Dos artistas para o Brasil: espaços independentes nas 5 regiões do país

Conheça nossa seleção de 14 iniciativas independentes em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Planaltina, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Luís

Conheça nossa seleção de 15 iniciativas independentes em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Rio de Janeiro, Salvador, e São Luís
Uma das salas do Acervo da Laje, que resgata a arte invisível do Subúrbio Ferroviário de Salvador (divulgação)

Ser artista no Brasil não é fácil, sabemos bem. Com a descontinuidade das políticas públicas voltadas para o setor – até outro dia, não tínhamos Ministério da Cultura, que voltou com o novo governo – quem quer viver de arte está sempre fazendo malabarismos para difundir seu trabalho e criar conexões mais diretas entre os agentes artísticos e o público. Por isso, espaços independentes geridos por artistas e curadores são fundamentais para a produção fora das demandas do mercado, que só se beneficia com a atuação desses organismos e com o olhar disruptivo que eles promovem. Já tínhamos falado de algumas iniciativas de artistas em São Paulo. Desta vez, fizemos uma seleção de 14 iniciativas no país que movimentam a cadeia produtiva da arte a partir de seus agentes, para além do mainstream e da capital paulista, disseminando em sua atuação coletiva e em rede a ideia de que o mundo pode ser muito melhor tendo a arte como fio condutor, das pioneiras até algumas recém-nascidas. E olha que estamos longe de conseguir listar todos os espaços, como os cariocas já estabelecidos Casa Bicho, Oásis, Rato Branko e mesmo o coletivo A Noiva, ou Igreja do Reino da Arte, famoso por ter entre seus membros o artista Maxwell Alexandre e realizar cultos pela Altíssima Arte. Mas vamos ao que interessa, siga lendo e saiba mais sobre:

Uma das casas que abrigam o Acervo da Laje, em Salvador, gerido por José Eduardo e a mulher, Vilma, sem incentivo público (divulgação)

Acervo da Laje – Salvador (BA)Acreditar na importância de mostrar a arte produzida à margem dos grandes centros e das instituições fez José Eduardo Ferreira Santos fundar em 2010 o Acervo da Laje. Desempenhando as funções de museu, casa (de José Eduardo e sua companheira na vida e no projeto, Vilma Santos) e escola,  o espaço no São João do Cabrito, Subúrbio Ferroviário de Salvador atualmente conta com duas casas com bibliotecas, galerias, exposições permanentes e temporárias, sala de música, hemeroteca, além de espaços para oficinas e bate-papos na laje. “Os espaços contam com muitas obras de arte de artistas das periferias e de outras localidades da cidade e do Brasil”, disse com exclusividade para o AQA José Eduardo. Os festejos de treze anos de existência contam com uma grande festa e a colaboração com as exposições de César Bahia no MAR, Dos Brasis, no Sesc Belenzinho e o Acervo Origens, no Itaú Cultural. E as parcerias vão além do território nacional. “Estamos participando junto a 3 museus da África e 2 da Índia no projeto Museum Futures, que pretende discutir e planejar as ações do Acervo da Laje para os próximos anos, com o apoio do Goethe Institut da África do Sul”. Na própria sede do Acervo, serão realizadas 3 exposições: Justiça, Ex-voto e Acervos da dor, Acervos da esperança, paralelamente a uma ampla programação de oficinas. São incontáveis as atividades já realizadas pela instituição, entre elas o projeto soteropolitano #OcupaLajes (nas edições de 2016 e 2018) e a 3ª Bienal da Bahia (2014) e 31ª Bienal de São Paulo (2014). José Eduardo e Vilma são o exemplo da resiliência dos espaços independentes de arte no Brasil: o financiamento do projeto é feito pelas doações espontâneas por pix do público. “Não contamos com nenhum apoio financeiro de órgãos públicos”, comenta. “Quando acessamos editais e financiamentos específicos, temos uma equipe de colaborativa que é acionada, pois contamos com a colaboração de muitas pessoas”.

Fachada do casarão histórico onde fica a Alfaiataria, espaço de artes cênicas e visuais em Curitiba (divulgação)

Alfaiataria – Curitiba (PR)

Para evitar a venda de um imóvel histórico de família, que foi de fato a casa de costura de um parente da fundadora e gestora, a atriz e diretora Janaína Matter, a Alfaiataria foi inaugurada em 2019 tendo a intenção de movimentar a cena cultural de Curitiba. Com foco maior em artes cênicas e visuais, mas vocação multidisciplinar, o espaço tem os projetos fixos Feira Estopim, de publicações e impressos, realizado em novembro do ano passado e com periodicidade anual, e o Encontro Internacional de Mulheres da Cena – Edição Reverbe, realizado em dezembro de 2022 e com periodicidade bienal. O espaço também sedia eventos nacionais e internacionais diversos como apresentações, cursos e exposições, como as individuais de Bruna Alcântara e Mariê Balbinot, realizadas em 2022, e a coletiva Lambida, entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano, com curadoria de Luana Navarro. Para 2023, a equipe fixa, que conta com os produtores Guilherme Jaccon e Alice Cieslinski e as técnicas de iluminação Lucri Reggiane e Tainara, prepara para março e abril a exibição de algumas peças pela Mostra Fringe do Festival de Curitiba (de 30/3 a 6/4), uma feira de vinis nos dias 15 e 16/4 em parceria com a Joaquim Livros e o lançamento de publicação de Claudia Zimmer em 27/4 além de cursos de teatro e canto semanais.

Uma das exposições realizadas da Alfinete Galeria, em Brasília (divulgação)

Alfinete Galeria – Brasília (DF)

Ocupando uma sala pequena de 24 m² para ter “baixo custo material e humano”, a Galeria Alfinete foi aberta em 2013 por Dalton Camargos, que ainda hoje é o gestor e programador artístico do espaço. Inicialmente voltada para artes visuais, logo tornou-se multidisciplinar. Com o passar do tempo, a galeria se mudou para 3 diferentes endereços e hoje se localiza na Asa Sul da capital do país, num espaço com duas salas expositivas, uma sala para acervo, um bar e um terraço para convivência, inaugurando com a individual de Gê Orthof e uma coletiva com artistas como Elder Rocha, Bia Leite, Marcelo Gandhi e Camila Soato. O foco das atividades é o processo de construção artística e seus desdobramentos na produção contemporânea. A programação é aberta e ampla, contempla exposições de arte, encontros com artistas, palestras, cursos, intervenções no espaço público e projetos com artistas de diferentes áreas, como artes visuais, música e teatro. A agenda de 2023 já está completa, com exposições de artes visuais e projetos na área da música e do vídeo. Entre as mostras programadas, estão as individuais de Milton Marques, Gê Orthof e Júlia Milward, entre outros. Entre 10 e 11 de março, a primeira edição da Feira Miúda vai levar ao público a produção de 12 artistas, além de brechó, joias e cerâmicas, com preços especiais.

Casarão histórico que é sede da Associação Cultural Fotoativa (divulgação)

Associação Cultural Fotoativa – Belém (PA)

Fundada em Belém em 1984 pelo fotógrafo Miguel Chikaoka durante o processo de abertura política e período final da ditadura militar no país, a Fotoativa é a mais antiga das iniciativas do gênero ainda em funcionamento e se consolidou como um núcleo de referência da fotografia na região amazônica e como um projeto cultural de ampla atuação e diversas parcerias. Convertido em Associação Cultural em 2000, o projeto hoje ocupa o Casarão Fotoativa, na Praça das Mercês, Centro Histórico de Belém. O espaço foi doado ao projeto pela Prefeitura da cidade em 2005, no ano seguinte à Fotoativa ter recebido os títulos de “Utilidade Pública Municipal” (Prefeitura Municipal de Belém) e “Utilidade Pública Estadual” (Governo do Estado do Pará). São muitas as atividades realizadas pela Associação ao longo de sua existência: desde cursos e oficinas, viagens “fotoexploradoras”, encontros, exposições e projetos como o Fotovaral, que possibilita a exibição de fotos em locais públicos de forma fácil e acessível. 

Exposição coletiva Pega a Visão!, realizada no fim do ano passado no Bacorejo (divulgação)

Bacorejo – Rio de Janeiro (RJ)

Às vezes, a menor distância entre o artista e um espaço expositivo é tornar-se gestor independente. Foi pensando em apoiar e divulgar novos artistas ainda sem galeria que os artistas Dj Papagaio e Rafael Baron criaram em maio do ano passado a galeria Bacorejo, palavra que segundo o dicionário quer dizer “pressentimento auspicioso; intuição, palpite, presságio”, definição que consta no Instagram do projeto. Com sede no Centro da capital fluminense, na Rua do Rosário, a Bacorejo já tem agendadas em sua programação para este ano 3 coletivas e 4 individuais em processo de construção, “que ainda não podemos divulgar”, segundo falou ao AQA a equipe da galeria, atualmente exibindo a individual Pequenos Formatos, da artista Andy Villela, em cartaz até o fim de março. “Todas as atividades realizadas até agora foram muito importante para nós, sem exceção, ficamos muito satisfeitos com os resultados e o com a felicidade dos artistas que embarcaram conosco”, comentou a gestão da galeria. Além dos dois fundadores, fazem parte da coordenação do espaço Carla Oliveira, Renan Horta e Luyza de Luca.

Casarão ocupado pelo Chão Slz durante evento (divulgação)

Chão Slz – São Luiz (MA)

Samantha Moreira, cogestora e cofundadora do Chão Slz, de São Luís do Maranhão, é veterana dos espaços independentes. Sua trajetória começou em Campinas, com a abertura do Ateliê Aberto em 1997. Juntando-se ao artista Thiago Martins de Melo em 2017, aproveitaram um casarão colonial no coração do Centro Histórico da capital maranhense para criar um espaço para encontros, residências e cursos de artes visuais e artesanias. Hoje, tendo como gestores a própria Samantha aliada a Camila Grimaldi, Dinho Araújo e Thadeu Macedo, a maior conquista do Chão Slz é a resistência e a permanência: “Entre os projetos mais importantes, está a própria condição de o Chão existir, nesse contexto do Maranhão, e o que se articula no Chão e a partir do Chão”, falou com exclusividade ao AQA Samantha Monteiro. De fato, um equipamento de difusão e reflexão artística num dos extremos do país conecta Nordeste a Sudeste e às demais regiões. Para este ano, o Chão Slz tem agenda cheia: estão previstos a residência com Lucimelia Romão (Salvador) pelo Prêmio Foco ArtRio (até março), residência do artista Javier Velásquez Cabrero (México, março), a abertura em São Luís da 17ª Verbo – Mostra de Arte Performance, em parceria com a Galeria Vermelho,  residências em parceria com a Casa do Sereio, em Alcântara (MA), e a Preamar #3 – Ações em Rede a Partir do Maranhão.

Abertura de exposição no fim de 2022 na 5Bocas (divulgação)

5Bocas – Rio de Janeiro (RJ)

Não faz muito tempo, o artista Allan Weber teve uma de suas obras, uma metralhadora feita com câmeras fotográficas, incluída na mostra Histórias Brasileiras (2022), do Masp. Sinal de que vem dando frutos a empreitada para difundir seu trabalho e de outros artistas periféricos, a galeria 5Bocas, desde 2021 em plena atividade no subúrbio carioca de Brás de Pina, Zona Norte da cidade maravilhosa. O nome 5Bocas é o mesmo da favela onde o espaço está localizado e o artista mora. Assim como a turma do Bacorejo, Weber fundou o espaço para difundir a arte contemporânea de fora do mainstream e do circuito tradicional, principalmente aquela produzida na quebrada. Mesmo não mirando a comercialização de obras, a 5Bocas realiza exposições coletivas e individuais e deve fazer chamadas abertas neste ano, promovendo o relacionamento entre a arte contemporânea com seu entorno. Mais do que a simples ideia de abrir um espaço de arte, a 5Bocas busca colocar Brás de Pina e a periferia no centro do debate artístico, apropriando-se da linguagem e da estética da quebrada para fazer e difundir arte. De quebra, ainda mostra pra favela que sua arte vem conquistando cada vez mais o mercado e tem valor.

Casa ampla que abriga a Galeria Prisma desde outubro de 2022 (divulgação)

Galeria Prisma – Curitiba

Como tornar o percurso do artista até a galeria mais rápido e direto? Em abril de 2022, um grupo de amigos juntou-se em torno dessa pergunta, e em outubro surgiu a Galeria Prisma, primeiro para grupos menores, e finalmente em dezembro para o público em geral. A equipe formada pelos curadores e sócios Eduardo Milek (artista que têm seu estúdio também no espaço), Janaina Santos, Thais Amatneeks e pelo diretor técnico e sócio Ricardo Saad promete flexibilizar o processo de seleção de artistas para a exibição no espaço. “Nossa proposta é de open commissions e de ser um espaço aberto. Todos os artistas podem enviar seu trabalho o ano inteiro para mantermos no nosso banco de dados e curadoria. Queremos que a barreira entre artista e galeria seja a menor possível e que os artistas tenham a liberdade de apresentar o seu trabalho para nós”, falou para o AQA Eduardo Milek. A agenda do espaço já tem exposição com abertura marcada para a metade de março, com o Furf Design Studio, estúdio de design de produto premiado internacionalmente e que desde 2022 vem também produzindo peças de arte. Em meados de maio, ganha individual o artista de rua Eduardo Melo, conhecido como Artestenciva, conhecido por seus grandes murais (fez o famoso Jack Bobão em Curitiba) e obras em estêncil.

Sede do JA.CA, no Jardim Canadá, periferia de BH (divulgação)

JA.CA – Belo Horizonte (MG)

Foi na volta de uma temporada em NY após fazer seu mestrado, em 2010, que, junto com Pedro Mendes (galerista da Mendes Wood DM), Francisca Caporali decidiu criar uma iniciativa de conexão entre diversos agentes das artes visuais, inicialmente voltada para residências artísticas. Com endereço no Jardim Canadá, na periferia de Belo Horizonte, o JA.CA herdou seu nome do bairro onde se situa. Se com o tempo houve a adequação das residências para levar ao equipamento artistas e até arquitetos cuja proposta dialogasse com o entorno, o JA.CA ampliou sua atuação. Atualmente, com sua sede formada por diversos contêineres somados a pequenos galpões, além de ter uma Kombi que funciona como sede móvel para eventos além de suas fronteiras geográficas, a iniciativa realiza atividades diversas, com temas que versam sobre arte, sustentabilidade e educação. Além disso, Caporali contou ao AQA que “para este 14º ano do JA.CA estão programadas uma série de ações, oficinas, residências de artistas, a residência de coletivos em parceria com a Casa do Povo, seminários, e o lançamento de uma série de materiais criados a muitas mãos – plataforma web, documentário videográfico e uma publicação – que compartilha diversos processos e reflexões dos últimos anos”.

Detalhe de exposição realizada no MauMau, no Recife (divulgação)

MauMau – Recife (PE)

Desde 2009, o espaço recifense fundado por Fernando Peres e Irma Brown na esteira das atividades de uma iniciativa anterior chamada A Menor Casa de Olinda, realiza atividades multidisciplinares para promover uma troca de experiências próxima entre artistas e público. De lá para cá, após muitas entradas e saídas da equipe, a Mau Mau permanece como ponto de produção, difusão e debate da arte em campo expandido. Irma Brown prossegue na gestão (Fernando Peres saiu em 2012), coordenando atividades como residências artísticas, exposições, encontros, debates, sessões de cinema e muita programação para a criançada, já que arte-educação é uma das frentes de atuação do espaço. Ela  também mora na casa que funciona como sede. Entre os projetos atualmente em curso, está a Feira Vuco Vuco, que traz estandes de venda de “artes visuais, brechó, itens de papelaria, artigos carnavalescos, comidas veganas, livros, acessórios, pães artesanais, discos de vinil, cosméticos naturais, decoração, plantas, tabacaria, roupas pra todos os gostos e bolsos, cerveja artesanal e caipirinha!”, segundo o Instagram do espaço. Outro projeto realizado em fevereiro foi o Laboratório Corpas que Quebram, com performances visuais e sonoras, partilha dos processos criativos e exposição coletiva.

Atividade no Pé Vermelho, espaço em Planaltina (DF) que evidencia produção local (divulgação)

Pé Vermelho Espaço Contemporâneo – Planaltina (DF)

Como deslocar o foco da cena artística hegemônica de São Paulo para o Planalto Central? Foi buscando criar visibilidade para a arte produzida em Brasília e suas cercanias que há cerca de 10 anos João Angelini, Marcela Campos e Luciana Paiva fundaram o Pé Vermelho Espaço Contemporâneo. “Inicialmente, éramos nós 3 que conversávamos muito disso. De como era curioso alguns de nós já termos tido várias exposições, inclusive individuais, em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e as nossas próprias cidades nunca terem visto os nossos trabalhos”, disse para o AQA João Angelini. Ocupando hoje um galpão próprio em Planaltina, cidade-satélite de Brasília, numa praça com uma grande área verde e a igreja histórica de São Sebastião, o Pé Vermelho faz remissão em seu nome à cor da terra característica do cerrado da região. Atualmente, a gestão do projeto fica a cargo dos artistas Douglas Ferreiro, João Angelini, Luciana Paiva, Marcela Campos, Raissa Studart, Rafael da Escóssia e Shevan Lopes, com a contribuição das produtoras Lu Ferreira e Daiana Castilho. De sua fundação até hoje, o espaço já fez inúmeras exposições, residências, debates, cursos teóricos e práticos, e atualmente mantém em cartaz a coletiva Levanta, cuja venda de obras vai ajudar a custear a finalização da sede atual. “Nesse momento, estamos em plena execução do Programa do Pé Vermelho, que é composto de 4 ciclos de residência em dupla com acompanhamento curatorial”, comenta Angelini. Um dos artistas selecionados foi Paulo Henrique, de Anápolis, no interior do Goiás. Entre os nomes que fazem o acompanhamento curatorial, estão os curadores Yudi Rafael e Agnaldo Farias e a historiadora e diretora-geral do Arquivo Nacional Ana Flávia Magalhães Pinto.

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Acervo do Projeto Armazém em exposição na sede no bairro do Sambaqui, em Florianópolis (divulgação)

Projeto Armazém – Florianópolis (SC) 

Ephemeras e materiais de arquivo são pouco vistos no mundo da arte, geralmente como suportes em exposições de artistas históricos. Juliana Crispe se dedica a evidenciar esse material frequentemente desprezado com o Projeto Armazém, que apresenta em exposições, seminários, oficinas e feiras de arte, obras que sejam múltiplos como: publicações de artista, livros de artista, cadernos de artista, cadernos de desenho, diários de artista, diários de bordo, postais, panfletos, cartazes, gravuras, fanzines, lambe-lambes, stickers, cartões, carimbos, objetos, etc, ou seja, trabalhos que tenham tiragens (de pequenas e grandes edições). A primeira edição aconteceu em 2011, no Museu Victor Meirelles, de Florianópolis (SC), que foi a casa do artista e inspirou a reunião de material referente a ele. Em seu conceito, o Projeto Armazém faz referência ao grupo Fluxus e ao texto de Arthur C. Danto, O Mundo como Armazém: Fluxus e Filosofia, no livro O que é Fluxus? O que não é! O porquê (Centro Cultural do Banco do Brasil/The Gilbert an Lila Silverman Collection Foundation, 2002). O acervo do Projeto pode ser visto por agendamento na sede compartilhada com o Coletivo Elza (grupo de mulheres de várias áreas profissionais que buscam contribuir com o acesso à cultura), no bairro de Sambaqui (Florianópolis). Desde seu início, o projeto teve a participação de mais de 300 artistas brasileiros e estrangeiros. Como diz em seu site, o “Projeto Armazém é um espaço propositor de relações com a Arte e, por este motivo, tocar, experimentar, levar algo consigo é participar do jogo deste projeto”.

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Entrada do Sertão Negro, casa, ateliê e centro cultural de Dalton Paula em Goiânia (foto Paulo Rezende)

Sertão Negro – Goiânia (GO)

Dalton Paula tem visto na última década a consolidação de sua carreira. Como forma de repartir seu conhecimento artístico e de estimular novos agentes da arte, e também criar um quilombo com as tradições da população negra, o artista de Brasília, hoje vivendo e trabalhando em Goiânia, resolveu abrir seu Sertão Negro Ateliê e Escola de Artes, que é a moradia do artista e também um espaço de resistência e disseminação da arte e da cultura afro-brasileira no setor Shangri-la da capital goiana. Além de exposições de artistas da região e residências artísticas, o espaço promove rodas de capoeira, lançamentos de livros e filmes, oficinas e muito mais. Com isso, o espaço é um polo irradiador de iniciativas feitas por e para o povo negro em particular e o povo brasileiro em geral. Encravado no meio de um bosque com um pomar de árvores frutíferas, o Sertão Negro não é só um lugar de integração entre vários agentes da arte e da cultura negras, mas da cultura afro-brasileira com a natureza.

Nova sede do Solar dos Abacaxis, no Centro do Rio de Janeiro (divulgação)

Solar dos Abacaxis – Rio de Janeiro (RJ)

Um dos espaços mais conhecidos e respeitados da Cidade Maravilhosa, o Solar dos Abacaxis foi fundado em dezembro de 2015 pelo artista Bruno Balthazar, o arquiteto Adriano Carneiro de Mendonça (hoje diretor executivo) e o curador Bernardo Mosqueira (hoje diretor artístico) com o desejo de fortalecer e reverberar artistas e práticas artísticas pouco difundidas no sistema das artes da cidade, sonhando com transformação social por meio de projetos culturais, artísticos e educativos. Durante 5 anos o Solar ocupou um edifício neoclássico do século 19 no bairro do Cosme Velho, desenvolvendo programas públicos entre exposições, seminários, oficinas e demais atividades, entre eles o Manjar, plataforma expositiva experimental que reúne e comissiona obras que articulam arte, música, performance, educação e gastronomia, acontecendo ainda atualmente. Depois de atuar por dois anos sem sede fixa durante a pandemia, articulando propostas possíveis diante do isolamento social, como o Fundo Colaborativo, criado pelo Solar e desenvolvido em próxima colaboração com instituições parceiras como a Pivô, Casa do Povo, JA.CA, Chão Slz e Mau Mau. Atualmente, o Solar está baseado na Rua dos Senado, no centro do Rio, ocupando um imóvel que outrora foi uma fábrica das perfumarias Granado e que, agora, faz parte do Mercado Central. É lá que seguirão acontecendo as exposições, grupos de estudo, encontros, oficinas e demais atividades promovidos pelo espaço, que em seus 7 anos de atuação realizou mais de 40 exposições (individuais e coletivas), colaborando com mais de 300 artistas e coletivos. “Um dos momentos mais centrais de nossa programação anual será um ciclo de mostras coletivas em colaboração com a curadora Lorraine Mendes. No segundo semestre, realizaremos ainda o Espaços de Criação, nosso muito sonhado e desejado programa de ateliês. Também estaremos presentes na ArtRio, em setembro, com o Halo Solar: Ciclo de Apoiadores do Solar dos Abacaxis; e na SP-Arte, já logo em março, com mais uma edição do programa Afluente, que distribui recursos a outras organizações. Nos últimos anos, por meio do Afluente, levantamos recursos para instituições parceiras como a HutuKara Yanomami, Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu, Instituto Marielle Franco, Casa Chama, entre muitas outras”, disse ao AQA  a organização do Solar.

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