Respondemos algumas perguntas sobre as obras de arte em Succession

A série com 25 indicações do Emmy Awards, tem cenários recheados com diversas obras de arte

Tempo de leitura estimado: 5 minutos

Talvez você já tenha assistido Succession e não tenha notado as obras de arte presentes nas paredes dos luxuosos cenários. De fato, apesar da série contar com um número bastante rico de obras clássicas e contemporâneas em quase todas as cenas, a maior parte delas não são tão facilmente identificáveis. 

Se você ainda não assistiu, Succession conta a história fictícia de Logan Roy, que controla um dos maiores conglomerados de meios de comunicação e entretenimento do mundo, e seus quatro filhos. A série de grande sucesso está na liderança do Emmy Awards deste ano com nada menos que 25 indicações. Por isso, vamos te ajudar a vê-la com um olhar artsy mais aguçado.

Ao começar a ler essa matéria, uma das primeiras perguntas que pode vir a sua cabeça é:

As obras de arte têm alguma relação direta com o enredo da série?

Bom, no oitavo episódio da primeira temporada, Kendall Roy – um dos herdeiros -afirma, em meio a uma negociação, que não faz ideia sobre nada do mundo artístico mesmo tendo interesse em monetizar os conceitos da área. Os demais personagens também não aparentam ser grandes entusiastas culturais, mas parece que além de nepotismo e muita discussão, os membros da família Roy têm mais uma coisa em comum: todos gostam de ostentar coleções de arte em suas paredes.

Pensando nisso, vale lembrar que os dois primeiros pôsteres promocionais têm pinturas icônicas ao fundo com grande destaque. Então, sim, esse fato nos indica que os cenários não são despretensiosos. 

Succession
Pôster promocional da primeira temporada de Succession

O primeiro pôster trouxe Logan e os quatro filhos posando poderosamente à frente de The Tiger Hunt (1615-17), de Peter Paul Rubens. O quadro em questão faz parte de uma série de pinturas com a temática de caçadas que destinava-se a adornar o pavilhão de caça do Eleitor Maximiliano da Baviera. Rubens descreveu a cena como “um denso aglomerado de caçadores e felinos sedentos de sangue, sem um vencedor claro ou distinção entre predador e presa” – alguma semelhança com a batalha familiar pelo controle do império midiático da Waystar RoyCo? 

Succession
Pôster promocional da segunda temporada de Succession

Já no pôster da segunda temporada, a pintura escolhida foi Dante e Virgílio (1850) de William-Adolphe Bouguereau. Nesta, o pintor cria sua versão da Divina Comédia, onde Dante e Virgílio assistem no inferno a luta entre duas almas condenadas: Capocchio, um herege alquimista, é atacado e mordido no pescoço por Gianni Schicchi, personagem real do século XIII que tinha usurpado a identidade de um falecido e falsificado seu testamento para reivindicar uma herança. Vamos combinar que testamento, herança e falsidade são os assuntos favoritos entre os Roys. 

Mas a relação entre a trama e as obras de arte não para por aí. Logo no primeiro episódio a fotografia Spegazzini #01 (2012-2013) de Frank Thiel é testemunha de uma cena intrigante. Ela aparece quando Kendall está no escritório, entusiasmado com sua próxima promoção como CEO da empresa e falando altas bobagens. Nesta hora, seu pai entra na sala e pede para que ele assine um documento sem explicar detalhes. Em meio a sua tensão e compromissos, Kendall rubrica sem ler o documento que viria a incluir sua madrasta no fundo familiar, além de passar as ações da empresa para o nome dela após a morte de seu pai. A fotografia de fundo ao longo de toda a cena possui um tamanho considerável, de forma que sua fisicalidade glacial parece dialogar bem com a frieza de Logan. 

No quinto episódio da 1ª temporada, o Retrato de Louise de Keroualle, Duquesa de Portsmouth, 1671–1674, de Peter Lely parece muito apropriado para as cenas do dia de ação de graças dessa família nada convencional. Para quem não sabe, a retratada foi uma francesa ambiciosa que atuou como espiã de Luís XIV na Inglaterra e facilmente poderia ser incluída como personagem no episódio que é carregado de traições e falsidades. Kendall começa a tramar um voto de desconfiança contra seu pai, enquanto Tom Wambsgans, obriga o primo Greg a destruir documentos cominatórios da empresa. Depois, o casal Tom e Shiv também tem uma conversa tensa sobre o relacionamento e sobre como lidariam com um suposto caso de infidelidade. O irmão distante de Logan, Ewan, inesperadamente convidado para o jantar, se retira da casa chamando a família de ninho de víboras. 

Mas de onde vieram todas essas obras?

Mais uma confirmação de que nada é por acaso nos cenários, é o fato da série possuir uma curadora encarregada justamente de escolher obras de arte certeiras para compor a trama. Fanny Pereire, atua há mais de uma década escolhendo obras para filmes e séries e supervisionando todo o delicado processo de empréstimos de vários museus. Para esse trabalho, ela leva em consideração o período, as personagens, a mensagem da série, entre muitas outras coisas.

Também é interessante saber que alguns cenários, como a casa de Logan, foram criados praticamente do zero, usando diferentes locais como estrutura. As cenas do saguão da casa foram, inclusive, todas filmadas de frente com o Metropolitan Museum of Art, no American Irish Historical Society. Entretanto, outros espaços já possuem acervos reais e bastante ricos, como por exemplo, o Castelo de Eastnor em Londres, que sediou o casamento de Shiv e Tom.

Succession
Saguão da casa de Logan Roy na série Succession

E as obras são todas reais? Ou são réplicas?

Fanny Pereire já revelou que costuma utilizar mais cópias do que originais, afinal, com tantas pessoas presentes em um set de filmagem, além dos equipamentos de todo tipo, não compensa expor as obras à tanto risco. E depois? A curadora precisa provar que todas as cópias foram devidamente destruídas.

E os preços? Qual a média de valores das obras da família Roy? 

No sétimo episódio da segunda temporada, Tom comenta que deu a Greg uma sala nova no escritório que tinha até um quadro do Klimt. Apesar da gente não ver qual pintura é, sabemos que um quadro de paisagem, por exemplo, que nem seria o mais icônico do artista como O beijo, pode chegar a 40 milhões de dólares. 

O decorador de cenários de Succession, George DeTitta, também comentou sobre os custos de obras usadas na série mesmo quando não são originais: “Os preços que pagaríamos por artistas reconhecíveis em uma série semanal provavelmente não seriam acessíveis, pois o valor é calculado com base na frequência que a obra pode ser vista”. Isso também pode esclarecer o motivo das numerosas obras não estarem em tanta evidência em todas as cenas.

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