![Lorraine O’Grady](https://www.artequeacontece.com.br/wp-content/uploads/2021/03/21lorraine-ogrady-1-combo-superjumbo-797x1024.jpeg)
“Parece que tenho minhas melhores ideias políticas quando procuro soluções estéticas”, revelou, certa vez, a artista e ativista Lorraine O’Grady. Por quase meio século, O’Grady produziu um profundo corpo de arte e escrita que avalia e contesta as lógicas de anti-negritude, colonialidade e extração que sustentam as instituições culturais.Parece um feito histórico e um dever incontestável, então, ver sua exposição Lorraine O’Grady: Both/And, apresentada no Brooklyn Museum até o dia 18 de julho de 2021.
![Art Is…, de Lorraine O’Grady](https://www.artequeacontece.com.br/wp-content/uploads/2021/03/merlin-183591798-2105666f-c335-4772-a81e-d6425844718b-superjumbo-1024x762.jpeg)
![Art Is…, de Lorraine O’Grady](https://www.artequeacontece.com.br/wp-content/uploads/2021/03/lorraine-ogrady6.jpeg)
Trata-se da primeira retrospectiva de uma das figuras contemporâneas mais significativas que trabalham na arte performática, conceitual e feminista. A exposição apresenta doze dos principais projetos, produzidos por O’Grady ao longo de sua carreira de quatro décadas, além de uma nova instalação, que destacam o longo envolvimento da artista com omissões históricas da arte – “o revisionismo radical de O’Grady das décadas de 1980 e 1990 antecipou temas que foram adotados por uma geração mais jovem de artistas e pensadores, inspirando-os a resistir e remodelar um mundo estruturado pela diferença e desigualdade”, aponta o texto oficial do museu.
![Mlle Bourgeoise Noire, de Lorraine O’Grady](https://www.artequeacontece.com.br/wp-content/uploads/2021/03/lorraine-ogrady3.png)
A artista aborda sua própria experiência como uma pessoa marcada pelo hibridismo racial – suas histórias de família conectam Caribe, África, Europa e Estados Unidos – para explorar legados de interconexão cultural e influências recíprocas, lançando luz sobre as formas como a negritude sempre existiu no coração do modernismo ocidental.
Ela chegou ao mundo das artes plásticas quando tinha quarenta e poucos anos, depois de uma carreira como funcionária pública, tradutora e crítica de música.” Por ser uma mulher negra de 45 anos, ela não era tão suscetível à manipulação, ao carreirismo e a outras armadilhas que os artistas mais jovens encontravam”, ressalta Christina Sharpe para o Art in America.”Ela entendeu imediatamente os tipos de porta de entrada da supremacia branca que atende pelo nome de “qualidade”. Esse conhecimento é parte do que sustenta sua práxis radical”, completa. Uma de suas primeiras e mais famosas obras é Mlle Bourgeoise Noire, de 1980, uma série de performances nas quais ela adotou a personalidade de uma rainha da beleza da Guiana Francesa.A plumagem das luvas brancas simbolizava a psicologia reprimida da classe média negra. O chicote representava a história da violência externa que a condicionou. O’Grady chegou na exposição “Nine White Personae”, na Just Above Midtown Gallery, em Nova York, encarnando essa personagem, distribuindo flores. De repente, começou a se debater com o chicote, declamando um poema de Léon-Gontran Damas que terminava com a frase: “A arte negra deve assumir mais riscos!”. Na segunda aparição, numa exposição só de artistas brancos no New Museum, ela gritou ““É hora de uma invasão!
![Art Is…, de Lorraine O’Grady](https://www.artequeacontece.com.br/wp-content/uploads/2021/03/merlin-183591729-12ed5a22-90dc-41bd-9a91-53d0b1bbf50c-superjumbo-1024x761.jpeg)
Art Is…, foi uma intervenção durante uma parada no Harlem, em 1983: O’Grady apareceu com um carro alegórico não autorizado – um caminhão com uma gigantesca moldura de ouro. Artistas que ela havia recrutado pularam no meio da multidão carregando pequenas molduras, convidando as pessoas a posar e a se ver como arte.
![Miscegenated Family Album, de Lorraine O’Grady](https://www.artequeacontece.com.br/wp-content/uploads/2021/03/miscegenated-family-album-lorraine-ogrady2-1024x731.jpeg)
![Miscegenated Family Album, de Lorraine O’Grady](https://www.artequeacontece.com.br/wp-content/uploads/2021/03/miscegenated-family-album-lorraine-ogrady3-1024x731.jpeg)
Outro trabalho que vale ressaltar é Miscegenated Family Album, de 1994, uma série de dípticos em que O’Grady emparelha fotografias de sua irmã Devonia Evangeline com Nefertiti, conectando assim narrativas pessoais com eventos e personagens históricos e políticos, em relação ao que ela chama de “forças históricas de deslocamento e hibridização. Esta série, exemplifica a importância do díptico no vocabulário formal e conceitual de O’Grady: a estrutura comparativa é, para ela, uma forma de nomear e recusar a lógica binária dos modos de pensamento euro-ocidental.
Lorraine O’Grady: Both/And
Data: Até 18 de Julho
Onde: Brooklyn Museum
Endereço: 200 Eastern Pkwy, Brooklyn