Reformas urbanas e contradições modernistas pela ótica da fotografia no IMS

Exposição “Moderna pelo avesso” traz uma produção fotográfica que revela muito sobre o modernismo mesmo sem ter sido incluída na Semana de 22

Moderna pelo Avesso
“Expressões faciais em múltipla exposição (rosto de menina)”, c. 1980 – Valério Vieira. Fotografias tiradas por câmera construída pelo autor

Este ano foi difícil para o circuito artístico fugir das temáticas que circundam a Semana de Arte Moderna. A maneira do Instituto Moreira Salles de São Paulo se envolver e contribuir com o debate foi baseada nas contradições, ou como diz o próprio título de sua nova mostra, foi “pelo avesso”. 

Sob curadoria de Heloisa Espada, Moderna pelo avesso: fotografia e cidade, Brasil, 1890-1930 traz um recorte do período que vai de encontro com a expansão da fotografia – que conquista muita novidade técnica –, as primeiras aberturas de cinemas e produções de filmes nas principais capitais brasileiras. Entretanto, o icônico evento de 1922 não incluiu essas linguagens, ainda que elas fossem um grande espelho da modernidade. 

Ou seja, a mostra deixa claro o fato de que a Semana de Arte Moderna não dá conta de abranger o que é a produção de arte moderna brasileira. E a modernidade, por sua vez, não dá conta dos brasileiros. Enquanto a “República” recente – ainda marcada pelas sequelas e resquícios da escravidão – era vista como sinônimo de “moderno” e visava a atualidade e progresso negando tudo o que era passado, suas reformas urbanas radicais promoveram violência, apagamento e eugenia.

Heloisa Espada
Curadora Heloisa Espada com aparelho óptico que simula efeito tridimensional.

Sendo assim, a coletiva perpassa episódios histórico políticos como a inauguração da projetada Cidade de Minas – chamada hoje de Belo Horizonte – e o “bota-abaixo” de 1903 e 1908, que expulsou a população de baixa renda, moveu morros e derrubou o patrimônio colonial do centro do Rio de Janeiro. Mas também destaca o desenvolvimento tecnológico da fotografia com, por exemplo, a disposição de aparelhos ópticos que convidam o público a ver o início do surgimento do efeito 3D nas imagens.

Ao exibir essa produção que não estava sob os holofotes da época, Espada também apresenta nomes já reconhecidos no meio da fotografia ao lado de amadores com trabalhos potentes. É o caso de Francisco Rebello que se faz presente na mostra por meio de uma seleção de imagens que evidenciam a vida simples, como uma mulher lavando a roupa, uma sombra num chão de carnaval, um homem subindo uma escada, entre outras temáticas carregadas de características compositivas modernas.

Francisco Rebello
Carnaval; sombra de folião, praça da Independência, Recife, PE, 1928 – Francisco Rebello

Serviço 

Moderna pelo avesso: fotografia e cidade, Brasil, 1890-1930

Local: Instituto Moreira Salles
Endereço: Avenida Paulista, 2424. São Paulo – SP
Data: De 13 de setembro até 26 de fevereiro de 2023
Funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
Ingresso: Grátis

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