Royal Academy of Arts traz Francis Bacon e suas formas animalescas

A fascinação pela observação – ao vivo e em fotos – de animais em movimento é visível na exposição que abrange sua carreira de 50 anos

Qual são as diferenças ( ou as semelhanças) entre o homem e o animal? Quem visitar a exposição Francis Bacon: Man and Beast, em cartaz no Royal Academy of Arts, de Londres, certamente sairá com essa pergunta e possíveis respostas na cabeça. A mostra traz uma coletânea de pinturas de um dos mais renomados artistas da Inglaterra que retratam a atração de Bacon pelas formas animalescas, marcado seu estilo próprio que rompeu com a abordagem da arte figurativa das vanguardas.

A técnica representativa de Bacon impressiona ao deixar pouco nítida a linha que separa a figura humana da animal, por vezes marcando traços de animalidade na figura humana ao retratar, por exemplo, um cachorro como a própria sombra de seu dono ou a sombra de um homem como um animal independente, não identificável. 

Tríptico May-June. Francis Bacon, 1973.
Tríptico May-June. Francis Bacon, 1973.

Trata-se de uma zona de indiscernibilidade entre o humano e o animal – o que, para Gilles Deleuze, em sua análise da obra de Francis Bacon em Lógica da Sensação, não se trata uma questão de combinar formas, mas de retratar a forma comum entre o homem e o animal. O meio dessa identificação seria a própria carne – objeto de retenção do sofrimento e da vulnerabilidade retratadas nas pinturas de Bacon.

Bacon também acreditava na observação dos movimentos e comportamentos dos animais como instrumento para a compreensão mais profunda da natureza humana. Isso o levava a ter por hábito realizar viagens para observar animais em seu habitat natural na África do Sul, e utilizar fotografias do inglês Eadweard Muybridge, retratando humanos e animais em movimento, como referência constante.

Running, parte de série fotográfica voltada à locomoção animal. Eadweard Muybridge, 1887.
Running, parte de série fotográfica voltada à locomoção animal. Eadweard Muybridge, 1887.

O vínculo entre a figura humana e a animal é tão forte em Bacon que, em uma das entrevistas que concedeu para David Sylvester – reunidas em seu livro The Brutality of FactInterviews with Francis Bacon -, o artista afirmou:

“É claro que somos carne, somos carcassas em potencial. Quando entro em um açougue, eu sempre acho surpreendente eu não estar lá no lugar do animal”.

Man With Dog. Francis Bacon, 1953.
Man With Dog. Francis Bacon, 1953.

A exibição mostra a preocupação de Francis Bacon em retratar e estabelecer uma conexão entre os movimentos humanos e animais, indícios da bestialidade naquilo que é humano. Dando um caráter enigmático e brutal a esses corpos, mas que induz a um sentimento de piedade através da familiaridade, Bacon assim chama atenção para o grau de violência e sofrimento inescapável e impresso na carne dos seres moventes.

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