22ª Bienal Sesc_Videobrasil destaca artistas sul-globais – conheça alguns deles

Selecionamos alguns artistas latinos e caribenhos que participam da Bienal focada na produção fora dos eixos hegemônicos ocidentais

Curadores: Solange Farkas, Raphael Fonseca, Renée Akitelek Mboya. Cortesia VideoBrasil

Comemorando os 40 anos do Videobrasil, a 22ª edição da Bienal Sesc_Videobrasil “A memória é uma ilha de edição” acontecerá entre 18 de outubro de 2023 e 25 de fevereiro de 2024, no Sesc 24 de Maio. A direção de Solange Farkas e curadoria de Raphael Fonseca e Renée Akitelek Mboya prometem dar foco à arte produzida por artistas de fora dos eixos hegemônicos ocidentais. Deste modo, entre os 60 participantes – 51 deles selecionados a partir de chamada aberta – estão 21 artistas e coletivos da América do Sul, 13 da Ásia, 8 da África, 7 da Europa (Leste e Portugal), 5 das Américas Central e do Norte, 3 do Oriente Médio e 3 da Oceania. Pensando nisso, trouxemos algumas pinceladas de conteúdos para te instigar a conhecer o trabalho de 9 artistas latinos e caribenhos, um de cada país participante.

Antonio Pichilla Quiacain, 1982, Guatemala 

Antonio Pichilla Quiacain, Abuela

Pichilla Quiacain é um artista multifacetado que desdobra suas investigações poéticas em mídias diversas, como performance, vídeo, criação de objetos, além da tecelagem – herança cultural passada pelas mulheres da comunidade Maya Tz’utujil, onde nasceu, e que foi ensinada para o artista pela própria mãe. 

Seus interesses se centram em recodificar tradições e valores aprendidos em sua cultura, para tratar da relação entre corpo humano e espiritualidade, como também a presença do tempo em todas as coisas que existem no mundo.

Arturo Kameya, 1984, Peru 

Arturo Kameya, Ashes, 2019

O trabalho de Kameya evoca os fantasmas das memórias de seu país, Peru, para o contexto contemporâneo e provoca reflexões complexas sobre pertencimento identitário. Embora a pintura seja uma presença constante em seu trabalho, Kameya também cria obras em vídeo, cerâmica e até mesmo mecanismos construídos. Distante dos ícones previsíveis e de uma abordagem panfletária, o artista aborda histórias que podem parecer antigas, mas, na verdade, frequentemente se referem a eventos muito recentes do país.

Froiid, 1986, Brasil

Froiid, “MAPA COPA DO MUNDO – O GRANDE JOGO”, 2014

Desde jogos populares na cultura brasileira, como o Jogo do Bicho e a sinuca, até mídias digitais, o artista mineiro se debruça a investigar sistemas e modus operandis para criar pinturas e instalações que se movem e se transformam no decorrer da exposição.

Para a área externa do Sesc 24 de Maio, o artista preparou uma projeção de palavras e sons remixados com o auxílio de inteligência artificial, a partir de uma série de rimas feitas pelo rapper Matéria Prima. A obra, que recebe o título de “O pulo do gato”, convida o público a dançar, enquanto vê os painéis de LED que expõem os códigos de programação do trabalho.

Gabriela Pinilla, 1983, Colômbia 

Gabriela Pinilla, Cuando tenga la Tierra

Enquanto artista e professora universitária natural de Bogotá, Pinilla resgata e reescreve as narrativas negligenciadas pelas instituições. Sua poética cruza política, memórias pessoais e a história da arte, a partir da investigação de arquivos, romances históricos, filmes, diários e álbuns familiares. 

Explorando os limites entre as artes visuais e a ilustração, a artista explora pintura, muralismo, instalação, objeto, livro e vídeo. Na obra “Cuando Tenga la tierra”, por exemplo, ela se baseia em dois murais e uma cartilha ilustrada para expor o assassinato sistemático de líderes sociais e defensores dos direitos humanos na Colômbia após a assinatura do acordo de paz entre o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias em 2016. Deste modo, Pinilla escancara os motivos da luta dos líderes assassinados, o dano político que é produzido por suas mortes e a relação entre o aumento de seus assassinatos, os processos de restituição de terras e substituição de cultivos ilícitos.

Josué Mejía, 1993, México

Josué Mejía, mapa pictórico oficial da Feira Mundial , 2021

O artista visual da Cidade do México recria narrativas históricas a partir da “entrevista” de objetos que compunham as histórias de exposições do século XX entre o México e os Estados Unidos, mas passaram despercebidos, como mobiliários, mapas, molduras, bilhetes e cartas. Por meio de pinturas, desenhos e instalações, Josué Mejía busca entender os processos que moldaram as memórias coletivas.

Em uma de suas obras, “Se consideraba creado el género de los ‘murales ambulantes'” [considerava-se criado o gênero dos “murais ambulantes”], um trem de brinquedo funciona como um outdoor móvel. O trabalho revê a influência que o movimento do muralismo mexicano teve sobre o chamado “cinema de ouro” do país, e seu papel na conformação de um Estado capitalista nascente. No México, o trem atravessou o território nacional transportando documentários produzidos pelo governo, que apresentavam à população os benefícios da indústria nacional. Nos vagões do trenzinho, vemos desenhos de capas de documentários de propaganda da década de 1940 e possíveis interiores de carros que transportavam todo tipo de mercadoria.

La Chola Poblete, 1989, Argentina

La Chola Poblete, 2022. Foto Agustina Lamborizio

La Chola Poblete é artista visual formada em pedagogia das artes visuais pela Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, e integra o coletivo Comparsa Drag. Por meio da performance, videoarte, fotografia, pintura e desenho, a artista aborda os dilemas da sua herança mestiça, centrando-se na figura da chola, identidade cultural em que se tornam visíveis as tensões inerentes à população indígena. Entre a denúncia política e o uso crítico de estereótipos, projeta um imaginário queer capaz de desafiar paradigmas culturais e taxonomias de gênero. 

Natalia Lassalle-Morillo, 1991, Porto Rico

Natalia Lassalle-Morillo, Retiro (still), 2019

A diretora de palco, cineasta e documentarista, elabora um corpo de trabalho que integra as disciplinas suas diferentes linguagens artísticas, colaborando com performers não profissionais. Em seus trabalhos, a artista costuma investigar as raízes de famílias e de bairros sob o contexto das diásporas porto-riquenhas nos Estados Unidos, e a conturbada linhagem política que alterou a vida e as relações de pessoas de origem porto-riquenha nos dois países.

Sua obra “Retiro”, uma representação em prosa e performance, parte de entrevistas com sua mãe que fala sobre as lembranças da juventude, sobre envelhecer, sobre luto e sobre sua perspectiva de futuro.

Pamela Cevallos, 1984, Equador

Pamela Cevallos, Corrientes de retorno

Pamela Cevallos é uma artista, antropóloga e curadora que une pesquisa etnográfica, artística e acadêmica em sua produção. Desde 2015, ela tem trabalhado com a comunidade de La Pila, em Montecristi, Manabí, no Equador, investigando processos de apropriação do passado pré-hispânico. O projeto “Corrientes de Retorno”, fruto dessa colaboração, aborda as tensões entre o processo de construção de patrimônio e a huaquería – termo de origem quéchua e usado em países andinos para se referir a buscas ilegais em sítios arqueológicos pré-colombianos. O foco do projeto se dá nas peças arqueológicas conhecidas como Gigantes de Bahía, encontradas na praia equatoriana de Los Esteros, em 1966, que são comumente replicadas pelos artesãos locais para o mercado turístico.

Seba Calfuqueo, 1991, Chile

Retrato de Seba Calfuqueo. Foto: Azul Gattas

Seba Calfuqueo pauta sua ascendência Mapuche e as discriminações raciais que enfrenta, explorando os embates culturais entre os modos de pensamento indígenas e ocidentalizados. Sua obra “¿chumal elkaniengeal?/¿Para qué guardar?” nos convida a pensar em uma história crítica do colecionismo e sua conexão com o mundo mapuche. A peculiaridade das fontes – navegador de internet, sites de museus e lojas on-line, anúncios antigos de suvenires, jornais, verbetes de dicionários do começo do século 20 – usadas para abordar as peças mapuche selecionadas (kollong, ketru metawe, tupu, pifüllka, trarüwe) cria um diálogo que pode ser extrapolado para outras realidades semelhantes onde há colecionismo, e para a relação desse fenômeno com os povos que ele afeta. Esse movimento começa com a subversão do registro fotográfico do museu: as peças são impregnadas de um azul que mantém e sublinha sua forma, mas a expande para campos de significado diversos.

Serviço

22a Bienal Sesc _Videobrasil – A memória é uma ilha de edição

Local:  Sesc 24 de Maio

Endereço: R. 24 de Maio, 109 – República, São Paulo – SP

Data: De 18 de outubro de 2023 a 28 de abril de 2024

Funcionamento: terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h.

Ingresso: entrada gratuita

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