Timor Leste, com as obras de Maria Madeira, destacando a herança cultural timorense. A Itália apresenta uma instalação concentrada na experiência sonora de Massimo Bartolini, enquanto a Suíça traz o artista suíço-brasileiro Guerreiro do Divino Amor. No pavilhão espanhol, a peruana Sandra Gamarra reinterpreta a narrativa colonial do país, e Jeffrey Gibson é o primeiro artista indígena a representar os Estados Unidos.

Confira a nossa seleção com alguns dos pavilhões mais aguardados!

Sandra Gamarra Heshiki, “Illustrated Racism III”, parte do projeto “Pinacoteca Migrante”, 2024. Foto: Oak Taylor-Smith

1. Espanha | Sandra Gamarra

A artista peruana reúne cem pinturas que reconfiguram a narrativa colonial espanhola a partir de uma perspectiva migrante e é a primeira artista estrangeira selecionada para representar o país na Bienal de Veneza. Seu projeto, intitulado “Pinacoteca migrante”, investiga narrativas coloniais e modos históricos de representação. Curado por Agustín Pérez Rubio, experiente na arte latino-americana, o projeto propõe uma revisitação do patrimônio pictórico espanhol, questionando representações estereotipadas e silenciando culturas.

Gamarra utiliza pinturas desde a era do Império até o Iluminismo como ponto de partida, analisando a relação entre colonizadores e colonizados. Através de seis salas temáticas – Tierra Virgen; Gabinete da Extinção; Gabinete do Racismo Ilustrado; Máscaras Mestiças; Retábulo da Natureza Moribunda; e Jardim Migrante –  ela combina artes plásticas com citações ecofeministas e modificações de ilustrações de arquivos reais para abordar temas de migração e colonialismo.

Local: Giardini

Precious Okoyomon, “Earthseed”, 2020. Foto: Axel Schneider

2. Nigéria | “Nigeria Imaginary”

Marcando o segundo ano de participação do país, o projeto contará com um grupo intergeracional de nove artistas da Nigéria e de sua diáspora, incluindo Tunji Adeniyi-Jones, Ndidi Dike, Onyeka Igwe, Toyin Ojih Odutola, Abraham Oghobase, Yinka Shonibare, Fatimah Tuggar e Precious Okoyomon. Intitulada “Nigeria Imaginary”, a mostra é curada por Aindrea Emelife, curadora de arte contemporânea e moderna no Museu de Arte da África Ocidental (MOWAA), e abordará o saque do Reino do Benin, além de temas como o levante End Sars de 2020 e a cultura pós-independência do país.

A mostra terá lugar em um palazzo histórico em Dorsoduro, próximo à Gallerie dell’Accademia e posteriormente será transferida para o MOWAA em uma forma expandida em 2025.

Local: Palazzo Canal, Rio Terà Canal, Dorsoduro 3121

Imagem: Jeffrey Gibson na Bienal de Veneza 2024. Crédito: Brian Barlow

3. Estados Unidos | Jeffrey Gibson

Artista queer e natural do povo Choctaw-Cherokee, Jeffrey Gibson apresenta obras que refletem tanto a luta quanto a liberdade e faz história ao ser o primeiro artista indígena a representar o país com um pavilhão solo. Intitulada “the space in which to place me”, a mostra é preenchida com bandeiras, pinturas, esculturas e um vídeo que envolvem o edifício com padrões geométricos, trabalho de contas, textos evocativos, uma profusão psicodélica de cores e referências políticas às histórias indígenas e americanas em geral. O projeto em Veneza busca integrar uma narrativa nativo-americana com outras histórias de luta e liberdade.

A cocuradora do projeto, Kathleen Ash-Milby, do Museu de Arte de Portland e membro da Nação Navajo, será a primeira indígena americana a liderar o Pavilhão dos EUA, ao lado da curadora independente Abigail Winograd.

Local: Giardini

Guerreiro do Divino Amor, cena de “O Milagre de Helvetia”, 2022. Cortesia do artista

4. Suíça | Guerreiro Divino Amor

Sob o título “Civilizações Super Superiores” e com sua abordagem irônica e surrealista, o artista suíço-brasileiro apresentará vídeos que questionam as percepções de países como a Suíça, muitas vezes idealizados como paradigmas de perfeição.

O trabalho para o Pavilhão Suíço, com curadoria de Andrea Bellini, busca trazer reflexões críticas sobre a linguagem visual presente nos mitos políticos nacionais, explorando sua carga cultural e hierarquização. Guerreiro apresentará um vídeo sobre a Suíça, abordando a imagem “intocável” de seu país natal como apoteose do capitalismo, e outro sobre Roma, no qual a performer Ventura Profana é vista subindo nua a imponente escadaria do Instituto Suíço na cidade italiana e, em seguida, tirando selfies em locais turísticos. O artista adota um tom de deboche para o trabalho em relação ao classicismo romano e às multidões de visitantes.

Local: Giardini

Koo Jeong A, “Gossura, Tacit Truth”, 2020. Cortesia da artista e PKM Gallery

5. Coréia | Koo Jeong A

A artista sul-coreana, que teve participação na 32ª Bienal de São Paulo, expande seu interesse de longa data pela efemeridade propondo conexões entre memória e identidade nacional com ênfase em como aromas, cheiros e odores contribuem para essas memórias por meio da instalação sensorial “ODORAMAS CITIES”.

Durante o verão de 2023, Koo Jeong A coletou memórias olfativas de coreanos e não-coreanos com relação ao país para criar um retrato da península coreana. Esse processo, realizado através de chamamentos públicos e colaborações com perfumistas, resultou na categorização de mais de 600 declarações escritas em 17 experiências olfativas distintas especificamente para o pavilhão. Curada por Seolhui Lee e Jacob Fabricius, a exposição marca os 30 anos do Pavilhão Coreano nos terrenos da Giardini e inclui 16 aromas experimentais e um perfume comercial. 

Local: Giardini

Imagem da instalação de filme em três telas de John Akomfrah, Vertigo Sea, 2015. Crédito: Smoking Dogs Films. Cortesia de Smoking Dogs Films e Lisson Gallery

6. Grã Bretanha | John Akomfrah

Conhecido por suas instalações expansivas que abordam temas entrelaçados sobre globalismo, colonialismo, migração e racismo através do meio cinematográfico, John Akomfrah agora apresenta sua nova peça “Listening All Night To The Rain”, comissionada pelo British Council para a Bienal de Veneza, através de uma lente auditiva.

Nessa produção, o artista britânico redefine narrativas históricas através do elemento sonoro, destacando a importância da escuta em um contexto contemporâneo marcado por desafios socioambientais. Com uma instalação composta por oito telas intersectadas e sobrepostas, Akomfrah destaca tanto a conexão emocional quanto o potencial do som como veículo de ativismo.

Local: Giardini

Retrato de Julien Creuzet. Crédito: Spela Kasal

7. França | Julien Creuzet

O artista franco-caribenho, um dos participantes da última Bienal de São Paulo, é conhecido pelo entrelaçamento de práticas de escultura, instalação e intervenção textual, abordando frequentemente sua própria experiência diaspórica, e irá apresentar um projeto totalmente novo para o pavilhão francês.

Compostas por redes intrincadas de fios, metal, plástico, cordas e outros materiais, suas obras prestam homenagem às migrações de povos para e desde o Caribe, criando uma mistura de materiais, histórias, formas e gestos. Seus trabalhos trazem importantes reflexões sobre questões contemporâneas, indo além da oposição entre identidade e universalidade e traçando respostas poéticas e artísticas inesperadas. Para esta edição da Bienal de Veneza, Creuzet apresenta um trabalho multissensorial, transformando o Pavilhão da França em um espaço permeado por fluidos e conectado a Veneza pela água, investigando suas formas, materiais e temas variados.

Local: Giardini

Azu Nwagbogu em uma viagem de pesquisa a Benin no Mercado do Museu Histórico de Abomey. Cortesia de UGO.

8. República do Benin | “Everything Precious Is Fragile”

O pavilhão de estreia do país, sob a curadoria de Azu Nwagbogu, que é conhecido por seu trabalho em prol da arte e fotografia contemporânea africana, busca promover o patrimônio cultural e a diplomacia em torno da restituição dos tesouros reais do Benin. A exposição irá explorar a história do Benin, abordando temas como o comércio de escravos, espiritualidade, religião Vodun, e a filosofia Gèlèdé, com foco na “rematriação”, uma interpretação feminista da restituição que defende não apenas o retorno de objetos, mas também a filosofia e os ideais beninenses que antecedem a era colonial.

O projeto inclui os artistas Ishola Akpo, Moufouli Bello, Romuald Hazoumè e Chloé Quenum, e conta com a participação de Yassine Lassissi, curador da La Galerie Nationale du Bénin, e do arquiteto Franck Houndégla.

Local: Arsenale

Maurizio Cattelan, “La Nona Ora”, 2019. Foto: Leon Neal/Getty Images.

9. Santa Sé | “With My Own Eyes”

O Vaticano apresenta o Pavilhão da Santa Sé, com um projeto coletivo que conta com a participação da brasileira Sonia Gomes, visando chamar a atenção para as pessoas marginalizadas e destacar a importância dos direitos humanos. O estado religioso optou pela escolha inusitada de Maurizio Cattelan, que anteriormente criou uma escultura representando o Papa derrubado por um asteroide. Para esta edição, Cattelan apresentará seu trabalho em uma prisão feminina na ilha de Giudecca, com a colaboração das detentas para uma peça que será exibida fora do centro de detenção. Além de Cattelan, a lista de artistas para o pavilhão inclui nomes como a escultora Simone Fattal, Claire Fontaine, Corita Kent, Claire Tabouret, entre outros. A apresentação foi organizada por Chiara Parisi e Bruno Racine.

Local: Casa de detenção feminina de Veneza, Giudecca

Wael Shawky, Drama 1882, 2024, © Foto: Mina Nabil. Cortesia do artista, Sfeir-Semler Gallery, Lisson Gallery, Lia Rumma, Barakat Contemporary

10. Egito | Wael Shawky

Conhecido por suas narrativas que entrelaçam referências históricas e literárias, Wael Shawky, nascido em Alexandria, cria histórias imersivas que mesclam fábula, fato e ficção, explorando conceitos de identidade nacional, religiosa e artística. Para o Pavilhão Egípcio, ele apresenta “Drama 1882”, uma adaptação filmada de uma peça musical original sobre a revolução nacionalista de Urabi contra a influência imperial em 1879-82, cantada em árabe clássico. O filme é acompanhado por vitrines, esculturas, pinturas, desenhos e um relevo de espelho de Murano, refletindo sobre a ocupação histórica do Egito e a urgência da mudança política global. Juntamente com a Bienal de Veneza, o filme de 2023 de Shawky, “I Am Hymns of the New Temples”, será exibido no Museo di Palazzo Grimani.

Local: Giardini

Yael Bartana, The Undertaker, 2019

11. Alemanha | “Thresholds”

O Pavilhão Alemão apresentará o projeto “Thresholds,” com curadoria de Çağla Ilk, abrangendo o pavilhão nos Giardini e a ilha de La Certosa a leste. O pavilhão contará com obras da artista nascida em Israel, residente em Berlim e Amsterdã, Yael Bartana – que já representou a Polônia na Bienal de 2011 –, e de Ersan Mondtag, criador de teatro e artista performático com sede em Berlim. Ambos agora abordarão temas de nacionalidade e trauma com Bartana apresentando uma nova obra sobre “um mundo à beira da destruição total”, enquanto Mondtag exibe uma instalação “que reviverá épocas passadas como ambientes vivos”. Além disso, os artistas Michael Akstaller, Nicole L’Huillier, Robert Lippok e Jan St. Werner criarão um espaço ressonante em La Certosa, contrastando com a monumentalidade do pavilhão e enfatizando a passagem por um espaço limiar.

Local: Giardini e Isola della Certosa

Massimo Bartolini. Hagoromo. Vista da exposição no Centro per l’arte contemporanea Luigi Pecci, Prato 2022. Foto © Ela Bialkowska OKNOstudio

12. Itália | Massimo Bartolini

O Pavilhão Italiano, um dos maiores na Bienal de Veneza, será preenchido com uma exposição que se concentra na experiência sonora, projetada por Massimo Bartolini. O amplo espaço terá estruturas metálicas formando um labirinto de jardim industrial, enquanto no centro uma piscina é agitada por ondas que simbolizam o batimento cardíaco de um ser orgânico. Tubos de órgão feitos à mão, dispostos de lado como caixões, executam uma nova composição musical de Caterina Barbieri e Kali Malone, que evoca paz e terror de música religiosa. No jardim externo, uma peça do compositor britânico Gavin Bryars é reproduzida por alto-falantes ocultos.

O artista italiano trabalha com uma variedade de meios, desde performance e som até escultura, fotografia, vídeo e instalações públicas em grande escala, com um foco inicial em música e dança e uma evolução para instalações imersivas em grande escala. O pavilhão será organizado pelo curador Luca Cerizza.

Local: Arsenale

Tesfaye Urgessa, “Sleeping baby bird 2”, 2021

13. Etiópia | Tesfaye Urgessa

A Etiópia participará pela primeira vez na Bienal de Veneza com o pintor Tesfaye Urgessa, cujos temas remetem a representações entrelaçadas de raça e política de identidade, refletindo sua experiência como imigrante etíope na Alemanha. Urgessa estudou com Tadesse Mesfin na Etiópia e depois se formou na Staatlichen Akademie em Stuttgart, vivendo na cidade alemã por 10 anos antes de retornar a Adis Abeba em 2022. Suas figuras clássicas com corpos contorcidos criam uma tensão psicológica distorcida, oculta em ambientes domésticos. O pavilhão será curado pelo poeta, autor e locutor britânico Lemn Sissay.

Local: Palazzo Bollani, Castello 3647

Sal de marca libre y la Maldon salan, 2016. Cortesia do artista e kurimanzutto, Cidade do México. Foto: Abigail Enzaldo

14. Cuba | Wilfredo Prieto García

O artista cubano, conhecido por sua obra “Apolítico” de 2001, continuará investigando as noções de inclusão e exclusão em seu novo projeto para a 60ª Bienal de Veneza, “Cortina”, sob a curadoria de Nelson Ramirez de Arellano.

A exposição aborda, com um gesto poético, a responsabilidade da integração implica – sentir-se ou não parte de algum lugar – ao questionar como entendemos nossa realidade, considerando um núcleo heterogêneo de conhecimento histórico, filosófico e geográfico. Ela examina a casualidade que todos têm na evolução e seleção natural, revelando mudanças e diferenças sociais, raciais, étnicas, políticas e econômicas. A análise da realidade ocorre entre opostos e níveis de sensibilidade, destacando que, apesar das diferenças, somos parte de um mesmo todo.

Local: Teatro Fondamenta Nove, Cannaregio 5013

Maria Madeira, “Kiss and Don’t Tell” (detalhe), 2024. Crédito: Cortesia da artista e Anna Schwartz Gallery

15. Timor Leste | Maria Madeira

O primeiro Pavilhão de Timor-Leste na Bienal de Veneza apresentará o projeto “Kiss and Don’t Tell”, de Maria Madeira. Madeira, que cresceu em um campo de refugiados em Portugal e vive atualmente em Perth, Austrália, irá misturar ternura e trauma com a intimidade de um beijo ao beijar as paredes do pavilhão com marcas de batom enquanto canta canções tradicionais em tetum. Sua obra é um reflexo da experiência de deslocamento, representando a herança cultural de Timor-Leste e coincidindo com o 25º aniversário da independência do país. Natalie King, curadora do pavilhão de 2022 da Nova Zelândia, retorna para organizar este pavilhão.

Local: Spazio Ravà, San Polo 1100

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support