Quem são os artistas de ‘Inventando Anna’

Série promete nos primeiros episódios, mas não aprofunda discussões sobre o universo da arte

No segundo episódio de Inventando Anna, descobrimos o plano ambicioso da personagem que dá nome à série. Inspirado numa história real, o lançamento recente e bombado da Netflix traça o perfil de Anna Delvey (interpretada por Julia Garner), a falsa herdeira alemã condenada de quatro a 12 anos de prisão. Ela cumpriu a pena mínima e foi solta em fevereiro do ano passado. 

Após uma briga com Chase, seu namorado interpretado por Saamer Usmani, ela explica: “Eu estou construindo algo. Um lar. Em Nova York. Para artistas, financiadores. Espaços para estúdios, exposições itinerantes abertas ao público. Mas também espaços para os clubes mais exclusivos e fabulosos da espécie. Será o ápice do mundo da arte mundial, e eu estarei no topo dele”. 

É em nome da Fundação Anna Delvey ou ADF (Anna Delvey Foundation) que ela enganou milionários, bancos, morou em hotéis de luxo em Nova York e usou um jatinho sem pagar. 

Depois desse momento, engana-se quem pensa que vai adentrar num debate mais aprofundado sobre o mercado da arte e sobre os artistas que ela pretende expor em seu ultra seleto clube, afinal, qual é o plano traçado por Anna para atingir seu objetivo um tanto quanto megalomaníaco?

Para quem gosta desse universo, a cena mais recompensadora talvez seja quando, também no segundo episódio, a protagonista faz um discurso apaixonado sobre Cindy Sherman, artista norte-americana famosa por explorar a sua própria imagem em autorretratos e brincar com ideias de identidade, representação e manipulação. 

Untitled Film Still #17 1978, reprinted 1998 Cindy Sherman born 1954 Presented by Janet Wolfson de Botton 1996 http://www.tate.org.uk/art/work/P11516
Untitled Film Still #17, 1978, reimpresso 1998, Cindy Sherman, coleção Tate

Na cena, vemos uma das primeiras fotografias da série Untitled Film Stills, na qual Sherman representa personagens fictícias com uma narrativa explícita, mas não identificada. A colecionadora de arte ao seu lado não entende como uma fotografia dela “fantasiada” pode valer meio milhão de dólares.

Anna rebate: “Antes dessa série, Sherman era mais uma fotógrafa que se escondia por trás das lentes. Observada. Escolhia indivíduos baseada no gosto dos outros. Até que um dia, ela achou o próprio foco, considerando-se valiosa. Em vez de ser forçada a um papel no mundo da arte dominado pelos homens, ela assume a liderança no seu trabalho”. “E isso muda o mundo. Isso não é fantasia. É coragem. É um momento na arte”, completa.  

É um paralelo com a invenção que a própria Anna faz de si mesma, como o decorrer da série revela. 

Podemos ver apenas outras duas obras identificáveis, de Mark di Suvero e Zhang Huan, e outra de um artista ficcional chamado Polay. Outros vários nomes são apenas citados: Jeff Koons, Doris Salcedo, Daniel Arsham, Tara Donovan, Olafur Eliasson, Urs Fischer, Dan Flavin, Robert Irwin, Robert Longo, Helmut Newton, Irving Penn, Ed Ruscha, Robert Ryman, Richard Serra e James Turrell.

Mais do que qualquer mergulho artístico, a série mostra que furar a bolha, da elite ou artística, não é impossível com as conexões certas e uma dose extra de cinismo. De qualquer forma, para quem ainda não viu e está sem planos para o Carnaval, não deixa de ser uma opção.

No entanto, para aqueles que pretendem uma imersão maior no mundo da arte sem sair da temática dos golpes, a alternativa é o documentário de 2020: Fake arte: uma história real, também da Netflix, que apresenta o maior golpe que o mercado de arte dos EUA já sofreu.

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