Livros AQA: As Impurezas Extraordinárias de Miriam Inez da Silva

Publicação capitaneada pela Almeida e Dale Galeria de Arte traça, de forma inédita, panorama sobre vida e obra de Miriam Inez da Silva; livro será lançado no dia 27 de fevereiro

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A edição impressa de “As Impurezas Extraordinárias de Miriam Inez da Silva”. FOTO: Sergio Guerini

Como desdobramento da exposição individual de Miriam Inez da Silva que a Almeida e Dale Galeria de Arte realiza até o dia 27 de março, está sendo lançado um livro que desenvolve diversos pontos da trajetória da artista. Sob o título As Impurezas Extraordinárias de Miriam Inez da Silva, homônimo à mostra, a publicação bilíngue (português e inglês) com mais de 200 páginas complementa e dá ainda mais força ao objetivo da exposição, que resgata a artista do apagamento histórico que sofreu e a afasta do rótulo da “ingenuidade” que foi atribuído a ela ao longo dos anos.

O volume, que terá lançamento no dia 27 de fevereiro (das 10h às 16h na galeria), é iniciado por vistas da exposição montada na galeria, evidenciando as pinturas em diversos tamanhos e formatos que Miriam produziu, além de algumas gravuras e um espaço documental. Ao longo das páginas, há também a reprodução individual de várias obras que não necessariamente estão integram a mostra, mas que também são muito importantes para a compreensão das particularidades, da profundidade e da grandeza que fazem parte da trajetória da artista.

A capa da edição realizada pela Almeida e Dale Galeria de Arte. FOTO: Sergio Guerini

Abrindo os textos, o curador Bernardo Mosqueira discorre sobre como a mostra foi concebida, elencando os processos, um por um, que foram cumpridos até que tudo fosse documentado neste livro. Isso percorre desde o momento que se deu conta da existência da produção de Miriam até as entrevistas realizadas para a compreensão de questões complexas em torno da artista e também a localização da filha de Miriam, pessoa crucial para o progresso da pesquisa.

A apreciação do livro pode ser feita a partir de três responsabilidades pontuadas por Mosqueira, que foram assumidas ao desenvolver esta publicação: 1) “corrigir dados equivocados e repetidos à exaustão em textos e arquivos sobre Miriam”; 2) “compartilhar uma leitura alternativa de sua obra, que parte da relação com os trabalhos em si, e não das classificações impostas a eles” e 3) “prover o máximo possível de acesso a dados, documentos, relatos e imagens de obras da artista, com o desejo de facilitar futuras pesquisas e o surgimento de outros debates”.

Miriam Inez da Silva, Nossa Senhora, 1984

Este ensaio introdutório escrito pelo curador também mergulha na biografia da artista, que é indispensável para a percepção do porquê há um equívoco muito grande ao colocá-la em um parâmetro da “ingenuidade naif”, e isso não se limita ao fato de que essa rotulação é preconceituosa, mas também porque sua trajetória não condiz em nada com esse indicador problemático, que partiu de considerações feitas pela crítica ao longo dos anos em relação a temas tratados por ela e também às técnicas que utilizou em sua produção.

Desta forma, são trazidos por esse primeiro texto marcadores históricos da vida de Miriam que foram muito importantes para sua carreira. Junto a referências bastante acessíveis trazidas pelo curador, eles servem como pontos-chave para complementar a ideia de “intenção, malícia, impureza e transgressão” que a exposição que dá origem ao livro já buscava evidenciar.

Miriam Inez da Silva, Título desconhecido, 1990

Os textos seguintes – escritos pela filha de Miriam, Sofia Cerqueira, e pelos curadores e pesquisadores Kiki Mazzucchelli, Marcelo Campos e Ana Clara Simões Lopes – firmam com mais profundidade vários pontos que são abordados por Mosqueira anteriormente. Sofia adentra mais especificamente a vida de Miriam, dando um aspecto de intimidade e também de bastante curiosidade ao livro, trazendo um toque pessoal e intrigante desde o título do texto, A vida livre de minha mãe, Miriam Inez da Silva. “Diferentemente de muitas mulheres de sua geração, Miriam não se deixava ser enquadrada num modelo preestabelecido ou ser presa a preconceitos. No seu universo de amigos cabiam artistas, intelectuais, marchands, críticos, mas também donas de casas, senhorinhas até o feirante da esquina. Ah, ainda convivia com figuras livres de rótulos, como ela própria. Lembro de chegar ao edifício onde morávamos e ver um homem de cabelos longos e maquiado entrando na portaria e pensar: ‘deve ser lá para casa’. E era.”, escreve.

Já Kiki Mazzucchelli fala com mais especificidade do universo da arte naïf, a partir de uma digressão na qual relata sua experiência como curadora da 11ª edição da Bienal Naïfs do Brasil, que aconteceu em 2012. Nessa exposição, ela teve pela primeira uma experiência com esse campo da arte, na qual, de acordo com ela, pode colocar finalmente em prática reflexões que já fazia sobre “os supostos limites entre arte popular e contemporânea”. Em seguida, a curadora se volta à produção de Miriam, comentando o conjunto de obras da artista a partir de uma ótica crítica.

Página de abertura do texto de Marcelo Campos para o livro. FOTO: Sergio Guerini

Em Miriam Inez: Zonas insubmissas, Marcelo Campos faz uma leitura um tanto poética da produção Miriam e também do lugar realmente habitado pela artista em sua trajetória, de modo que sua vida e obra estejam sempre em confluência. Em um dos trechos, ele diz: “A arte de Miriam ocupa certo limiar entre fantasia e banalidade, traz algo não somente imaginado, uma vez que ao lermos dados biográficos da artista, esse algo surge tendo sido muitas vezes vivido por ela e seus amigos: um modo de agir na vida e de acreditar na possibilidade de subversão às normativas convencionais”.

Antes de uma extensa coleção de imagens de obras da artista, o texto de Ana Clara Simões Lopes, que foi assistente de Mosqueira na curadoria da exposição, narra sobre o material que foi agrupado durante o processo de pesquisa para a mostra (e para o livro!). Ela define o texto como uma “metabolização da extensa coleção documental reunida em vida por Miriam Inez da Silva”, que, para ela, fez um trabalho que viria a tornar mais fácil o trabalho de quem se interessasse em saber mais sobre a artista no futuro.

Para adquirir o livro na versão impressa, entre em contato com a Almeida e Dale Galeria de Arte. A versão digital está disponível na página de Publicações no site da galeria.

Aproveite também para visitar a exposição de Miriam na galeria. Para isso, deve ser feito um agendamento clicando neste link ou contatando a galeria pelo telefone (11) 3882-7120 ou pelo e-mail recepcao@almeidaedale.com.br. A entrada gratuita seguindo todos os protocolos de segurança.

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