Quatro casais de artistas para além de Frida Kahlo e Diego Rivera

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Você já conhece Christo e Jeanne-Claude, Frida Kahlo e Diego Rivera, Camille Claudel e Auguste Rodin, Leonora Carrington e Max Ernst, Marina Abramovic e Ulay. Ao longo de toda história da arte diversos casais se conectaram tendo em comum sua paixão criativa. Mas hoje trouxemos algumas pequenas histórias sobre uniões menos conhecidas. E, claro, é bastante sintomático o fato de que muitos dos profissionais anônimos, ou ofuscados por seus parceiros, sejam mulheres, e nunca o contrário – sabemos bem o porquê. Ainda assim, vale conhecer as histórias dos artistas por trás das telas mais famosas do mundo, humanizá-los e até aproveitar a oportunidade de conhecer novos nomes talentosos.

Elaine de Kooning e Willem de Kooning

Willem e Elaine de Kooning, 1953. Fotografia Hans Namuth. Imagem Artland magazine

Em 1938, um instrutor da escola de arte da Elaine Marie Catherine Fried, a apresentou a Willem de Kooning. Tudo indica que, por mais que eles fossem duas personalidades completamente distintas, foi amor à primeira vista. Dezesseis anos mais velho, um expressionista abstrato de primeira geração, Willem deu aulas de desenho para Elaine, que, por sua vez, veio a se tornar uma crítica de arte respeitada e, praticamente, a voz do movimento estadunidense. 

Muito do que se sabe sobre o relacionamento do casal é baseado no livro “Retrato de um casamento: as vidas de Willem e Elaine De Kooning” de Lee Hall. Segundo a biografia, Willem foi um professor bastante rigoroso e até grosseiro, que, por vezes, rasgava os trabalhos de Elaine quando não atingiam o potencial esperado. Já ela, ainda segundo Hall, acreditava ter recebido o melhor ensino possível.

Casados ​​em 1943, os Koonings tiveram uma espécie de relacionamento aberto por mais de uma década. No final dos anos 1950 eles chegaram a se separar, por um tempo, mas, em 1976, quando Willem já era mundialmente famoso e enfrentava problemas com alcoolismo, Elaine aceitou voltar a se aproximar e cuidar dele contra as distrações. Ela morreu em 1989, logo após a Galeria Fischbach fazer uma mostra de suas “pinturas rupestres”, enquanto Willem, acometido pelo mal de Alzheimer, continuou a pintar e sobreviveu por mais oito anos.

Françoise Gilot e Pablo Picasso

Françoise Gilot e Pablo Picasso em 1951.

Não é à toa que Picasso tem má fama a respeito de sua vida pessoal. Parece que por onde ele passava o caos era certo. Nos primeiros meses de relacionamento com Gilot, o espanhol estava envolvido com Dora Maar, com quem já havia traído Marie-Thérèse de Walter. Muitos apontam que o suicídio De Walter, em 1977, quatro anos após a morte de Picasso, teria sido impulsionado pelos traumas de seu relacionamento. Durante todos esses envolvimentos, Picasso nunca conseguiu se separar legalmente de sua primeira esposa, a bailarina russa Olga Jojlova, com quem o artista teve um filho, mas não se preocupou em comparecer em seu funeral quando ela morreu de câncer em 1955. 

Ufa! Acho que pudemos entender um panorama geral. Mas acho que vale dizer aqui que apesar de muitas das demais amantes terem sido artistas, Françoise Gilot foi a única que conseguiu se estabelecer não apenas como musa de Picasso, mas frequentemente o pintava também. Como ela relata em seu polêmico livro “Living with Picasso”, escrito em 1964 com o crítico literário Carlton Lake e que relata os comportamentos misóginos do pintor, eles se cruzaram pela primeira vez no restaurante Le Catalan, ponto de encontro de artistas, quando ela tinha apenas 21 anos e ele 61. A partir de então, a convite de Picasso, ela passou a visitá-lo em seu ateliê em Grands Augustins.

Os dois então desenvolveram uma relação de 10 anos e tiveram dois filhos, Paloma e Claudio. Depois que se separaram, Gilot começou a ter problemas com os donos de suas galerias, principalmente porque se casou com outro homem e teve outra filha. A artista veio a falecer no dia 06 deste mês, aos 101 anos, mas foi capaz de testemunhar a França, seu país natal, desenvolver um interesse, ainda que tardio, por suas gravuras e pinturas.

Jasper Johns e Robert Rauschenberg

Robert Rauschenberg e Jasper Johns

Em 1953, Robert Rauschenberg e Jasper Johns se conheceram em uma festa em Nova York e, após vários meses de amizade, os dois se tornaram parceiros românticos e artísticos. “Toda a minha área de arte sempre foi pensada para trabalhar com outras pessoas”, Rauschenberg refletiu certa vez. A carreira de seis décadas de Rauschenberg foi moldada por seus diálogos criativos e colaborações com outros artistas, dançarinos, músicos, escritores e engenheiros. 

Mas a colaboração Johns e Rauschenberg foi absolutamente marcante. Na época em questão, a cultura artística de Nova York era dominada pelo expressionismo abstrato, um movimento artístico de gestos expressivos originados da psique. Mas o casal não tinha interesse em expor tão escancaradamente paisagens íntimas de introspecção, por isso eles introduziram sinais, objetos e mídia do cotidiano em seu trabalho para criar um estilo visual distinto e codificado. 

No final dos anos 1960, Rauschenberg e Johns trabalharam com o célebre gravador Kenneth Tyler para criar trabalhos inovadores em litografia e serigrafia. O envolvimento experimental com os processos de impressão os tornou figuras importantes no renascimento da gravura nos Estados Unidos. 

Embora seu relacionamento terminasse em 1961, essa troca formativa repercutiu na arte eternamente: eles quebraram as linhas que separavam a cultura de massa e as belas artes, abriram caminho para a Pop Art e se tornaram dois dos artistas norte-americanos mais famosos do século XX. Pouco tempo depois, eles tiveram uma separação amarga e os biógrafos contam que não se falaram por anos. A causa não é bem sabida, mas o desconforto com a exposição da vida íntima era evidente: “o que era sensível e terno tornou-se fofoca”, disse Rauschenberg.

Gilbert & George

O italiano Gilbert Prousch e o inglês George Passmore descrevem sua relação profissional dizendo: “Não é uma colaboração… Somos duas pessoas, mas um só artista.” Os dois se conheceram enquanto estudavam escultura na St. Martin’s School of Art, em Londres, em 1967. Eles brincam dizendo que se uniram porque George era a única pessoa que conseguia entender o inglês “enrolado” de Gilbert.

Enquanto o mundo da arte ao seu redor no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 era amplamente caracterizado por Pop Art, Minimalismo e Arte Conceitual, Gilbert & George desenvolveram uma visão totalmente única e com um toque humorístico cativante, que visa a democratização de seus trabalhos. Diante das criações, o mais interessante não eram os objetos em si, mas a presença da dupla como “esculturas vivas” dentro das imagens. E, embora, criassem sua arte em uma variedade de mídias, eles consideravam tudo o que faziam como escultura: Esculturas Postais, Esculturas de Revistas, Esculturas de Carvão em Papel, Esculturas de Bebidas e Esculturas de Vídeo. O casal criou uma riqueza da linguagem artística de maneiras nunca imaginadas antes de sua união, integrando totalmente sua existência diária em sua filosofia artística.

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