Alexandre da Cunha faz curadoria na Galeria Marli Matsumoto

Trabalhando pela segunda vez na carreira como curador, o artista nos convida a mergulhar na cor amarela em uma experiência sensorial e afetiva

Sky Eye Yellow Line, de Rubens Gerchman

A pequena e charmosa Galeria Marli Matsumoto foi invadida pela cor amarela que aparece ora incandescente e ora tímida e discreta, escondida dentro das obras. Alexandre da Cunha, artista responsável pela curadoria da exposição Sol, se refere ao processo de criação da mostra como uma “curadoria afetiva” cujo único objetivo era evocar a forma do sol como um elemento que traz luz e nos faz “esquecer das coisas chatas da vida”. 

A provocação para a exposição partiu da obra Sky Eye Yellow Line de Rubens Gerchman, um grande letreiro de madeira em amarelo que funcionou como fio condutor de toda exposição. “A partir da obra do Gerchman o processo foi muito orgânico. Eu quis pensar na cor amarela menos como cor e mais como matéria, como se ela fosse uma substância que contaminasse, que transmitisse luz às outras obras”, explica Alexandre. Pouco a pouco, os outros trabalhos foram “contaminados”, compondo o conjunto que hoje constitui a exposição das 48 obras de 24 artistas diferentes. 

Alchimie 371, de Julio Le Parc, 2017

As obras estão dispostas nas três salas da galeria sem nenhum tipo de identificação como nome da obra, do autor ou a data da criação. Como curador, Alexandre fez essa escolha por não possuir a intenção de fazer qualquer contextualização histórica ou explicação que pudesse atrapalhar a experiência sensorial do visitante. O objetivo é entrar, olhar a luz que vem das paredes e sentir. 

E o resultado da experiência é uma visita aconchegante. Há, realmente, algo na cor amarela que acalma e aquece. Mesmo que as obras sejam absolutamente diferentes entre si, não só nas tonalidades da cor central da exposição como também nas técnicas, um diálogo minucioso foi estabelecido. Em uma das salas há uma TV ligada transmitindo o filme Triunfo Hermético de Rubens Gerchman, e o seu som baixo inunda a sala repleta com outras obras como a tela Alchimie 371 de Julio Le Parc e Sol Fresco de Vanessa da Silva. 

Frame do filme Triunfo Hermético, 1972, de Rubens Gerchman

Em outra sala, na parede ao lado do letreiro de Gerchman, há uma obra intitulada “Sol”, de Leda Catunda, criada especialmente para a exposição. “Quando eu disse a ela (Leda) que iria expor uma obra dela e expliquei sobre a exposição ela ficou tão animada que acabou fazendo um trabalho novo”, conta Alexandre. 

Sol Fresco, de Vanessa da Silva, 2022

A última obra da exposição foi finalizada a apenas alguns minutos antes da abertura. Trata-se do trabalho “Notes from Mount Analogue”, do icônico artista britânico Richard Wentworth. Toda a obra foi composta a distância, por correspondência entre Alexandre e Richard, que comparou a montagem do trabalho a uma espécie de show de culinária onde um envia os ingredientes e o outro cozinha a refeição. 

Do lado de fora, um manequim vestido com uma reprodução fiel do figurino do Fauno de Vaslav Nijinsky gira em torno de um pedestal ao som de “L’après-midi d’un faune”, de Debussy. A obra, criada por Ana Mazzei, estabelece uma conexão entre o passado e o futuro ou entre o erudito e o moderno e traduz a alma da exposição: uma viagem inusitada a um lugar comum. 

Serviço:

Sol

Data: 02 de abril a 11 de junho de 2022

Local: Galeria Marli Matsumoto

Endereço: Rua João Alberto Moreira, 128 – Vila Madalena, São Paulo (Brasil)

Funcionamento: segunda a sexta das 11h às 19h, sábados das 11h às 15h

Ingresso: Grátis

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support