Individual de Bruno Dunley marca a reabertura da Nara Roesler

Artista revela pinturas que marcam uma fase mais expansiva, experimental e viva

Como já comentamos por aqui, algumas galerias e museus do mundo inteiro começam a abrir o depois de cerca 7 meses com as atividades presenciais suspensas para evitar o contágio do COVID-19. A galeria Nara Roesler reabre as portas hoje com Virá, individual de Bruno Dunley, representado pela galeria desde 2012, com 8 pinturas e 12 desenhos. 

O título do trabalho que nomeia e exposição aponta para uma vontade de transformação dupla, tanto do país quanto do próprio trabalho: dias melhores virão a partir do esforço coletivo possibilitando uma renovação sócio-política no Brasil, enquanto sua potência pictórica também passa por uma metamorfose. “Fiz uma exposição em 2013 que me fez pensar várias coisas. As minhas pinturas pareciam muito estéreis, mudas. Sempre apoiada numa estrutura de imagens codificadas e numa paleta mais calma e neutra. “, explica o artista. “Depois que entendi que precisava buscar algo mais pulsante, começo a fazer muitos desenhos que estão na mostra e essa prática me ajuda na experimentação e a sair daquela narrativa cromática com tantos cinzas e brancos. Eu passei a me arriscar mais na paleta e a me libertar daqueles esquemas, o desenho  ajudou a me apoiar em outros tipos de estruturas e a construir um vocabulário mais revolto, aberto e vivo”, continua. 

Fuzileiro, de Bruno Dunley
Fuzileiro, de Bruno Dunley

É interessante notar que o processo de metamorfose do trabalho de Dunley caminha junto com momentos históricos e cruciais para o Brasil: na medida em que o país afunda transformando-se num cenário cada vez mais surreal, o artista ganha mais bravura e ousadia e seu trabalho revela-se mais potente. “Este processo de transformação do meu trabalho se acelera muito em 2016, no ano do golpe e de uma ruptura com o pacto social. Foi o período também do meu rompimento com uma dinâmica e estrutura específicas e também com um gosto comum no Brasil. Na medida em que as coisas no país tornavam-se mais absurdas, eu me sentia mais motivado para exercitar elaborações mais expansivas.”, explica o artista que considera a mostra Virá como um marco desta nova conquista pictórica. “Considero que estou chegando em outro lugar no meu trabalho, tem menos angústia e ansiedade – transformei esses sentimentos em linguagem do trabalho”, conclui. O título, portanto, apresenta um duplo impulso de metamorfose: o da tradição pictórica e da sociedade – sempre em busca de futuros possíveis. Espere encontrar, portanto,  pinturas mais expansivas onde as cores e os gestos se combinam numa dança mais agitada e alegre, além de desenhos com caráter mais intimista. Bruno segue explorando os limites entre a figuração e abstração, de uma forma mais madura e sem medos.  

Every Hour, de Bruno Dunley
Every Hour, de Bruno Dunley

Os títulos são sugestivos, não mais descritivos. Eles fazem referência às músicas que acompanham o artista desde sua infância, aludindo a uma relação afetiva, evocando o próprio momento de produção do trabalho no isolamento do ateliê. Para arrematar esta relação entre o trabalho no ateliê e a música,  o artista também criará uma playlist em colaboração com a DJ Bia Sankofa, buscando compartilhar um pouco da atmosfera de seu processo criativo por meio da música.

O Contador, desenho de Bruno Dunley
O Contador, desenho de Bruno Dunley

Em outubro a Galeria Nara Roesler disponibilizará em suas plataformas digitais o download gratuito de uma publicação virtual com imagens de trabalhos produzidos entre 2018 e 2020, além de material crítico inédito sobre a produção do artista. Em 2017, a APC, braço editorial da galeria, havia lançado o primeiro livro dedicado ao trabalho de Dunley. Esta publicação digital busca dar continuidade ao livro lançado anteriormente. A edição contará com uma introdução de Luis Pérez-Oramas e com a transcrição de duas conversas entre Dunley, José Augusto Ribeiro, curador da Pinacoteca de São Paulo, e o artista Alexandre Wagner. O primeiro desses encontros aconteceu durante a preparação da mostra, no ateliê do artista. O segundo encontro ocorrerá galeria, após a montagem da exposição. A discussão será conduzida diante dos trabalhos, estabelecendo uma conexão, ainda que indireta, entre o espaço individual do ateliê e a dimensão coletiva da galeria. 

Os encontros também serão disponibilizadas em dois episódios no podcast da Galeria Nara Roesler, permitindo a ampliação do debate sobre seu trabalho e seu processo, abordando temas como sua carreira, as influências presentes em seu trabalho, o lugar da pintura na arte contemporânea, a dimensão do gesto e a relação entre corpo. 

Virá

Data: 30 de setembro até  21 de novembro, 2020 

Local: Galeria Nara Roesler 

Endereço: Av. Europa, 655, Jardim Europa, São Paulo – visita com hora marcada

Vista da exposição Virá, de Bruno Dunley
Vista da exposição Virá, de Bruno Dunley
Vista da exposição Virá, de Bruno Dunley
Vista da exposição Virá, de Bruno Dunley
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