Conheça 5 mulheres artistas ofuscadas por seus companheiros

Algumas viveram relacionamentos abusivos, outras viveram à sombra de seus maridos, mas todas sofreram o preconceito por serem mulheres e artistas

Auguste Rodin e Camille Claudel.

Com o dia dos namorados se aproximando a internet é inundada por fotografias de casais e pelas mais diversas histórias de amor. Mas é importante lembrar que um relacionamento saudável é construído por dois inteiros e não por uma parte que completa a outra. Na história das artes muitas mulheres, por vezes, sofreram duplamente: primeiro pela pressão da sociedade que insiste em dizer para o que uma mulher serve e para o que ela não serve, segundo pelos limites impostos às mulheres dentro de um relacionamento machista, que as impede de sequer pensar em brilhar mais do que o companheiro. 

As histórias de mulheres artistas que foram impedidas de alcançar o devido reconhecimento se estendem para além desta matéria, mas trouxemos aqui algumas histórias de casais de artistas nas quais as mulheres não alcançaram a devida notoriedade pelo sucesso de seus companheiros, seja em relacionamentos extremamente abusivos, como o de Rodin e Claudel, seja em relacionamentos violentos como o de Mendieta e Carl ou até mesmo nos estáveis como o de Pollock e Krasner. Confira as histórias a seguir: 

Gabriele Münter e Wassily Kandinsky

Casa Russa, 1931, Gabriele Münter.
Casa Russa, 1931, Gabriele Münter.

A história de Gabriele Münter encontra a de Wassily Kandinsky quando ela se tornou aluna dele no início dos anos 1900, por volta dos 25 anos.  Kandinsky, que já era casado na época, inicia um relacionamento com Münter, que se torna sua amante. Apesar de Kandinsky ser tido como o pai do abstracionismo, Münter desenvolve um estilo abstrato próprio, mesmo que à sombra do companheiro. 

O relacionamento dos dois sofre dificuldades em um primeiro momento porque Kandinsky acaba não se divorciando de sua esposa, como havia prometido a Gabriele. Anos mais tarde, quando ele finalmente se divorcia, é forçado a sair da Alemanha durante a primeira guerra mundial por ser russo, encontrando-se com Gabriele até 1916, sem ter coragem de terminar o relacionamento de vez. Em 1917, entretanto, ele rompe de vez com a artista e se casa novamente com uma segunda esposa. 

Nos anos que se seguiram, Münter praticamente parou de pintar devido a uma profunda depressão, voltando a produzir somente uma década mais tarde. Durante a Segunda Guerra Mundial, a artista teve um papel de extrema importância ao proteger obras de Kandinsky e de outros membros do Blaue Reiter e salvando-nas da destruição nazista já que elas eram consideradas “arte degenerada”. 

Lee Krasner e Jackson Pollock

Icarius, Lee Krasner, 1964.
Icarius, Lee Krasner, 1964.

Lee Krasner foi conhecida durante muito tempo apenas como a mulher de Jackson Pollock, nome central dentro do expressionismo abstrato norte-americano. Somente muitos anos mais tarde a produção artística de Krasner foi reconhecida pela sua imensa qualidade. Krasner demonstrou aptidão e talento para a arte desde muito nova, tendo se envolvido em diversas instituições de ensino e seguindo diferentes tendências artísticas até experimentar, em meados da década de 1930, o expressionismo abstrato. 

Quando ela e Pollock começaram a se relacionar, no início da década de 1940, ela já era uma artista pronta e sua produção chegou até mesmo a influenciar a de seu marido. Entretanto, com o enorme destaque que a Action Painting de Pollock atraiu com a inovadora técnica Dripping, o nome e as obras de Krasner foram ocultadas sob a luz que o trabalho de seu marido recebeu. 

Camille Claudel e Auguste Rodin

L’âge mûr, Camille Claudel, 1898.

Aluna e amante de Auguste Rodin, Camille Claudel foi uma célebre escultora francesa que enfrentou inúmeros desafios durante a vida. A começar pelo fato de que ela era uma artista mulher que viveu entre o século XIX e o século XX, o que já era por si só complicado. Sua mãe foi, desde cedo, contra a sua carreira e seu irmão, para quem ela mais parecia ser um estorvo, era um poeta francês de sucesso. Com apenas 17 anos, entretanto, a sua trajetória no mundo da arte cruza com a do escultor Auguste Rodin, que na época era casado e já tinha lá seus 40 anos. Camille passa a ser aprendiz e assistente de Rodin, contribuindo para muitos de seus trabalhos e desenvolvendo junto a ele um relacionamento amoroso bastante complicado. 

Cerca de 15 anos depois, o relacionamento dos dois chega ao fim, já que Rodin não se separou de sua esposa para ficar com a amante. Rejeitada por Rodin, pelo irmão e por sua mãe, Camille é internada em um manicômio, em condições sub humanas, onde passa trinta anos de sua vida até morrer aos 78 anos sozinha. Lá, impedida de continuar a sua produção artística, ela escreveu inúmeras cartas à mãe e a familiares que se tornaram uma verdadeira documentação da degradante tristeza por ela vivida. Apesar dela ter falecido na obscuridade, décadas depois de sua morte as suas obras ganharam notoriedade, mas ainda sim em nada se compara ao destaque de Rodin na história da arte. 

Ana Mendieta e Carl Andre

Performance Árvore da Vida, Ana Mendieta.
Performance Árvore da Vida, Ana Mendieta.

Ana Mendieta nasceu em Havana, em 1948, e emigrou para os Estado Unidos como refugiada aos 11 anos, após Fidel Castro assumir o poder em Cuba. Nos Estados Unidos, Mendieta cresceu, estudou e se formou em Artes na Universidade de Iowa. Sua produção artística explorava temas quase que autobiográficos, como a sua identidade enquanto mulher, violência, vida, morte e lugar de pertencimento.  

Em 1978, Mendieta passa a integrar o Artists in Residence Gallery Inc em Nova York, primeira galeria para mulheres fundada na cidade. Este ambiente lhe permitiu entrar em contato com outras artistas mulheres da vanguarda do movimento feminista. Entretanto, foi nesta galeria que Mendieta conheceu seu futuro marido, o artista minimalista Carl Andre, que vinha atraindo muita atenção com seu trabalho. Logo depois, Carl e Mendieta se envolveram e se casaram. Em 1985, aos 36 anos de idade, Mendieta despencou do 34º andar do prédio onde morava há oito meses com seu então marido. Carl foi julgado e absolvido pelo homicídio de Mendieta em um julgamento que levou três anos, mas até hoje o que aconteceu não foi totalmente compreendido. 

Margaret Keane e Walter Keane

Trabalho de Margaret Keane.
Trabalho de Margaret Keane.

Walter Keane foi um artista que não apenas ocultou o trabalho de sua esposa como fingiu ser o autor das obras pintadas por ela. Margaret Keane é uma artista que ficou conhecida por pintar grandes olhos em suas telas, o que acabou sendo apelidado de “Keane Eyes”. A história de Walter e Margaret Keane foi adaptada ao cinema por Tim Burton e o filme fez um enorme sucesso de bilheteria, trazendo Amy Adams no papel de Margaret e Christoph Waltz no papel de Walter. 

Em seu segundo casamento, Margaret foi manipulada pelo marido que a forçou a permitir que ele se passasse por ela como autor dos quadros que ela pintava. Walter era, como a esposa, pintor, mas seu trabalho não recebia o destaque que as telas de Margaret passaram a receber. Após o divorcio do casal em 1960, a questão foi levada à corte americana, que acabou reconhecendo Margaret como a verdadeira autora das obras.

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