Livros AQA: A Arte da Rivalidade

Livro revela relações de amor e ódio entre oito artistas: Manet e Degas; Matisse e Picasso; Pollock e De Kooning ; Freud e Bacon

Tempo de leitura estimado: 4 minutos
Retrato de  Édouard Manet e sua mulher, pintado por Degas
Retrato de Édouard Manet e sua mulher, pintado por Degas

Admiração pode virar conflito, competição ou obsessão. No livro A arte da rivalidade, o pulitzer Sebastian Smee revela interessantes e intensas relações entre quatro duplas de artistas: Manet e Degas; Matisse e Picasso; Pollock e De Kooning ; Freud e Bacon. Você sabia que Edgar Degas chegou a pintar um retrato de Édouard Manet e sua mulher, mas a pintura foi inexplicavelmente rasgada por Manet num possível momento de fúria?  Degas e Manet tinham sido amigos, isso não é segredo, mas o autor sempre desconfiou da história por trás dessa pintura. “Manet era charmoso, sociável e modesto – o mais elegante e o mais suave dos homens. O motivo que o teria levado a fazer tal coisa, numa época que ele e Degas eram tidos como amigos ( próximos o bastante para cooperar nesse retrato íntimo), sempre pareceu enigmático”, ressalta Smee. Trinta anos depois da possível briga, quando morreu, Degas – uma figura isolada e rabugenta – estava cercado por uma coleção que incluía não só a pintura danificada ( que ele havia resgatado do amigo e tentando consertar), mas outros três retratos que ele fez de Manet, além de um tesouro de mais de oitenta trabalhos feito pelo próprio Manet. 

Francis Bacon pintado por Lucian Freud
Francis Bacon pintado por Lucian Freud

A amizade entre Lucian Freud e Francis Bacon é, talvez a mais conturbada e famosa – tanto que, dez anos após a morte de Bacon, considerava-se imprudente tocar no assunto com Freud. “Ao visitar a casa de Freud, era impossível não notar a enorme pintura de Bacon pendurada na parede”, revela o autor. Freud, aliás, também fez um retrato do amigo Bacon e a pintura desapareceu depois de uma grande retrospectiva do artista alemão que passou por alguns museus nos EUA e Europa!

Picasso pintou Les Demoiselles d'Avignon por influência de Matisse
Picasso pintou Les Demoiselles d’Avignon por influência de Matisse

A relação atribulada entre Jackson Pollock e Willem de Kooning tem um desfecho de novela: eles bebiam juntos e conversavam sobre suas revoluções no mundo da arte, mas menos de um ano depois da triste e súbita morte Pollock , De Kooning tinha um relacionamento amoroso com a namorada de Pollock, Ruth Kligman, única sobrevivente do acidente de carro fatal que  o matou.  E o que podemos aprender sobre a obsessão que Picasso tinha sobre Matisse? Após a morte de Matisse, Picasso não só continuou a pintar tributos ao amigo, como também tinha conservado o retrato que Matisse fez da própria filha, Marguerite, num lugar de honra em sua própria casa. Note: dizem as lendas artsy que Picasso se divertiu, certa vez, vendo seus amigos lançarem dardos exatamente nesta pintura. “Acredito que Picasso sabia muito bem que não teria pintado Les demoiselles d’Avignon, sua grande e inovadora obra, nem tampouco teria envenenado pelo cubismo, ao lado de Braque, sem a sedutora pressão fornecida por Matisse”, pontua o autor. “Da mesma forma, Freud sabia que nunca teria parado de desenhar em seu estilo rígido e meticuloso e se tornado o grande pintor da carne exuberante e lívida não fosse a amizade com Bacon”, continua. De Kooning, similarmente, não teria aberto sua via de trabalho e pintado suas primeiras obras-primas radicais sem a influência de Pollock, E Degas não teria parado de pintar o passado e saído de seu ateliê para as ruas, cafés e salões sem o impacto da amizade com Manet”, completa. 

Portrait_de_Marguerit, pintado por Henri Matisse
Portrait_de_Marguerit, pintado por Henri Matisse, tinha lugar de destaque na casa de Picasso e hoje pode ser vista no Musée Picasso, em Paris

Apesar de concentrar-se em artistas homens, Smee ressalta que cada capítulo é recheado de mulheres notáveis: artistas de primeira linha como Berthe Morisot e Lee Krasner, além de colecionadoras  corajosas como Sarah Stein, Gertrude Stein e Peggy Guggenheim, e cúmplices brilhantes, como Caroline Blackwood e Marguerite Matisse. 

A “rivalidade” do livro não pretende relatar um clichê machista de inimigos jurados, competidores amargos e ressentimentos intransigentes em disputa pela supremacia artística e mundana. Trata-se de uma vontade de expor relações íntimas, sedutoras e, muitas vezes, intensas demais – revelando como  figuras criativas que influenciam umas às outras. É sobre sensibilidade de ícones que eram, antes de tudo, humanos.

A arte da rivalidade
A arte da rivalidade
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